Conheça as histórias de estrangeiros que vivem em Jaraguá do Sul

Por: Gustavo Luzzani

26/04/2018 - 12:04

Esperança, investimento, catástrofe, família ou fé. Os motivos para alguém largar tudo e se mudar de país são muitos. Essas foram algumas razões que fizeram estrangeiros escolher Jaraguá do Sul como destino.

Japão e Brasil: uma história de idas e vindas

A família Kiyama tem uma forte ligação com o Japão. Tudo começou em 1934, quando o país asiático estava em caos devido aos conflitos com a China, que culminou na Segunda Guerra Sino-Japonesa. A família então decidiu se mudar para o Brasil. Mituhiro Kiyama nasceu em São Paulo, antes de se mudar para Jaraguá do Sul, onde teve sua filha Midori.

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Por oportunidades de emprego, a família embarcou novamente ao Japão. E foi no país asiático que Midori teve seus dois filhos, Larissa e Vinícius Kiyama Sato, hoje com 10 e 11 anos respectivamente. Pouco tempo após o nascimento dos dois, a família voltou para Jaraguá do Sul.

Mituhiro Kiyama aproveitando o inverno no Japão | Foto Divulgação

Apesar de gostar da cidade, Midori sente muita falta do Japão “Cultura, economia, tecnologia e, principalmente, educação dão de mil a zero no Brasil”, revela. Além disso, ela sofre com a ausência de um ambiente mais calmo, religioso e dos costumes do Japão.

“É bonito ver qualquer tradição mantida, mas a mistura de raças contribuem para o enfraquecimento delas. Mesmo no Japão, as misturas estavam diminuindo um pouco os costumes do país”, completa Midori.

Mituhiro passeando pela capital do Japão, Tóquio, em 2004 | Foto Divulgação

Ela confessa que a única coisa que a prende no Brasil é a família, pois senão já teria arrumado as malas com rumo ao país asiático.

O investimento que mudou tudo

Em Okeechobee, Estados Unidos, Jaime Ramos recebeu um chamado de seu pai para acompanhar um sítio que ele estava investindo em Jaraguá do Sul. A passagem pelo Brasil era para durar poucos meses, mas o americano já está há quase oito anos na cidade.

“Eu fiquei em Jaraguá do Sul por causa das pessoas. O povo é mais amoroso, mais carente, a gente conversa e ao mesmo tempo se diverte mais. Nos Estados Unidos, o pessoal é mais frio”, destaca.

Jaime criou sua própria escola de inglês, onde da aula para mais de 30 alunos | Foto Eduardo Montecino

Além de se identificar com os brasileiros, Jaime também enxergou uma grande oportunidade no meio profissional. “No meu país natal, eu seria só mais um americano, aqui eu tenho muito mais procura pela questão da língua inglesa”, comenta.

Seguindo essa linha de raciocínio, o americano começou a dar aula de inglês. Porém, foi em novembro de 2016 que ele alcançou seu sonho: criou sua própria escola de inglês, a EnglishFluent. Hoje, ele tem certificado para dar aula internacionalmente.

O americano apreendeu a falar português no dia a dia, saindo com os amigos e “passando vergonha”, como gosta de dizer. Em uma dessas saídas, conheceu a brasileira Leonica Santos, sua noiva.

Como qualquer americano, Jaime adora beisebol e é treinador do Jaraguá Shooters | Foto Divulgação

“Jaraguá do Sul é incrível, é muito mais organizada do que as demais cidades brasileiras”, conta. Porém, Jaime vê problemas no Brasil em questões como qualidade de vida, estrutura e principalmente serviço público. “Nos Estados Unidos, paguei 25 dólares para fazer minha carteira de motorista e recebi em um dia. Aqui tudo é demorado e caro”, aponta.

Em busca de uma vida melhor

A situação estava difícil em Quillacollo, no departamento de Cochabamba, na Bolívia. Vivendo com o baixo salário e a falta de oportunidades, César Lafuente, 35, já não tinha mais forças para seguir em sua terra natal.

Em 2010, o boliviano, sua esposa, Carla Lafuente, 31, e seu filho, Ignácio Lafuente, de um ano na época, partiram para o Brasil, tendo como primeiro destino Fortaleza. O clima e as comidas da cidade dificultaram a adaptação de César, que se manteve por três anos no Ceará.

