Por Gabriela Bubniak | Foto de capa Rafael Verch
O Czerniewicz fica localizado entre os bairros Centro, Baependi e o Amizade. Abriga importantes edificações, como a Sociedade Cultura Artística (Scar), o Centro Empresarial (Acijs), o Hospital e Maternidade Jaraguá, o Pama 1, a empresa Viação Canarinho e o Sesc. O bairro também foi casa do extinto Café Sasse, e que hoje deixa saudades.
Junto com o Baependi, é o bairro mais antigo da cidade. Em 2014, estudo realizado pelo Instituto Jourdan de Planejamento apontou que a população do Czerniewicz era de 3.415 habitantes – contra 10.094 moradores na Ilha da Figueira, o mais populoso então.
Mas o nome desse bairro é tão incomum que tem gente que até hoje não faz a mínima ideia de como se pronuncia corretamente. E como seria mesmo?
Quem nos ajudou a descobrir foi a historiadora e chefe do Arquivo Histórico, Silvia Kita. Ela explicou que a pronúncia não tem nada a ver com “Tchêrnevícz” ou “Qzerniêvics”, mas sim “Xerniêvicz”, porque em alemão as consoantes “C” e “Z” juntas têm o som de “X”.
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A palavra Czerniewicz é nada mais nada menos do que um sobrenome, este de uma família tradicional alemã da época de 1900, que morava pela região, a família de Jorge Czerniewicz (na época se escrevia Georg).
Quem foi Jorge?
Jorge foi um dos caras mais importantes do início da história da cidade. Saiu de Berlim, na Alemanha, e veio para Joinville em 1884, viver num Brasil colônia. Os registros em Jaraguá do Sul começam por volta de 1900, e apontam que ele foi um dos primeiros grandes empreendedores da cidade.
Foi proprietário de um comércio da região – que antes pertencia a Victor Rossenberg -, uma casa comercial, junto de uma pousada e um restaurante. As estruturas ficavam localizadas próximas ao Rio Itapocu, próximo de onde hoje fica a Scar.
A casa chegou a hospedar pessoas ilustres como o embaixador alemão Barão von Wangenheim e o ex-ministro dos Transportes, Lauro Müller (catarinense de Itajaí).
Além disso, Jorge tinha uma chalana e balsa para a travessia do rio, utilizadas no transporte de pessoas da região. A balsa ficava no rio Itapocu, mais ou menos no trecho de rio que dá na parte de trás da Celesc, e a entrada da Scar. O uso desses transportes terminou somente em 1913 quando foi inaugurada a ponte metálica. Essa ponte tem a ver com a história do pilar que hoje ainda existe no Itapocu. Lembra?
E foi por ser uma pessoa de muita influência naquela região que o imigrante Jorge Czerniewicz hoje dá nome à principal rua do bairro. Mas antes disso, a extensão desta rua primeiramente era chamada de Estrada Itapocu Hansa e, mais tarde, uma parte dela, de Abdon Batista. Só em 1957, por lei municipal, recebeu o nome que tem hoje.
Mas a colonização do bairro iniciou mesmo por volta de 1890. No início, lá viviam imigrantes de origem alemã, polonesa e italiana, principalmente. Por localizar-se à margem esquerda do rio Itapocu, fazia parte do Domínio Dona Francisca e foi colonizado pela Companhia Colonizadora Hamburguesa que adquiriu as terras dotais da Princesa Dona Francisca (irmã de Dom Pedro Segundo)
Se não bastasse a grande influência de Jorge Czerniewicz no comércio, ele também foi um dos responsáveis pela doação do terreno para a construção do primeiro hospital de Jaraguá do Sul. Em 1935, iniciou-se a construção civil do Hospital São José, sob o comando de Padre Alberto Jacob. A obra foi concluída em 22 de novembro de 1936.
Então, de 1936 a 1959, o Hospital e Maternidade São José ocupava o lugar onde hoje fica o Hospital Jaraguá, no morro do bairro, rua Motoristas de Mil Novecentos e Trinta e Seis.
Em setembro de 1960, a edificação foi vendida pra comunidade Evangélica Luterana – por um preço simbólico – e, depois de passar por reformas e ampliações, foi inaugurada a nova estrutura, em 27 de fevereiro de 1966 e passou a chamar-se Hospital e Maternidade Jaraguá, conhecido como o “Hospital do Morro”.
A histórica explosão da fábrica de pólvora
A história do bairro também guarda uma das maiores tragédias acontecidas na cidade: a explosão da fábrica de pólvora. No dia 6 de novembro de 1953, dez trabalhadores morreram após uma explosão da Fábrica de Pólvora Pernambuco Powder Factory.
A instalação da empresa desse ramo em Jaraguá foi iniciativa dos imigrantes alemães Fritz e Henrique Rappe, em 1912, em local conhecido como Tifa Rappe. Durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a fábrica foi ocupada pelo 13º Batalhão de Caçadores. Nesta época, ocorreu a primeira explosão, que não deixou feridos, mas destruiu parte da estrutura. No dia 8 de setembro de 1941, outro incidente também ocorreu, mas sem feridos.
Com o fim da guerra, em 1918, os primeiros donos venderam a fábrica para Augusto Mielke, que transferiu a fábrica para a rua João Doubrawa. Em 1926, a empresa foi vendida para Reinoldo Rau, que em 1939 a vendeu para um grande fabricante de pólvora com sede em Pernambuco. A S/A Pernambuco Powder Factory fabricava pólvora, explosivos de segurança e estopins da marca “Elephante”.
Localizada na rua João Doubrawa, no bairro Czerniewicz, na localidade conhecida hoje como Tifa da Pólvora, a fábrica era a terceira maior produtora de pólvora do Brasil. No espaço da fábrica, hoje há o loteamento Tifa da Pólvora. Veja o mapa:
A tragédia ficou tão marcada na história da cidade, que o fato ganhou um monumento para homenagear as vítimas do acidente – veja aqui o artigo que fizemos a respeito.