Incompreendidos do Carnaval jaraguaense: criando as melodias do samba

Ivanildo veio do berço do Carnaval para espalhar o samba em Santa Catarina | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Gustavo Luzzani

01/03/2019 - 09:03 - Atualizada em: 01/10/2019 - 09:16

“Samba no pé, bola no pé, ninguém te enfrenta, somente o Brasil é penta”, quando a seleção brasileira se sagrava pentacampeã mundial, Ivanildo de Souza Pinto, de 63 anos, criava o primeiro samba-enredo de Jaraguá do Sul, em 2002.

Desde então, a maioria das músicas de samba que foram escutadas nas ruas jaraguaenses tem o enredo de Ivanildo.

E a paixão pelo Carnaval começou cedo – ele foi criado em um subúrbio do Rio de Janeiro, dentro de uma comunidade que respira a festa e suas músicas populares. “O samba flui naturalmente no Rio, é uma coisa que já está no sangue do carioca”.

Ivanildo via seus irmãos saindo para as rodas de samba e pagode. O tio, que tocou cuíca na Portela por 30 anos e o primo que era diretor da mesma escola de samba, são referências.

No meio desse clima, diz o multicampeão de atletismo, era impossível não se encantar pela música e pela alegria externada no Carnaval e suas fantasias.

Criando as melodias

O carioca chegou em Jaraguá do Sul em 1989 e o samba adormeceu em sua vida, mas não foi por muito tempo. Em 2002, ele foi convidado pela escola “Samba no Pé” para fazer o primeiro samba-enredo de Jaraguá do Sul.

A Copa do Mundo foi a grande inspiração para a música que Ivanildo tem o prazer de cantar até hoje. Ele diz que a alegria pela conquista uniu um povo inteiro e o samba transmitiu o contexto.

Depois, em 2012, a presidente da escola “Em Cima da Hora”, Iracema Pinheiro, convidou Ivanildo para fazer um samba-enredo sobre sustentabilidade, o problema é que faltavam apenas 20 dias para o Carnaval.

Mas ele não só conseguiu terminar a composição a tempo, como ganhou o Estandarte de Ouro. “Vou cantar, vou sambar, eu vou sambar, vou sambar para valer, você vai ver, mas antes que eu esqueça vou cuidar do meu planeta para poder viver feliz”, diz o começo música.

Mais união e conhecimento

Para Ivanildo, o preconceito enfrentado pelo Carnaval na região é nítido e surge devido à falta de conhecimento das pessoas, que comentam sobre a festa sem conhecer a história por trás dela.

Ele acredita que para o Carnaval alavancar em Jaraguá do Sul é necessária uma união maior dos sambistas, pagodistas e amantes da festa, algo que acontece em sua cidade Natal. “É preciso fazer uma associação dos sambistas jaraguaenses para ter mais voz. Organizar todo mundo”, enfatiza.

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Ivanildo acredita que com esse laço seria possível fazer mais eventos na cidade sobre samba e pagode, para o Carnaval ser só mais um evento do gênero, e não o único. Ele cita a maior festa de atiradores do Brasil como exemplo de engajamento.

“A Schützenfest tem muito mais gente ajudando e menos atrapalhando. No Carnaval as pessoas tentam atrapalhar o desenvolvimento de samba na cidade”, avalia.

Roda de samba

A secretária de Cultura, Esporte e Lazer, Natália Petry, convidou Ivanildo para realizar uma roda de samba e pagode que irá anteceder o baile de Carnaval de Jaraguá do Sul, que acontece no próximo sábado (2), no Parque Municipal de Eventos.

Além de convidar o grupo “Desejo Constante” para tocar com ele, a ideia é colocar o seu Peri Querino, primeiro personagem da série “Incompreendidos do Carnaval”, para subir ao palco. “Ele é um símbolo do Carnaval na região. A população vai gostar e é importante valorizar as pessoas”, destaca.

A roda vai acontecer das 19h às 22h e Ivanildo afirma que todas as pessoas que chegarem com um instrumento e quiserem tocar, poderão subir no palco e fazer uma canjinha com eles. “Roda de samba é isso, quem souber tocar, cantar e dançar participa junto”, diz sorrindo.

Em 2017, Ivanildo teve um câncer na glândula salivar e precisou de intervenção cirúrgica. Naquele 2 de outubro, a primeira coisa que ele fez ao acordar foi tentar mexer os dedos da mão esquerda. Quando percebeu que a locomoção continuava, o alívio tomou conta de sua cabeça.

“Nesse momento eu percebi que podia continuar tocando”, comemora.

 

 

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