Educação que transforma: alunos encontram nova forma de encarar a matemática

Professora do quarto ano, Jaqueline usa atividades lúdicas para ensinar sobre frações aos estudantes. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Elissandro Sutil

04/08/2018 - 05:08 - Atualizada em: 04/08/2018 - 16:50

Neste sábado (4), o OCP News lança a série de reportagens com iniciativas transformadoras que estão sendo aplicadas nas escolas municipais, públicas e privadas da microrregião. 

As novas propostas não tratam apenas sobre os mecanismos tecnológicos em si, mas também diferentes formas de apresentar o velho e bom conteúdo. Quem tiver interesse em contribuir com a série, pode entrar em contato pelo e-mail dyovana@ocpnews.com.br.

Nos degraus que levam às salas de aula, nas paredes, jardins e na ponta da língua das crianças. A matemática está por todos os cantos do Centro Educacional Loni Emmendoerfer, no bairro Barra do Rio Molha.

A disciplina, vista por muitos como o maior pesadelo do ensino fundamental e médio, é encarada como um desafio apaixonante pelos alunos da instituição.

A dedicação trouxe bons resultados. No ano passado, os alunos do quinto ano ganharam medalha de ouro na etapa estadual e medalha de prata na nacional da Olimpíada Internacional de Matemática Sem Fronteiras.

Assim, a escola foi a única de Jaraguá a entrar no ranking nacional da competição, com participação atual de cerca de 244 mil pessoas. Neste ano, a Loni Emmendoerfer conquistou a prata nacional com o quarto e quinto ano, que também repetiu o ouro estadual.

Os avanços, maiores a cada ano que passa, foram alcançados por meio de um projeto interdisciplinar da escola, que envolve a matemática em todas as matérias inclusas na grade curricular.

Resultados na competição animaram ainda mais os alunos. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Conforme a coordenadora bilíngue e professora da instituição, Sandra Ludero, com os resultados da primeira participação em 2017, a equipe pedagógica avaliou onde podia melhorar.

“Procuramos saber o motivo para os alunos não terem conseguido desenvolver as questões que erraram”, explica Sandra.

Os professores passaram a inserir ainda mais a disciplina no dia a dia da escola, mas de uma forma lúdica e prática, para facilitar a compreensão das crianças.

O objetivo não são os resultados na competição, mas sim, o aprendizado. “Desta forma, os alunos vão sair daqui dominando todos os conteúdos”, aponta a coordenadora bilíngue.

Com as medalhas deste ano na disputa, um grupo de alunos foi convidado para fazer parte da delegação brasileira na Olimpíada Internacional de Matemática da Ásia, que começou nesta sexta-feira (3) e segue até a próxima terça, na cidade de Bangkok, na Tailândia.

Alunos como Matheus (E), Milena e Laura Lotito, têm a matemática como a melhor disciplina. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

No entanto, como a direção do centro educacional foi avisada sobre a participação com apenas um mês de antecedência, o grupo de alunos e professores não conseguiu levantar os valores suficientes para custear a viagem até à Tailândia.

“É um período curto e para uma escola privada é mais difícil fazer uma campanha de arrecadação de recursos. Nós queríamos levar as crianças, seria uma experiência de intercâmbio incrível, mas infelizmente não deu tempo”, relata Sandra.

Ela também completa que os alunos  ficaram muito felizes com o convite e que a classificação acabou motivando ainda mais as turmas.

“O simples fato que participar da etapa nacional e estadual também os inspira pela busca de resultados”, avalia.

De três a 15 pessoas poderiam representar a escola na competição. A etapa feita no Brasil foi em grupo, com uma avaliação que levava em conta o resultado e o desenvolvimento da questão. Na Olimpíada Internacional de Matemática da Ásia, as provas são individuais.

A matemática em todas as partes

Até nos conteúdos de inglês, os alunos do Centro Educacional Loni Emmendoerfer aprendem matemática. E por incrível que pareça, isso não é um problema para as crianças que estudam ali.

