A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é um problema de saúde pública que continua a desafiar o sistema de saúde brasileiro, especialmente na região Sul do país, onde a taxa de óbitos alcança o alarmante patamar de 23,34 mortes para cada 100 mil habitantes — a maior entre todas as regiões do Brasil.
Esses dados integram um estudo recente realizado pela Firjan com o apoio da Boehringer Ingelheim, que avalia os impactos da doença, incluindo suas consequências socioeconômicas.
Região Sul no epicentro da crise
Enquanto o Brasil registra uma média nacional de 17,77 óbitos por DPOC a cada 100 mil habitantes, o cenário no Sul é significativamente mais crítico. Além da alta mortalidade, a região lidera o ranking de internações hospitalares, com uma média de 41,9 internações por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional.
O contraste é evidente ao comparar com as regiões Nordeste (13,12 internações) e Norte (15,3 internações), que apresentam as menores taxas.
No Paraná, por exemplo, os números são particularmente preocupantes. O estado é o quarto no país em afastamentos previdenciários relacionados à DPOC, sendo que 90% desses afastamentos resultam em benefícios permanentes, como aposentadoria por invalidez.
Custo humano e econômico
O impacto da DPOC vai muito além dos números de internações e óbitos. Entre 2017 e 2022, o Brasil contabilizou mais de 196 milhões de dias de trabalho perdidos devido à doença, o que reflete diretamente na produtividade nacional.
Apenas no sistema público de saúde, o custo total das internações por DPOC ultrapassou R$ 510 milhões no mesmo período, com um gasto médio anual superior a R$ 85 milhões. A perda de dias de trabalho é um indicador preocupante:
- Afastamentos previdenciários: 67,3 milhões de dias perdidos.
- Aposentadorias precoces: 30,3 milhões de dias.
- Óbitos: 95,2 milhões de dias de trabalho deixaram de ser realizados.
Além disso, o envelhecimento populacional deve agravar ainda mais essa situação nos próximos anos, elevando os custos relacionados ao tratamento e manejo da doença.
Tabagismo e envelhecimento: os principais vilões
O tabagismo continua sendo o principal fator de risco para a DPOC. No entanto, o envelhecimento da população também contribui significativamente para o aumento da prevalência da doença. O desgaste natural do aparelho respiratório com o avançar da idade, somado a comorbidades como doenças cardiovasculares e diabetes, intensifica os sintomas e as complicações da DPOC.
Por isso, investir em prevenção, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos adequados é fundamental para reduzir o impacto da DPOC na saúde pública e na economia brasileira.
A vida com DPOC: quando respirar se torna um desafio
Para os pacientes, a DPOC vai muito além de números. É uma condição que afeta drasticamente a qualidade de vida, tornando atividades simples, como subir escadas ou fazer uma caminhada curta, um desafio quase insuperável.
O diagnóstico precoce e o acompanhamento médico contínuo são essenciais para minimizar as crises respiratórias e evitar hospitalizações frequentes. Infelizmente, muitas pessoas ainda desconhecem os sintomas iniciais da doença e buscam ajuda médica apenas quando a condição já está avançada.
Caminhos para o futuro
O estudo da Firjan reforça a urgência de estratégias integradas que envolvam o sistema de saúde, o setor privado e a sociedade civil. Entre as medidas sugeridas estão:
- Campanhas de conscientização sobre os riscos do tabagismo e da DPOC;
- Ampliação do acesso a diagnósticos precoces, especialmente nas regiões com maior incidência;
- Incentivo à prática de atividade física para melhorar a capacidade pulmonar e a qualidade de vida dos pacientes.
Com o envelhecimento da população, a tendência é que a DPOC se torne ainda mais prevalente. Antecipar-se a essa realidade é fundamental para evitar que o Brasil continue perdendo vidas e recursos econômicos para uma doença que, com o cuidado adequado, pode ser controlada.