Marize Martinelli Malcher é natural de Taió (SC), filha de um agricultor que cultivava tabaco, e de uma dona de casa, já falecidos. A mãe, dona Maria Alminda, que sofria de alzheimer, partiu há pouco, em setembro deste ano. “Somos em 7 irmãos, 5 mulheres e 2 homens, todos morando em cidades próximas: Jaraguá do Sul, Guaramirim e Corupá. Tenho uma admiração muito grande pelos meus pais, por eles terem tido a visão de sair do sítio e tentar uma nova vida em Guaramirim, dando aos filhos a oportunidades de estudo e crescimento profissional”, destaca Marize.
Ela conta que começou a trabalhar muito cedo. Além de ajudar na plantação e colheita do tabaco, também trabalhava para uma família vizinha. “Eles tinham uma fazenda e eu ajudava a tirar leite e de bônus ganhava um dinheirinho e ainda podia assistir desenho na TV colorida”, relembra.
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Registro em família: Dona Maria Alminda Martinelli, uma semana antes de seu falecimento, ocorrido em 8 de setembro deste ano, Marize, o seu esposo, Marco Antonio Malcher, e o seu sogro, Carlos Malcher | Foto: Arquivo pessoal
A vinda para a cidade
Quando os pais saíram do sítio e se mudaram para Guaramirim, Marize tinha 13 anos. “Com 14 anos eu trabalhava cuidando de uma criança e com 15, consegui meu primeiro emprego com carteira assinada. No ano seguinte, realizei meu sonho de ser contatada na WEG. Em 11 de janeiro de 2024, completo 29 anos na empresa”, conta com orgulho.
Foi dentro da WEG, já na idade adulta, que nasceu o gosto de Marize pela leitura. “Fui incentivada por uma amiga que me indicou os livros de romance da autora irlandesa Lucinda Riley e ela se tornou minha autora preferida. Hoje eu indico os livros dela para todas as pessoas que ficam na dúvida sobre qual livro ler, e todos se apaixonam pelas lindas histórias e vão indicando para as pessoas próximas”.
Marize é casada com o carioca Marco Antonio Malcher e conta que, 10 anos atrás, seu único cunhado, com quem o sogro Carlos, que é viúvo, residia no Rio de Janeiro, faleceu. “Ele morou a vida toda no Rio de Janeiro e com a morte do filho tomamos a decisão de trazê-lo para morar conosco em Jaraguá. Foi um impacto bem grande para ele na época, mas hoje ele se considera um cidadão jaraguaence. Na época meu sogro tinha 83 anos. Ele era jornalista e sempre foi apaixonado por leitura. Com a sua chegada começou a nascer nossa biblioteca. Já se passaram 10 anos e eu continuo a comprar livros, não só para ele mas para mim também”, conta Marize, que hoje tem em casa uma biblioteca com cerca de 800 volumes.
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O sogro, Carlos Malcher, hoje com 93 anos, era jornalista e sempre foi apaixonado por leitura | Foto: Arquivo pessoal
Admiração pelo trabalho voluntário aliado ao prazer pela leitura
Com o diagnóstico de alzheimer da mãe de Marize, ela começou a ler muitos sobre a doença e observou que toda matéria abordava a importância da leitura para manter o cérebro ativo. Como o seu sogro foi jornalista a vida toda e sempre teve o hábito da leitura, com 93 anos ainda tem uma memória razoável, e sua mãe, que não costumava ler, teve a doença antes dos 80 anos.
Esse ano, Marilize leu “A Biblioteca Secreta de Londres”, um romance de Kate Thompson, baseado em um história real de uma biblioteca montada em um abrigo subterrâneo na cidade Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. “Esse livro me despertou algo muito bom. Sempre tive admiração pelo trabalho voluntário e senti que podia fazer algo de positivo para as pessoas. Então comecei a pensar que poderia desenvolver uma ação social voluntária com meus livros”, relata. E assim, a ideia de emprestar seus livros com a intenção de incentivar o hábito da leitura se fortaleceu.
Como a gestora de Marize na WEG gosta de ler e no passado a incentivou a fazer o mesmo, Marize marcou uma reunião com ela e explicou que tinha uma ideia de Kaizen (filosofia de origem japonesa, cuja tradução ao pé da letra significa ‘melhoria contínua’) para colocar em prática dentro do setor de Programação e Controle da Produção em que trabalha na WEG Automação. E foi assim que, em abril deste ano, Marize montou uma biblioteca física no setor. “E desde então estou emprestando livros e tentando de alguma forma influenciar pelo exemplo mais pessoas a ter o hábito de ler. Dar o exemplo lendo, na minha opinião, é a melhor forma de incentivar a leitura”, diz.
“Eu vejo pela minha neta, que está com 3 anos. Eu faço questão de comprar livros infantis para ela e também para os outros dois netos, que também têm 3 anos. Eu vejo isso acontecer com as pessoas na WEG. Muitos nunca tinham lido um livro e desde abril, quando montei a biblioteca, já foram emprestados cerca de 50 livros”, conta.
Além disso, ela criou uma página no Instagram com a intenção de postar seus livros com um resumo para gerar curiosidade e despertar o interesse da leitura. Marize conta que tem por hábito ler no trabalho, antes de iniciar o expediente e no horário do almoço. “Leio aproximadamente 1 hora por dia. Não leio em casa, porque como fico fora o dia inteiro, quando chego em casa dedico meu tempo ao meu marido Marco, meu sogro Carlos e a meus bichinhos (2 gatos, 1 cachorro e 1 jabuti) e à minha página no Instagram”.
Empresário Emílio Da Silva Neto doa 8.000 livros
Em outubro deste ano, Marize visitou a Bienal Internacional do Livro de Jaraguá do Sul, com a intenção de adquirir alguns exemplares para a sua biblioteca. Na ocasião comprou 3 livros de autoria do empresário jaraguaense Emílio Da Silva Neto. Ao autografar as obras, Emílio comentou que tinha a intenção de doar os cerca de 8000 livros da sua biblioteca particular e que a página Livros M.M poderia ser beneficiada em razão da ideia de Marize de emprestar livros sem custo. “Confesso que fiquei ansiosa e quando aconteceu a doação dos exemplares eu fiquei muito feliz, pois minha ideia está crescendo e dando certo. É uma satisfação muito grande quando recebo uma mensagem solicitando um livro”, revela Marize.
Dos quase 8.ooo volumes, mais ou menos 1.500 eram livros técnicos e foram levados para a biblioteca da WEG. O restante inclui livros de ficção, autoconhecimento, autodesenvolvimento, romances e até revistas em quadrinhos de Walt Disney e Turma da Mônica, que fizeram parte da infância de muita gente.
O doador dos exemplares, Emílio Da Silva Neto, observa que o conhecimento só é válido se ele for compartilhado. “Quanto mais compartilhado com o coletivo, quanto mais pessoas tiverem acesso a esse conhecimento, mais valioso ele é. Então, os livros parados na minha biblioteca, os quais todos já foram lidos por mim, serão muito mais úteis se forem plenamente acessíveis a uma grande quantidade de pessoas”, destaca.
Agora, a intenção de Marize é organizar a biblioteca da melhor forma possível, catalogando todos os livros e batizando-a com o nome de ‘Biblioteca Malcher‘, em homenagem ao sogro, já que a biblioteca surgiu também devido à sua influência.
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O empresário Emílio Da Silva Neto no dia em que entregou os livros doados a Marize | Foto: Arquivo pessoal