No mês da Mulher são os homens que discutem relações no Cras Ribeirão Cavalo

Foto: Divulgação PMJS

Por: Isabelle Stringari Ribeiro

20/03/2023 - 09:03 - Atualizada em: 20/03/2023 - 14:12

No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, as unidades da Secretaria de Assistência Social e Habitação da Prefeitura de Jaraguá do Sul, por meio de suas unidades e profissionais tem reforçado ações voltadas a prevenção de situações de vulnerabilidade e risco social como a violência doméstica que, além das próprias mulheres, também atingem crianças, adolescentes e idosos.

Por vezes, considerado um dos principais autores de violência, os homens são agora convidados a refletir sobre seu papel dentro da família e na sociedade atual. Pelo menos é o que acontece desde maio de 2022 no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Cléria Demathê Bressan, que atende a população dos bairros Estrada Nova, Tifa Monos, Nereu Ramos, Ribeirão Cavalo e Braço do Ribeirão Cavalo. Nela, cerca de 40 homens destas comunidades, divididos em dois grupos de 20 integrantes, literalmente “discutem a relação” sobre o meio onde vivem.

Comportamentos resultantes da própria frustração masculina pela falta de emprego ou de saúde, a dificuldade em se comunicar e expressar sentimentos, o consumo excessivo de álcool, os conflitos e a violência contra a companheira e filhos, situações da infância e até a vida sexual são alguns temas de reflexão do grupo. Os encontros são conduzidos pela psicóloga Bruna Alexandre Boschini e pelo assistente social Ronaldo Bernardi que atuam no próprio Cras.

Um dos seus integrantes é Rudolfo Hornburg, 63 anos. O primeiro motivo que o levou ao Cras foi seu estado de saúde.

“Estou com problemas de rim, vesícula e estou na fila de espera para fazer cirurgia porque não tem outro jeito. E justamente por isso que venho participar aqui. Não deixa de ser um elo com a família onde consigo compartilhar situações do meu lar, do dia a dia com os familiares, vizinhança, enfim uma troca de experiências com os outros que aqui estão.”

Outro membro do grupo, Ronaldo Mafra, 50 anos autônomo.

“Estou com problema de desvio na minha coluna. Normalmente quando chego na empresa e faço um raio-X como exame admissional já sou dispensado . Daí, faço uns bicos aqui e ali de jardinagem, coisas assim, né? Vou me virando” descreve.

Ronaldo chegou ao grupo há um ano e meio. Ele admite que neste meio tempo seu convívio familiar mudou.

“A gente muda bastante também, né? Conversamos muito sobre este negócio do valentão, do machão com a mulher, com a família de como esta coisa é errada. Aqui a gente tenta explicar para as pessoas que não é assim, tem que mudar, tem que ser diferente. Através da conversa a gente ajuda as pessoas também neste tipo de situação”.

Já Mauro Gonçalves, 79 anos, não fazia ideia que havia tantos homens para compartilhar problemas e refletir sobre situações do ambiente familiar. “Minha esposa já frequentava um grupo aqui no Cras havia me falado desse grupo. Recentemente, enfrentei um quadro de depressão, mas agora tenho muitas expectativas relacionadas a minha participação. De ter a oportunidade de compartilhar sentimentos e amizades”, afirmou.

Foto: Divulgação PMJS

Experiências

Há dez anos a serviço do Município, a psicóloga Bruna Boschini acompanhou inúmeras situações relacionadas à violência doméstica.

“Trabalhei em programas como o Família Acolhedora, no Abrigo e agora estou aqui no Cras. Durante todo este tempo pude ver a violência acontecendo, as consequências disso, chegando ao acolhimento, e agora estamos podendo trabalhar com a prevenção”, destacou.

Para Ronaldo Bernardi antes de mais nada, o grupo do Cras Ribeirão Cavalo busca desconstruir aquele papel que se imagina que o homem tinha nos séculos passados.

“Papel de que o homem é aquele que manda, que desmanda, que tem a última palavra, que não faz trabalho doméstico, que não auxilia em nada em casa. O homem tem sim, um papel fundamental na família, como alicerce dessa estrutura, sendo mais carinhoso e dando a devida atenção pra esposa, filhos, participando do dia a dia deles e que possa se cuidar na área da saúde, sem receio algum”, destacou.

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Isabelle Stringari Ribeiro

Jornalista de entretenimento e cotidiano, formada pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).