A Síndrome da Fadiga Crônica, também conhecida pelo nome técnico encefalomielite miálgica, é uma condição biológica que compromete significativamente o funcionamento do organismo, afetando especialmente o sistema neurológico e o imunológico. Esta condição ainda é pouco compreendida e muitas vezes confundida com outras doenças.
Vale ressaltar que a Fadiga Crônica é real e impõe severas limitações ao cotidiano dos pacientes. Ela é muitas vezes comparada à fibromialgia por algumas semelhanças, mas possui características distintas.
De acordo com a neurologista Ana Luíza Araújo, do Hospital Israelita Albert Einstein, essa é uma doença também biológica que afeta muito o sistema, bem parecida em alguns aspectos com a fibromialgia. “Ela é fundamentalmente caracterizada por fadiga profunda e incapacitante. Então, o sintoma maior da fibromialgia é a dor. Aqui o sintoma maior é a fadiga. E essa fadiga, para a gente entender a diferença de uma fadiga comum, porque eu tô cansada, porque eu trabalhei muito, é uma fadiga que não melhora com repouso. A fadiga normal, a comum, melhora com repouso, a pessoa descansa e se refaz. Essa doença, ela é uma fadiga que incapacita e que não melhora com repouso e vai afetar muito a qualidade de vida do paciente”.
A seguir, confira respostas das maiores dúvidas sobre a doença respondidas pela especialista:
E o que provoca esse cansaço extremo?
Dra. Ana Luíza: Acontece também a disfunção imunológica no cérebro, uma desregulação também dos níveis de cortisol, tem alterações do sistema autonômico e, em alguns casos, um eventual gatilho de vírus, que acabam levando a essa resposta inflamatória que provoca essa inflamação e causa essa fadiga crônica.
O vírus Epstein-Barr é um dos vírus que podem provocar a fadiga crônica? A covid longa também pode ser um gatilho?
Dra. Ana Luíza: Depois de uma infecção por esses vírus, que pode ser Epstein-Barr, covid, acontece um gatilho imunológico. O meu sistema imunológico produz anticorpos para o vírus, mas acaba atacando as minhas próprias células do sistema nervoso e depois desenvolve essa fadiga crônica. Essa é uma possibilidade. Então, fica ali se é o vírus que causou por um gatilho imunológico a fadiga crônica ou se é um sintoma apenas de uma sequela mesmo de uma covid longa, por exemplo. Nós não temos uma comprovação exata por exame, mas tem hipótese que leva muito a gente pensar que exista essa correlação mesmo.
Quais são os critérios aceitos atualmente para diagnosticar a Síndrome da Fadiga Crônica?
Dra. Ana Luíza: Então, os critérios diagnósticos envolvem essa fadiga profunda de início novo e que persiste por pelo menos 6 meses. Então também tem essa característica de ser crônica, persistente, diferente de quando acontece só por algum tempo. Então, entre três a seis meses de persistência dessa fadiga profunda, que não tenha nenhuma outra explicação de outra doença que a gente consiga diagnosticar.
A fadiga crônica pode estar associada a outras doenças também?
Dra. Ana Luíza: Geralmente, um banho ou outra coisa como caminhar, manter uma conversa mais estressante, enfim, até coisas mais simples podem causar um mal-estar tão grande, muito desproporcional àquele esforço que você fez. Então, pode vir com fadiga, com dor de cabeça, com dor muscular, com insônia, distúrbios cognitivos, perda de concentração também mental e isso dura cerca de 24 horas ou mais. Esse é outro critério, que é esse mal-estar pós-esforço, que diferencia bastante de outras condições. Os distúrbios de sono, o sono não reparador e pelo menos um comprometimento cognitivo ou uma intolerância a ficar de pé. Então, as pessoas têm uma disautonomia, que a gente chama, que quando levanta rápido, dá uma tontura, a pressão baixa, o coração fica disparado. Então, essa intolerância a ficar de pé, mudança de decúbito que a gente chama, ortostase, ela também está associada a esse critério diagnóstico da fadiga crônica.
Como tratar esse cansaço extremo?
Dra. Ana Luíza: Por enquanto não há cura. Mas tem, sim, como melhorar muito, reduzir a gravidade dos sintomas, melhorar a funcionalidade, melhorar a qualidade de vida. E o mais importante, as pessoas podem viver super bem, se tiver um acompanhamento certinho e lembrar que todas essas condições precisam de uma abordagem multidisciplinar; não é só o médico, é nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo. Depois, para a gente evitar essas crises de esforço, de mal estar pós-esforço, a gente vai orientar as pessoas a ajustar atividades ao nível de tolerância, então realmente ter esse acolhimento. Se você cansa muito depois de tomar um banho, você tem que ter esse tempo para descansar, diferente de outras pessoas que não sofrem dessa fadiga. Então, essa gestão do gasto energético é super importante. Fazer a higiene do sono, a terapia cognitivo-comportamental e o uso de remédios. Aí a gente vai lançar mão de analgésicos para dor, hidratação para melhorar essa questão da ortostase, a pessoa levantar e ficar tonta, então a gente melhora a hidratação, melhora a pressão, sintomas de tontura. E os antidepressivos também, como a gente comentou para fibromialgia, eles têm função analgésica e a gente consegue fazer um uso contínuo deles e melhorar as dores desses pacientes que têm também queixa de dor, além de fadiga.
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A fadiga persistente limita a autonomia da pessoa e muitas vezes leva ao isolamento, agravando ainda mais os aspectos emocionais envolvidos com a condição.
Reconhecer a encefalomielite miálgica como uma doença crônica e incapacitante é essencial para combater o estigma que muitos pacientes enfrentam. O diagnóstico precoce e o acompanhamento médico adequado podem ajudar a amenizar os sintomas e melhorar o bem-estar geral.
* Com informações da Agência Brasil