Aos 70 anos de idade, o empresário de Jaraguá do Sul, Emílio Da Silva Neto, acaba de concluir um pós-doutorado na cidade do Porto, em Portugal. Como ele mesmo diz, a sua vontade de aprender é uma “vocação familiar”, algo que foi passado através das gerações.
O seu avô, Emílio Da Silva, era um literato, historiador e escritor, que hoje dá nome ao Museu Histórico de Jaraguá do Sul, um homem que sempre esteve ligado aos estudos e à cultura de modo geral.
Em 1937, seu pai, Emílio Da Silva Júnior, foi considerado o melhor aluno do Ginásio (hoje Ensino Fundamental) de toda Santa Catarina, o que fez com ele recebesse uma bolsa do governo do Estado para estudar em um colégio interno em Florianópolis. Isso aconteceu quando ele tinha 13 anos de idade, em uma época em que uma viajem daqui até a Capital era algo dificílimo.
Em Florianópolis, o pai de Emílio residia no colégio e, como era violinista, ganhava algum dinheiro fazendo serenatas. “Lá ele conheceu minha mãe, Onilda, que adorava música. Depois, acabou indo trabalhar na empresa do meu avô, que era um homem muito rico, e só voltou a estudar com 35 anos. Cursou Direito e obteve nota 9.7, a maior média de toda a história da faculdade de Direito de Florianópolis. Aos 40 anos ele se formou e foi um advogado brilhante. Estou contando isso para exemplificar o quanto meu pai foi um homem intelectualmente privilegiado”, diz Emílio.
O empresário conta que quando passou no vestibular para Engenharia Mecânica na UFSC, em janeiro de 1971, o seu pai fez uma festa maior do que uma festa de casamento, pois o maior sonho dele era de que os filhos estudassem. “E nós vimos o nosso pai estudando a vida inteira. Então, a minha vontade de estudar, posso dizer que é algo genético, de forma que quando comecei o curso de Engenharia ele me perguntou se eu queria só estudar ou estudar e trabalhar. Eu respondi: ‘pai, se eu puder, quero só estudar’. Ele me respondeu que então eu teria que ser um bom aluno”, relembra.
O pedido do pai foi atendido. Emílio Neto formou-se como primeiro aluno da turma e foi o orador na formatura, realizada em dezembro de 1975, com acadêmicos das três engenharias – Elétrica, Mecânica e Civil.
Para alegria de Emílio Neto, seus dois filhos, Larissa, de 36 anos, e Janos, de 34, também se formaram em Engenharia.
Emílio também fala com muito carinho e emoção do incentivo para os estudos que recebia da mãe Onilda Cardoso da Silva, a Dida, que faleceu em 2019, aos 90 anos. Sempre muito interessada em saber se o filho estava gostando dos estudos, se estava sendo como ele esperava. “Ela foi uma pessoa muito importante na minha vida. Eu estava lá estudando, tarde da noite, e ela vinha com um pratinho com maçã e banana, tudo cortadinho para mim”, relembra com lágrimas nos olhos.
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Emílio com sua saudosa mãe Onilda Cardoso da Silva, a Dida, que faleceu em 2019, aos 90 anos | Foto: Arquivo pessoal
Ampliando horizontes
Emílio Neto conta que durante a faculdade de Engenharia teve aula com o professor Caspar Erich Stemmer, que depois virou reitor da Universidade Federal de Santa Catarina. Certa vez, o professor escreveu uma palavra em alemão e Emílio perguntou o que ela significava. “Ele ficou bravo e disse ‘para mim, engenheiro mecânico que não fala alemão é engenheiro mecânico analfabeto’. Aquilo foi uma facada! Então, logo que me formei, fui para a Alemanha com o meu pai, aventurando, sem falar nada de alemão. Lá fiquei por um ano e meio, passando muito sufoco, em nome da minha vontade de aprender o idioma”.
O primeiro doutorado e a carreira como engenheiro na WEG
O empresário relata que voltou para Florianópolis para cursar um mestrado para, então, iniciar o doutorado. “Foi quando o Moacyr Rogério Sens, engenheiro número 1 da WEG, me convidou para montar o Centro Tecnológico, pois precisavam de alguém que fosse mestre em Engenharia e soubesse inglês e alemão. Eu vim para cá para ficar um ano, mas acabei fazendo carreira na WEG, porém sempre com vontade de ser empresário, pois não queria ser empregado o resto da vida. Mas, também com planos de, ao chegar aos 70 anos, deixar de cumprir expediente, e me tornar conselheiro”, diz.
Depois de 35 anos longe da escola Emílio Neto prestou concurso para o Banco Europeu. De 600 candidatos passaram dois – um jovem de 30 e poucos anos e ele, com 59. Foi quando fez doutorado na cidade de Wiesbaden, na Alemanha, entre 2011 e 2016 para se habilitar a ser consultor na terceira idade.
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Registro da época em que fez doutorado na Alemanha, entre 2011 e 2016 | Foto: Arquivo pessoal
“Então, o estudo foi algo que sempre fez parte da família, meu pai sempre teve uma biblioteca enorme. Eu tenho em casa oito mil volumes. O meu prazer é ler e escrever. O que eu mais faço na vida, além de percorrer o mundo de bicicleta, fazer maratonas, academia, é ler, eu sou louco por leitura”. Mesmo o material que Emílio pesquisa na internet é todo impresso para para depois ser lido.
“Doutorado é coisa para maluco. É muito estudo. Eu virei quase um ermitão. Cheguei a ler 500 páginas em inglês numa semana para aproveitar um parágrafo na minha tese”, exemplifica.