César Lafuente gosta de aventura e aproveitou para tirar foto com os animais de “estimação” da África do Sul | Foto Divulgação

Em 2013, a segunda jornada em busca de um emprego melhor trouxe a família boliviana para Jaraguá do Sul. E não demorou muito para César conseguir se firmar na cidade catarinense. Hoje, ele trabalha como engenheiro eletrônico. Mesmo que o boliviano tenha alcançado seu objetivo, ainda falta algo de sua cidade natal: a família.

“É difícil ficar longe dos pais. Agora, eles estão velhos e o meu desejo é voltar para a Bolívia e cuidar deles”, salienta César.

O boliviano garante que a família é a única coisa que fará ele sair de Jaraguá. “A cidade é maravilhosa, organizada e aqui conseguimos estabilidade para sonhar alto.” destaca.

Reconstruindo um sonho

12 de janeiro do 2010, parecia mais um dia normal na vida corrida do haitiano François Louis, 40. Cursando o quarto ano de Engenharia Agroflorestal, François estava em uma localidade no interior quando seu país foi devastado por um terremoto.

Sem esperança, o haitiano, sua esposa, Pelina Jean, e os dois filhos, foram obrigados a enfrentar uma jornada perigosa para encontrar um novo lar fora de sua terra natal. A travessia começou em 2013 na República Dominicana, passando pela Colômbia, Equador, Peru e chegando no Brasil pelo Acre. Finalmente, terminando em Jaraguá do Sul, no fim do 2014.

Em 2015, nasceu em Jaraguá do Sul o terceiro filho do casal, a menina Carmsherle Bruna Louis. A filha de haitianos ainda vai demorar um tempo para entender o que aconteceu em 2010, na terra de seus pais. No mesmo ano do nascimento de sua filha, François criou a Associação de Movimento Social para Reunião dos Haitianos no Brasil.

François montou time formado por haitianos em Jaraguá do Sul | Foto Eduardo Montecino

Em fevereiro de 2018, a Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul aprovou o projeto de lei que reconhece a Associação dos haitianos como entidade pública, algo comemorado por François.

“Queremos dar apoio a todos os estrangeiros que venham para Jaraguá, seja do Haiti ou de qualquer outro país”, enfatiza.

O haitiano passou na pele o que é chegar em um país desconhecido sem nada, com o bolso vazio, apenas com a família e a esperança de que algum dia possa descansar sabendo que quando acordar terá alimento para ele, esposa e filhos.

François trabalhou na construção de um supermercado em Jaraguá e agora está trabalhando em uma empresa de elásticos. Hoje, ele mora em uma casa alugada, junto com a esposa e os três filhos, dois deles frequentam a escola na rede municipal.

Seguindo o caminho da fé

Gary Douglas Trometer e sua família viviam em Chicago, no estado do Illinois, Estados Unidos, quando vieram ao Brasil como missionários da Igreja Batista. Gary continuou trabalhando em três igrejas de Porto Alegre e Canoas até 2015, quando resolveu se mudar para Jaraguá do Sul.

Na cidade, Gary e sua esposa, Yvonne Trometer fundaram a Igreja Batista Esperança. “Pretendo ficar nessa linda cidade para sempre, comenta”, comenta.

Netos de Gary, que nasceram nos Estados Unidos, visitando a primeira vez o Brasil | Foto DIvulgação

Algo que deixa o americano triste é ficar longe dos filhos Tyler e Tiffany, que voltaram aos Estados Unidos para fazer faculdade em 2005, e ficaram por lá pelo trabalho.

Gary também gosta de esportes. Ele costuma frequentar o Centro de Artes e Esportes Unificados Mestre Manequinha para jogar xadrez, vôlei e basquete, com o intuito de conhecer novas pessoas e praticar exercícios. O esporte também é uma maneira do americano lembrar de seu país de origem.

“Nos Estados Unidos tem muitas opções de esportes, seja beisebol, basquete ou futebol americano. E o poder público sempre instiga o pessoal a praticar, diferente do Brasil, que 90% só pratica futebol”, aponta.

É nesse ritmo que o americano quer levar a vida. Espalhando fé, esperança e amor aos jaraguaenses, sempre praticando esportes para manter a saúde em dia.

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