Filas na BR-280 afetam a vida de milhares de motoristas e afastam investimentos

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Elissandro Sutil

15/11/2018 - 12:11 - Atualizada em: 15/11/2018 - 12:48

Por Pedro Leal e Adrieli Evarini

Faça chuva ou faça sol, a fila que se forma na BR-280 não falha. Aliás, nos dias de chuva, fica ainda maior.

Esse cenário já faz parte do cotidiano de quem trafega diariamente pela rodovia que liga Joinville a Guaramirim e Jaraguá do Sul, trajeto muito comum entre trabalhadores que fazem o intercâmbio entre as cidades, de lá para cá e daqui para lá.

A duplicação da rodovia está prometida há 10 anos, sem sinal de conclusão à vista. O trecho urbano da obra foi estadualizado em 2015, mas o governo do Estado pausou as obras em 2017, alegando falta de recursos e não oferece estimativa da conclusão.

Os carros começam a se aglomerar nas primeiras horas da manhã, em função do horário de trabalho de indústrias e comércio.

Por volta das 7h, o trecho urbano da rodovia que se estende por cerca de nove quilômetros entre a chamada Ponte do Portal e o entroncamento de acesso à rodovia do arroz, já registra filas consideráveis. O percurso que poderia levar cerca de 10 minutos pode durar mais de 40.

Na terça-feira, a reportagem seguiu a rodovia até a altura do acesso à Guaramirim, em meio a um trânsito crescentemente sobrecarregado em direção à Rodovia do Arroz.

Foto Eduardo Montecino/OCP News

O engarrafamento já começava na altura do Frontal. Se aproximando da saída de Jaraguá do Sul, o primeiro gargalo: a ponte sobre o rio Itapocuzinho comprimindo o já congestionado trânsito saindo de Jaraguá do Sul.

O fluxo intenso da tarde impediu a reportagem de seguir adiante. A altura do trevo de Guaramirim, o cruzamento de múltiplas rotas resultava em longas filas conforme motoristas esperavam por uma abertura para acessar a rodovia.

A reportagem voltou ao trecho, seguindo até a altura do KM 50, na tarde de quarta-feira, no horário do início da tarde, marcado pelo congestionamento da saída de funcionários.

Embora a ida tenha sido tranquila, na volta foram encontrados problemas: o breve trecho entre o posto Rudnick, em Guaramirim, e o trevo de acesso da cidade – um espaço de 4,3km – levou cerca de meia-hora para ser feito.

O congestionamento é mais grave nas sextas-feiras – a viagem para Joinville, tomada semanalmente pelo repórter Pedro Leal, que em condições ordinárias levaria pouco menos de uma hora, se realizada entre o meio e o final da tarde de sexta-feira, chega a levar duas horas ou mais – a maior parte destas, perdidas na 280, tentando acessar a BR-101 – também sujeita à congestionamentos, em menor volume -ou a Rodovia do Arroz.

A experiência não é um caso isolado: segundo o diretor de logística da WEG, Clecio Fábio Zuco, o trânsito cotidiano tem causado atrasos de meia hora nos caminhões para Joinville – e caminhões que saem às 18h tem chegado à cidade por volta das 20h em dias de semana, viagem que em condições ideais levaria uma hora ou menos.

Duplicação é sonho distante

Para o autônomo Ivan Casagrande, de 38, é impensável aceitar o descaso com o qual o trecho é tratado pelos governos federal e estadual.

Morador de Massaranduba, Casagrande trafega diariamente e em horários diversos pela rodovia devido ao trabalho e conta que embora os horários de pico intensifiquem a fila, ela não tem hora para se formar.

A experiência é “irritante”, define. “Eu já fiquei uma hora em um trecho de menos de 10 minutos, isso é vergonhoso”, relata.

O autônomo garante que a duplicação é a solução ideal, mas admite que não tem esperanças de vê-la concretizada, ainda mais levando em consideração que as obras tiveram início e logo pararam.

“A duplicação tem que sair, mas a obra do viaduto já parou. Aliás, nem começou e já parou. Por que começam uma coisa sem planejamento?”, indaga.

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Assim como Casagrande, o motorista Paulo Sérgio Moreira, de 48 anos, também perde boa parte do tempo nas longas filas que se formam no trecho urbano da BR-280. Morador de Guaramirim, ele aponta o trecho entre o acesso à Rodovia do Arroz e o trevo de acesso à Massaranduba como o mais complicado.

Além disso, segundo o motorista, não há dia nem hora para “tudo parar”. “É péssimo. Eu passo o dia inteiro por aqui e em 80% do tempo é essa fila, é ruim o dia todo, até no domingo”, garante.