“Matemática é minha matéria preferida. Uma vez mudei para artes e educação física, mas agora é matemática de novo. O que eu mais gosto são as divisões”, declara o pequeno Matheus Ropke Boa-hora, 9 anos, estudante do quarto ano do ensino fundamental.

Para a coordenadora pedagógica Bárbara dos Santos, o resultado desta integração de diferentes disciplinas é que os alunos conseguem absorver mais de um conteúdo em uma aula.

“Hoje, as crianças estão inseridas em uma realidade diferente, não tem como separar as matérias”, observa Bárbara.

Crianças são estimuladas a aprender sobre os números em todos os cantos da escola, incluindo os jardins e corredores. | Foto Eduardo Montecino/OCP News

A coordenadora Sandra Ludero considera que “a matemática, antes da conta, é interpretação”.

“Precisa saber ler, considerar a pontuação, e esse é um grande problema atualmente. Muitas crianças não conseguem tirar as informações básicas de um problema para resolver”, destaca Sandra.

Outro diferencial aplicado na metodologia da escola é trazer para dentro da sala de aula o que os alunos gostam ou querem aprender. Um exemplo citado por Sandra foi que há algumas semanas, a turma queria saber como se formavam as cores das estrelas.

“Eu não dei a resposta, mas mostrei os caminhos para eles encontrarem sozinhos. O aprendizado fica bem mais interessante desse jeito”, observa Sandra.

O que Sandra diz vai de encontro a outro consenso que pauta a equipe da Loni Emmendoerfer: o de valorizar o raciocínio e desenvolvimento das questões, e não apenas os números.

“Existem vários caminhos para chegar no resultado, e nós queremos ver a construção do pensamento do aluno, avaliar esta etapa. Às vezes, eles podem pensar em lógicas que nós nem imaginamos”, enfatiza Sandra.

A escola também aposta em exercícios extras após as avaliações. Quem acaba as tarefas mais cedo, pode seguir para a bônus. Conforme as coordenadoras, até os que concluem as avaliações mais tarde pedem para fazer os exercícios seguintes.

“As crianças estão bem mais agitadas, querem novos desafios a todo momento, e nós como escola precisamos andar junto deles. Isso os ajuda a enriquecer o vocabulário e desenvolver o raciocínio, com um pensamento mais amplo sobre a educação”, pontua Bárbara.

A diretora do centro educacional, Sirlei Junckes, frisa que “é importante olhar para a criança e proporcionar estímulo a ela”.

Alunos aprovam método

A professora Jaqueline Mendes Peixeira está ensinando para os alunos do quarto ano sobre as frações. Antes de ir para a prática, ela introduz o conteúdo de uma forma lúdica.

“Para falar das frações, usei uma barra de chocolate, com os quadrados demarcados. Também utilizamos o Lego e outras dinâmicas que fazem os alunos assimilarem com maior facilidade o que estamos falando, antes de propor as atividades”, relata Jaqueline.

O jeito de ensinar e aprender, conforme o estudante Matheus Boa-Hora, é mais divertido e fácil. Cursando o 4º ano, ele comenta que agora está tendo lições de frações em inglês. “Eu acho muito legal”, garante.A colega Milena Webber de Lima, 10 anos, do 5º ano do ensino fundamental, acredita que a metodologia deixa a matemática mais clara e compreensível, principalmente para as crianças menores.

Da disciplina, ela diz que gosta de solucionar as questões, em especial os de divisão. Os alunos também declaram que estão ansiosos para as próximas provas e competições.

Centro educacional fica no bairro Barra do Rio Cerro. | Foto Arquivo OCP News

Fundada em 2007, a Loni Emmendoerfer atende crianças de quatro meses até dez anos de idade em Jaraguá do Sul.

O centro educacional conta com aulas de natação, teatro, karatê, culinária, musicalização, dança, ioga, cuidados com uma horta e até a criação de pequenos animais domésticos.

Toda estrutura da Loni Emmendoerfer é baseada na filosofia do pedagogo francês, Celestin Freinet, que acreditava que a educação não pode ser vista como uma fórmula da escola, mas sim como uma obra da vida. Seguindo este pensamento, nada é feito de maneira imposta e inflexível.

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