O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que ocorre nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) da Secretaria de Assistência Social e Habitação da Prefeitura de Jaraguá do Sul, presta na Unidade do bairro Ilha da Figueira um trabalho primordial com um público bem específico: crianças e adolescentes vindos de outros países, mais especificamente do Haiti e da Venezuela.
Para a supervisora deste Cras, Juliana Cristina Francês Philipps, a intenção em atender este público surgiu pela localização do bairro.
“Percebemos que os estrangeiros costumam se alocar tanto aqui na Ilha da Figueira como no próprio João Pessoa por estarem na entrada da cidade. Também tem aquela questão que normalmente vem um primeiro e depois traz os demais familiares que vão se alocando próximos uns dos outros. Algo que os fortalece quando aqui se instalam”.
Atualmente o Serviço de Convivência atende 80 pessoas, predominantemente crianças e adolescentes, sendo uma parcela delas imigrantes.
“A gente procura incluí-los em todas as atividades do Cras inclusive no SCFV, atendendo às situações de vulnerabilidade. Atuamos no acompanhamento à família em questões econômicas, sociais, familiares e no serviço de convivência principalmente, incluindo as crianças e adolescentes nos grupos”, explicou a supervisora.

Foto: Divulgação
O educador social, Abílio Júlio da Costa, expõe que o fato dessas pessoas virem de outros países faz com que inicialmente, o foco do trabalho seja auxiliar na questão da emissão de documentos como carteira de trabalho, identidade e CPF para poderem ingressar no mercado de trabalho.
“Além de informações sobre este mercado, também mostramos como elaborar um currículo, bem como conhecer outros caminhos para acessar este objetivo como o programa Jovem Aprendiz”, destacou Costa.
Segundo ele, outras tarefas lúdicas como a prática do slackline – esporte de equilíbrio que utiliza uma fita de nylon esticada entre dois pontos fixos, permitindo ao praticante andar e fazer manobras – para trabalhar a questão do foco e do equilíbrio.
“Nessa atividade o foco é desafiara superação do medo, mostrar que a gente não consegue fazer nada sozinho como também lapidar algumas habilidades físicas e cognitivas como equilíbrio e concentração e confiança”, ilustrou o educador social.
Pandemia e legado – A exemplo de outras unidades de Assistência Social do Município, o Cras Ilha da Figueira também precisou adaptar seu atendimento durante a vigência dos protocolos de segurança sanitária relacionados à pandemia de covid-19. A psicóloga do Cras, Babiani Buzzi Moreira lembra bem como foi aquele período.
“Nós tínhamos aqui na época uma pedagoga que era referência do Serviço de Convivência e ela trouxe a ideia da caixinha da conexão, que nada mais eram que caixinhas que conseguíamos numa loja de sapatos nas quais eram colocadas atividades. Nosso educador social, juntamente com a pedagoga, iam até as casas para levar essas atividades”.
Babiani acrescenta ainda que no entanto, havia algumas famílias que eram atendidas na própria unidade. “Por exemplo: tinha um grupo de irmãos, então a gente só atendia aquele grupo naquele dia. Para garantir a questão do distanciamento a gente utilizava uma das vidraças do Cras, na qual eles ficavam de um lado e nós do outro. Normalmente, fazíamos isso para atividades de contação de história. A gente precisou inovar para não deixá-los desassistidos e consequentemente não perder este vínculo, o que foi muito importante”, destacou a psicóloga.

Fotos: Divulgação
De acordo com ela, algo bom que foi tirado deste período foi justamente as caixinhas de conexão. “Com elas conseguimos atender famílias que não conseguem vir até nós. É o caso daquelas que moram no bairro Vila Nova. O Cras continua indo até eles por meio desta caixa de conexão. Ou seja, a gente leva até essas famílias temas também discutidos presencialmente”, destacou Babiani.
Resgate à cidadania – Para Juliana, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos tem um papel essencial como complemento dos trabalhos da equipe técnica do Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família (PAIF). No entanto, no caso do público atendido na Ilha da Figueira, o SCFV também é essencial para resgatar a cidadania dessas pessoas.
“Não tenho dúvida disso. Inclusive estávamos discutindo esta semana a respeito de como os haitianos, muitas vezes, se submetem a qualquer tipo de trabalho, qualquer renda ou inferior ao que ganha um brasileiro pelo simples fato de ser haitiano. Então a assistente social começou a trabalhar sobre esse tema com eles, de como é necessário lutar por igualdade”, ponderou a supervisora do Cras.
“Não é porque vieram de uma situação miserável em seu país de origem que chegam aqui e tem que aceitar tudo que é inferior. Esse é um dos temas que a gente acaba trabalhando”, destacou Juliana, comentando que adolescentes dos grupos de SCFV da unidade foram encaminhadas para participar de projeto do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) de preparação para o mercado de trabalho.
“Foi um curso de um mês, houve inclusive formatura. Foi bem legal”.

Foto: Divulgação
Entre os jovens imigrantes que são atendidos no Cras Ilha da Figueira estão as primas venezuelanas Albanis Nazareth Peres, 14 anos, Darielvis Garcia Peres, 13 e Isanny Dayalit Vera Peres, 13 anos. Mais extrovertida das três, Nazareth fala dos sonhos que pretende realizar em seu novo País. “Estou terminando o nono ano e quero muito cursar Direito. Mas antes quero fazer um curso profissionalizante para poder começar a trabalhar e até custear minha faculdade”, sorri. Já suas primas, quase em coro, afirmam que querem trabalhar na área de informática.
Juliana e Babiani explicam que apesar da barreira inicial em relação ao idioma, esses alunos conseguem se integrar com rapidez ao ambiente escolar.
“A gente nunca teve problemas relacionados aos venezuelanos. A maior dificuldade é com os haitianos. Mesmo com o idioma diferente, com o espanhol a comunicação é um pouco mais fácil do que com o dialeto crioulo mesclado com o francês, utilizado no Haiti. Aí a escola tem um pouco mais de dificuldade. No entanto, temos muitas crianças haitianas, que vieram para cá sem falar nada em português, mas depois de cinco meses na escola eles já estavam traduzindo para os que chegavam depois”, disse a supervisora. “Eles aprendem muito rápido. A adaptação da criança e do adolescente é muito mais rápida”, constatou Babiani.