Superando desafios
Emílio Neto conta que quando a WEG quis entrar no mercado de motores à prova de terremoto, o engenheiro Moacyr Sens lhe chamou e disse que alguém teria que estudar para saber como é que se calculava um motor com estas características. “Até então ninguém sabia, não existia internet. Aí eu fui para a UFSC , fiquei um mês lá ‘internado’ na biblioteca procurando o que havia sobre o assunto”, relembra. “E o momento mais especial da minha vida como engenheiro foi quando eu terminei o projeto do motor em alemão, inglês, francês e português. Aí nós fomos em uma reunião em São Paulo e depois visitamos a Central Nuclear em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Estava comigo o atual presidente da WEG, Harry Schmelzer Jr. Nós dois tínhamos 25, 26 anos e na mesa só tinham pessoas experientes, já quase idosos, grandes engenheiros de empresas internacionais. Nós entregamos o projeto e a WEG ganhou rios de dinheiro, e tudo a partir do estudo”.
Conhecimento e intuição
Emílio Neto salienta que o conhecimento é algo que vamos desenvolvendo de acordo com as nossas experiências. “Mas também existe a tal da intuição, um sentimento que nos impele a fazer alguma coisa sem saber o porquê. Grande parte dos empresários começa um negócio pela intução. Quando a WEG começou a produzir motores foi algo intuitivo”.
Momentos de introspecção
Emílio Neto diz que seus momentos de estudo e leitura são momentos de introspecção. “Existe uma palavra em alemão ‘lebensraum’, cuja tradução ao pé da letra é ‘espaço vital’. Por exemplo, se você gosta de ler, a leitura exige um espaço vital, um momento de introspecção. Então, em resumo, eu faço da leitura e do estudo não só um instrumento de evolução, mas principalmente de relaxamento, porque eu sou muito agitado”.
“Quando eu leio, tenho sempre uma caneta para ir sublinhando partes do texto, pois isso exercita a minha paciência. Tudo que eu acho importante eu sublinho. Isso ajuda a assimilar o conteúdo e reduz a minha ansiedade. A leitura me faz muito bem. Eu costumo ler de tudo e não leio um livro só. É tudo misturado, pode ser uma biografia, uma história, um livro sobre Administração, Economia, enfim, qualquer coisa. O que eu não gosto muito é de ficção. Um dos livros que estou lendo no momento é ‘
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Família reunida: Emílio com os filhos Larissa e Janos, o genro Celso, a nora Juliana, a esposa Márcia, os netos Louise, Vittorio, Filippo e Liz | Foto: Arquivo pessoal
Mente sã e corpo são
“Muitos podem questionar: por que uma pessoa com 70 anos ainda estuda? primeiro, porque eu gosto; segundo, porque sempre tive curiosidade de conhecer coisas novas e, terceiro e o mais importante: porque tenho preocupação em preservar a minha saúde. Com a idade que tenho, eu corro e pedalo mais que o meu filho, que tem 34 anos. E não dá para preservar a saúde sem usar a cognição. É preciso cuidar do físico, mas também do mental. E a leitura e o estudo fazem a gente exercitar a mente”, destaca Emílio.
Emílio também é um corredor. “Corro há 49 anos, de 30 a 50 quilômetros por semana, e é uma outra forma de introspecção, sou eu comigo mesmo, refletindo sobre meus valores, minha existência, é um momento em que estou pensando na vida. O mesmo acontece quando estou pedalando. Já liguei 23 capitais do Brasil de bicicleta, só faltam três. Também já percorri de bicicleta um bom pedaço da Europa”, conta.
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Pedalar é uma das atividades físicas preferidas do empresário, que já percorreu 23 capitais brasileiras de bicicleta, além de um pedaço da Europa | Foto: Arquivo pessoal
“Tenho muita preocupação com a minha saúde na terceira idade. Não adianta eu viver 100 anos e com dores o tempo todo. Eu quero viver até os 120, sem dor, e para isso eu tenho que me cuidar. Mas não existe corpo saudável sem uma mente saudável”, resume.
Com origem húngara por parte da avó paterna, os planos de Emílio para o futuro são comprar um motorhome e correr o mundo. “O povo húngaro tem natureza cigana e eu herdei esse espírito aventureiro”, diz.
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Na cidade do Porto, onde fez o seu pós-doutorado | Foto: Arquivo pessoal
Currículo
Emílio Da Silva Neto é consultor especializado em profissionalização, governança e sucessão empresarial familiar. Com vasta experiência, Emílio da Silva Neto é PhD/Dr.Ing, Pós-Doc, Industrial, Consultor, Conselheiro, Palestrante, Professor e Sócio da 3S Consultoria Empresarial Familiar, Co-fundador da Arco-Íris Alimentos, Membro do Conselho Deliberativo e do Programa ‘Mentoria Empreendedora’ da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), Membro da Escola Internacional de Sucessão Empresarial (EISE), Conselheiro Voluntário da Facisc/Fundação Empreender. Apresenta podcast e publica colunas quinzenais no OCP News.
É autor dos livros:
– ‘Insights para a excelência profissional, empresarial e na sucessão familiar’
-‘Flashes para a excelência profissional, empresarial e na sucessão familiar’
-‘Pitches para a Excelência do Dia a Dia’
Na Bienal Internacional do Livro, que será realizada em outubro, em Jaraguá do Sul, será lançado o seu 4º livro: ‘Highlights para a Excelência do Dia a Dia’.