O sorriso no rosto, marcado pelo tempo, mas que nem de longe entrega a idade, é um cartão de boas vindas à casa de Alida Victoria Grubba Rudge. É em um dos cômodos do antigo casarão da rua Epitácio Pessoa, que vive a mulher considerada no ano passado a mais idosa do Brasil e que está prestes a completar mais um ano de vida. “Vou fazer 110 anos, né?”, fala a jaraguaense. “Não, Dona Alida, são 113 anos”, digo. “Puxa, tudo isso!”, ela responde com o mesmo sorriso.
É assim, não se importando muito com a data, que a jaraguaense encara mais esse novo aniversário. “Não me sinto velha, me sinto muito bem”, faz questão de deixar claro, para que não haja dúvidas. “Não gosto de ficar sentada, se não fosse esse problema nas pernas, faria muito mais coisas”, diz.
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É no aniversário que dona Alida ganha destaque da mídia local, regional e até mesmo nacional. Nascida em 10 de julho de 1903, ela é uma das pessoas mais idosas do país. Em julho do ano passado, tal fato foi reconhecido, após a comprovação através de documentos de Alida, pelo Grupo de Pesquisa em Gerontologia (GRG, na sigla em inglês). Na lista, que reúne pessoas a partir dos 110 anos, Alida, na época, foi considerada a 37ª pessoa mais velha do mundo e era a única brasileira a ter comprovado a idade com documentação.
Entre conversas em voz alta, para que ela pudesse ouvir, e visitas ao passado – através de suas lembranças, a idosa contou ontem a nossa equipe de redação como é chegar aos 113 anos. “Não tem segredo. Quando a gente nasce, Deus já tem tudo planejado. É como ele quer”, acredita. Mesmo assim, dona Alida não deixou de se cuidar durante toda a vida e pede mais saúde. “Não importa quantos anos, enquanto eu viver com saúde estarei bem”, confessa. Aliás, esse também é o pedido de presente de aniversário: saúde para viver bem os próximos anos que estão por vir.
Dia a dia
O dia a dia de dona Álida seria mais movimentado se ela pudesse andar com mais facilidade, mas nem por isso ela gosta de ficar parada. Todos os dias Álida toma seu café e lê O Correio do Povo. Nos dias de sol, gosta de ir para a varanda para observar o movimento. Além disso, gosta de jogar cartas – algo que faz todos os dias. Quando é necessário, e pelo menos uma vez ao mês, vai ao banco acompanhada das cuidadoras. “Não gosto de ficar só sentada e de ficar muito em casa, gosto de passear”, confessa. Quando possível, gosta de passear pela cidade, ir até a praia e até mesmo em Pomerode, para visitar o Zoológico. “Tem todos os tipos de bichos, é lindo”.
Família
É no velho casarão construído pelo pai, Bernardo Grubba, em 1905, na rua Epitácio Pessoa, que Alida vive, guarda muitas histórias e suas principais lembranças da família. Ela é a única dos sete filhos ainda vivo. Tem apenas um filho, dois netos e dois bisnetos, que moram em São Paulo. Os móveis antigos, muitos já foram dados para familiares, são preservados no interior da casa, onde passou a infância ao lado dos irmãos. Nas paredes, momentos vividos com os pais, irmãos, filhos e netos e de outros parentes, estão imortalizados através das fotografias. A idosa revira a memória e lembra corretamente de quem lhe acompanha nas fotos e diz sentir saudade daquele tempo. Os quadros que pintou e as almofadas de ponto-cruz que aprendeu a bordar na escola, algo que fez também por muitos anos, são mantidos como decoração do casarão.
Lazer
Tardes inteiras jogando baralho são rotineiras na casa de Alida Grubba e uma das coisas que a idosa mais gosta de fazer. Isso, garante ela, serve para manter a “cabeça funcionando” e é uma diversão. Além disso, outra atividade preferida da jaraguaense é pescar. Ao menos duas vezes por ano, no verão, ela sai com as cuidadoras para pescar em um pesque e pague da cidade. «E pego peixes grandes», conta mostrando o tamanho com as mãos e garantindo que não é história de pescador. A leitura é um hábito que cultiva. Além de ler os jornais todos os dias, gosta também de ler romances e tem uma caixa cheia deles guardada no casarão.
Saúde
Os 113 anos acabam sendo encarados apenas como um número por dona Alida, que diz nem se sentir velha. Apesar da dificuldade para se locomover, devido à artrose em um dos joelhos, motivo que a faz usar uma cadeira de rodas, e dos problemas de audição, ela garante ter boa saúde. “Sempre vou ao médico e da última vez ele disse que minha saúde estava muito boa”, diz olhando para a cuidadora Darci Holtz, que confirma a informação
Lembranças
Era só a música começar a soar, que dona Alida, ainda na adolescência, pedia permissão para o pai para dançar. Ela lembra que ao lado da casa onde mora havia um salão e que ela adorava dançar. “Meus pais gostavam também e quando iam me levavam. Gostava de dançar as domingueiras ali”, diz. Entre todos os ritmos, o preferido da idosa é a valsa. “Mas era difícil porque pouca gente sabia dançar bem”, conta.
Apesar da liberação do pai para dançar, era importante obedecer e ir embora na hora exata. “Nem podíamos pensar em pedir para ficar. Quando ele falava ‘vamos’ era isso e pronto”, completa.
Quando jovem, ela também lembra que o circo ficava um bom tempo na cidade. “O palhaço era muito divertido”, fala. Outra lembrança de quando era nova e da qual sente muita saudades, é o trem de passageiros. “Sinto falta porque era acostumada a andar com ele”, diz.
Comemoração
Uma grande festa será realizada para celebrar os 113 anos de dona Alida. O filho, Ademar Rudge, 89 anos, e a mulher, já estão na cidade. Os dois netos e bisnetos chegam hoje para a festa, que será no domingo (10) com os demais familiares e amigos. “É uma raridade uma pessoa chegar a essa idade e fico feliz em vê-la chegando e estando bem”, diz o filho.
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