Uma revisão de estudos conduzida por pesquisadoras da Universidade de Melbourne, na Austrália, indica que a exposição à natureza pode trazer benefícios significativos para o aprendizado de crianças e adolescentes. O contato com áreas verdes demonstrou melhorar a atenção, a memória de trabalho, a velocidade de processamento e até a retenção de conhecimento – habilidades essenciais para o desempenho escolar.
As pesquisadoras Dianne Vella-Brodrick e Krystyna Gilowska analisaram 12 estudos com diferentes tipos de intervenções envolvendo a natureza. As ações iam desde caminhadas em parques e jardinagem até o simples fato de ver o verde pela janela da sala de aula. Os resultados foram consistentes: independentemente da intensidade ou duração da exposição, houve melhora na capacidade cognitiva dos estudantes entre 5 e 18 anos.
“Nossa revisão encontrou forte apoio às intervenções na natureza para melhorar a atenção e a memória de trabalho”, afirmam as pesquisadoras em texto publicado no site da universidade. “Por exemplo, o tempo na natureza melhorou a concentração, a velocidade de processamento e a retenção de conhecimento”.
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Os dados ganham ainda mais relevância diante do cenário de defasagem educacional acentuado pela pandemia. Um relatório do Unicef mostra que o acesso à educação no Brasil, que havia avançado até 2019, sofreu retrocesso entre 2020 e 2023 e ainda não retornou ao patamar pré-pandêmico. A dificuldade de aprendizagem, agravada pelo ensino remoto e pelo fechamento das escolas, continua sendo um desafio para alunos e professores da rede pública.
Além de impactar o aprendizado, o contato com a natureza pode ajudar a lidar com problemas de saúde mental e estresse – que, segundo os próprios estudantes, também interferem no desempenho acadêmico. Esse dado já havia aparecido na pesquisa australiana “Missão Austrália 2021”, feita com mais de20 mil jovens, na qual saúde mental, capacidade acadêmica e COVID-19 foram apontadas como principais barreiras para atingir metas educacionais e profissionais.
Verde dentro e fora da sala de aula
As autoras do estudo reforçam que as escolas têm papel essencial nesse processo. Mesmo aquelas localizadas em regiões urbanas ou com pouco acesso a áreas verdes podem se beneficiar com pequenas iniciativas, como criar jardins verticais, cultivar hortas ou instalar vasos de plantas nas salas.
“A natureza pode elevar nosso humor e bem-estar, ajudando os alunos a se tornarem mais dispostos e abertos ao aprendizado”, afirmam as pesquisadoras. “Ela também pode restaurar o funcionamento cognitivo, permitir uma nova mentalidade para o aprendizado e reduzir os níveis de estresse.”
Com os desafios impostos pelo uso excessivo de telas e o impacto das redes sociais sobre a concentração, o incentivo ao contato com o ambiente natural se mostra uma alternativa promissora para melhorar o engajamento dos alunos e reforçar o vínculo com o momento presente. Para as pesquisadoras, incluir a natureza no cotidiano escolar também pode ser uma forma de despertar o interesse dos jovens pela preservação do meio ambiente.
“Embora mais pesquisas nessa área sejam incentivadas, é seguro dizer que planejadores escolares, líderes escolares, professores e jovens precisam colaborar para projetar estrategicamente o currículo escolar e a experiência dos alunos, de modo que incluam mais exposição à natureza para os alunos”, concluem.
O estudo completo foi publicado na revista Educational Psychology Review.