Na sexta-feira (28), às 18h30, será realizado, na Sociedade Recreativa Aliança, o lançamento do livro bilíngue “Triunvirato da Rima – Legado de Imigrantes Alemães”, de Günther Giese. A obra, em português e alemão, traz textos rimados publicados em língua alemã na década de 1970 no jornal O Correio do Povo e testemunham um momento peculiar da história cultural de Rio Cerro II e da região rural de Jaraguá do Sul.
Acima de tudo, a publicação é uma homenagem para Emil Siewerdt, avô materno de Günther, que assinava seus textos com a sigla EMSI, e seus amigos escreventes Hellmuth Raeder, de Corupá, Rudolf Hirschfeld, de São Paulo (nascido em Berlim, ele veio para o Brasil em 1936, fugindo do nazismo), e Eugênio Victor Schmöckel, que na época era editor de O Correio do Povo.
De acordo com Günther, foi nas páginas do jornal que descendentes de alemães, desconhecidos entre si, começaram a dialogar em versos rimados escritos em sua língua de herança. “O jogo de rimas, nascido do espírito de desafio, acabou florescendo em uma amizade genuína, tecida por respeito e admiração”.

Jaraguaense de nascimento, Günther Giese integra a quarta geração de imigrantes da Pomerânia | Foto: Arquivo pessoal
A organização do livro
A tradução dos textos em alemão para o português brasileiro e a organização do livro foram realizados em Berlim, na Alemanha, onde Günther reside.
“Em 2017, comecei a traduzir os textos que haviam sido preservados pela família – manuscritos de EMSI em papéis usados, como páginas de calendário, papel de embrulho, papel amassado ou papelão, que eram em sua maioria muito difíceis de ler. Depois, descobri a Hemeroteca Catarinense (acervo digital online que reúne publicações periódicas, como jornais e revistas, publicadas em Santa Catarina desde o século 19), o que me permitiu prosseguir cronologicamente. Um terceiro passo envolveu as notas de rodapé, que foram necessárias porque esses senhores falavam alemão padrão e usavam termos que não eram, e não são, de uso comum. Essas explicações ajudam a compreender melhor os textos. Além disso, ilustram a riqueza da capacidade expressiva dos quatro amigos”, detalha.
Preservação da memória
“Durante os anos em que eu cantei no Coral da Ópera Estatal de Berlim (Deutsche Staatsoper), volta e meia pensava que tinha que salvar esta troca singular do esquecimento. Percebia, que, mesmo na nossa família, já não se tinha consciência sobre o avô e bisavô escrevente, escritor e poeta. Como sou o único na família com domínio de ambas as línguas (alemão e português), vi-me nesta responsabilidade”, conta Günther, que passou seis meses no Brasil para editar o livro e já tem viagem de volta para a Alemanha marcada para 1º de dezembro.
No decorrer do longo trabalho, Günther verificou que, em parte, o livro também é uma crônica sobre a região de Rio Cerro II e a vida rural do município, que aos poucos está desaparecendo. “Vejo que o caráter paisagístico está sendo sacrificado devido à industrialização, mas também por terras serem transformadas em loteamentos, muitas vezes de forma ilegal. Infelizmente muitas famílias não estão cientes do valor histórico, nem do potencial turístico e/ou de lazer para futuras gerações”, avalia.
A capa do livro traz uma imagem do Rio Cerro II, fotografado a partir da Igreja Bom Pastor em direção à ex-loja Roeder (à esquerda) e o salão Roeder (à direita), já demolido, e que foi o início da Sociedade Recreativa e Cultural Aliança.
A escolha do título
“Foi Hellmuth que lançou a expressão ‘Triunvirato’ – relacionada à história romana, que explico nos rodapés – e que acabei usando como título do livro. Inicialmente, eram Emil Siewerdt, Hellmuth Raeder e Rudolf Hirschfeld. O Schmöckel entrou na jogada mais tarde”, conta Günther.
Já a palavra “Muthemsia” é a engenhosa junção da segunda sílaba de HellMUTH e da sigla EMSI, com acréscimo da letra A. “Isto causou muita confusão, porque demorou para entenderem, e achavam que se tratasse de uma mulher, mas é um dos pseudônimos de Rudolf Hirschfeld. Seu pseudônimo principal”, observa.
Günther conta ainda que, em 1974, teve início uma troca desafiadora e humorística entre EMSI e Hellmuth. “Apareceram textos sob pseudônimos, que tornou esta troca bem divertida, com sucesso entre os leitores de língua alemã. Esses pseudônimos nunca foram explicitamente esclarecidos. Embora entre eles tenha havido, no decorrer do tempo, um contato pessoal e, finalmente, de profunda amizade e reconhecimento”, relata.
Biografia
Günther Giese, Tenor
Nascido em 1959, em Jaraguá do Sul, Günther Giese integra a quarta geração de imigrantes da Pomerânia. Em 1978/79 cursou Educação Artística na Furb, de Blumenau. Em 1980, recebeu bolsa de estudos por intermédio do Pastor Frank Graf para estudar Música Sacra em Berlim-Spandau. De 1986 a 1992, foi músico sacro na comunidade luterana em Berlim-Waidmannslust.
Paralelamente estudou canto lírico com Bernhard Raddatz (Berlim), Armand McLane Lanier (Frankfurt am Main), Erwin Dobler (HdK Berlim) e Jutta Schlegel (Hochschule Hanns-Eisler de Berlim). Entre 1984 e 1990, cantou temporariamente no Coro de Radio RIAS Kammerchor, de Berlim.

Tenor reside há décadas na Alemanha e possui carreira na música clássica | Foto: Arquivo pessoal
Realizou Recitais dos ciclos de Lied: “Die Dichterliebe”, de Robert Schumann, “An die Ferne Geliebte”, de Ludwig van Beethoven, “Die Schöne Müllerin”, de Franz Schubert, “Sechs Hölderlin-Fragmente” e “Seven Sonnets of Michelangelo”, de Benjamin Britten, na Alemanha e no Brasil.
Participou de concertos de música sacra como Tenor em obras de J.S.Bach e Heinrich Schütz. Algumas poucas produções operísticas independentes, como “Der Kaiser von Atlantis”, de Viktor Ullmann, em 1989, na Neukölner Oper de Berlim, e “Romeo e Julia”, de Johann Gottfried Schwanberger, em 1991, em Wolfenbüttel.
Entre 1992 e 2025, foi membro do Coral da Ópera Estatal Unter den Linden, de Berlim. Participou da produção de óperas alemãs, italianas, francesas, russas, tchecas e concertos das centrais obras sacras e sinfônicas dos séculos 19 e 20, sob a regência de Daniel Barenboim, Simon Ratte, Georg Solti, Pierre Boulez, Claudio Abado, René Jacobs, Placido Domingo e Christian Thielemann. Viajou com esta Casa de Ópera para Paris, Tokio, Madri e Jerusalém.
Ao mesmo tempo, começou o trabalho vocal com atrizes e atores nos teatros Deutsches Theater, Berliner Ensemble, de Berlim, e Teatro Oficina, em São Paulo. Mas é sobretudo com a atriz Dagmar Manzel que esta colaboração persiste.
Atuou ainda como formador e líder de diversos grupos vocais a partir de trabalho vocal e respiratório com jovens estudantes em Berlim.
Serviço
O quê: Lançamento do livro “Triunvirato da Rima – Legado de Imigrantes Alemães”
Quando: 28 de novembro (sexta-feira), às 18h30
Onde: Sociedade Recreativa Aliança
Endereço: Rodovia SC-110, km 18 – Rio Cerro II