Na casa de Jordana Serpa, de 27 anos, ninguém ousa se atrasar. Todos os dias ela sai de Guaramirim para levar as duas filhas à escola, em Jaraguá do Sul e é pontual: 6h45 todo mundo sai de casa, se atrasar, o trajeto parece ficar mais longo, garante.

“Saio 6h45 e chego 7h15 na escola, saio do Guamiranga e entro na rodovia pelo trevo do Avaí. Não posso me atrasar, se sair 7h de casa, levo muito mais tempo para chegar devido ao trânsito”, relata. “É um trecho que demora muito, é muito trânsito, muito movimento”.

Acidentes são comuns

A combinação de tráfego intenso, falta de passagem para pedestres, violações de trânsito, sinalização inadequada e trechos com conservação aquém do ideal – o trecho estadualizado foi considerado “péssimo” pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) – tem marcado a rodovia, com um grande número de acidentes.

No ano passado, o trecho que sai de Jaraguá do Sul até o porto de São Francisco foi marcado por 523 feridos e 17 mortos em acidentes de trânsito – e 14 destas mortes ocorreram no curto espaço entre Jaraguá do Sul e Guaramirim.

A dona de casa Cleonilde dos Santos, de 27 anos, por muito pouco não entrou para esta estatística. Moradora de uma das vias que saem da rodovia, ela quase foi atropelada enquanto voltava para casa.

“Eu estava com a minha filha menor e o carro parou quase em cima de mim, as pessoas já estavam gritando ‘ele vai matar a mulher’!, foi bem assustador”, conta.

Ela critica não apenas a demora nas obras, mas a falta de vias para pedestres no trecho mais urbanizado da rodovia. “Não tem por onde a gente passar, ou a gente se arrisca na beira da estrada ou passa pelos terrenos e pelo mato, e os motoristas parecem que não se importam”, diz.

Acompanhada de duas das filhas e de outra parente, após falar com a reportagem, Cleonilde teve que encarar o desafio de atravessar o trevo de Guaramirim em meio ao horário de pico.

O casal de empresários Ailton Missioneiro, o Magrão, 47, e Rita Wilbert, 51, também tem memórias com acidentes na via. “Meu filho mais velho, de 24, esteve em um acidente de moto aqui na frente da empresa. Estava saindo quando foi atingido por um carro e jogado pra outra pista”, conta Rita.

Traumatizado pela experiência, ela conta que o rapaz hoje só anda de carro. Missioneiro destaca que não é raro testemunhar acidentes na rodovia.

O casal também reforça a experiência de atrasos e congestionamentos na via. “De manhã, vindo para o trabalho, a gente vê muita gente parada vindo para a cidade.

Na hora de voltar para casa, às 18h, é no sentido contrário, e tem dias que é difícil ter acesso para poder voltar pra casa”, conta Missioneiro.

Para empresariado, situação é grave

A WEG é uma das empresas que tem sido prejudicada tanto logística quanto operacionalmente pela situação da rodovia, admite o diretor, Clecio Fábio Zuco.

“Há um prejuízo significativo de tempo, principalmente nos horários de troca de turnos, meio-dia e fortemente no fim da tarde. Além de afetar o transporte de cargas, afeta muito as pessoas que vem trabalhar e que voltam para casa”, comenta.

O diretor de logística ressalta que a situação tem causado perdas imateriais valiosas a quem precisa passar pela rodovia. “Já pensou quantas horas da vida das pessoas são gastas no trânsito? Poderiam estar trabalhando ou curtindo algo que gostam neste mesmo tempo, como família e lazer.”

O presidente da Acijs, Anselmo Ramos, destaca que os reflexos que a demora na duplicação trazem tanto ao setor produtivo quanto aos demais usuários que têm a rodovia em seus trajetos diários, já são amplamente conhecidos.

O presidente da entidade empresarial lembra que um dos pontos mais preocupantes para Jaraguá do Sul e municípios no entorno da rodovia é o trecho entre o entroncamento com a Rodovia do Arroz e a entrada na cidade, que ele lembra já foi estadualizado, mas ainda continua sem solução.

“Resolver esta questão é um movimento que deve feito junto ao governo do Estado, para que a futura administração se debruce sobre o tema. Mas isto só pode ser feito depois que forem definidas as pautas prioritárias esta nova gestão”, pondera Ramos.

O empresário entende que é preciso aguardar as definições de encaminhamentos que o governo fará em relação às prioridades na área de infraestrutura para que se conheça os planos da nova gestão pública em relação à BR-280.

 

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