A cena é extremamente comum no dia a dia dos jovens brasileiros, a qualquer hora e lugar. Seja para mensagens de aplicativos de celular, ou pelo uso do tablet, os dedos se movem freneticamente no teclado enquanto o pescoço permanece encurvado. Essa tendência crescente, que também é encontrada entre as demais gerações, muitas vezes resulta em dores na coluna cervical e está refletindo no aumento nas consultas com os ortopedistas.
O adolescente jaraguaense Jean Novais, 17 anos, é um caso clássico desse tipo de comportamento presente nas novas gerações. Ontem à tarde, ele mexia no celular despreocupadamente encostado em uma coluna no Calçadão da Rua Marechal Deodoro da Fonseca, com o pescoço abaixado e interagindo nas mensagens.
Jean conta que trabalha em supermercado, das 7h às 15h20, e que desde a hora que chega em casa até a hora de dormir fica permanentemente conectado. Perguntado se sabe dos riscos de saúde que corre e se pensou em consultar um ortopedista, diz que por enquanto não pensa nessa possibilidade. “Minha mãe sempre reclama disso. Já vi reportagem na TV sobre esse assunto. Quando sinto que o pescoço começa a doer, mudo a posição, fico mexendo o pescoço, paro, mas depois volto. Meus amigos estão na mesma situação”, reconhece.
Adolescente Jean Novais, 17 anos, reconhece que é um caso típico da sua
geração, que fica várias horas do dia com o pescoço encurvado
Especialista aconselha cuidados posturais
O médico ortopedista e traumatologista Marcos Fernando Ferreira Subtil revela que atende uma média de 20 pacientes por dia, em que 40% são de casos relacionados à coluna vertebral. “De uns seis anos para cá, justamente quando começaram a ser usados esses equipamentos eletrônicos, passei a atender mais pacientes com 16, 17 anos se queixando de dores no pescoço. Antes, eram mais idosos”, atesta.
“Hoje os pacientes estão na sala de espera mais focados no celular do que na pessoa do lado. A maioria tem postura viciosa, olhando para baixo”, constata o médico.
Esse hábito, destaca, pode levar à contratura da coluna cervical, porque a pessoa utiliza mais alguns músculos que outros, o que causa dor. “Geralmente a família traz o jovem, pela queixa contínua de dor e ele [o paciente] nem acredita”, revela. O ideal é manter o pescoço reto, como na tela do computador, destaca o especialista.
Problemas posturais desse tipo, além da contratura, podem causar desgaste da cartilagem cervical, ou dorsal, tendinites (inflamações dos tendões do braço e ombro), artrose futura, ou seja, o envelhecimento precoce dos ossos e desequilíbrio.
Dentre as soluções para o problema estão os exercícios de alongamento – mexer o pescoço para frente e para trás, de um lado para o outro, girar para os lados. Outra dica é se espreguiçar ao acordar, espichando pernas e braços, como fazem os felinos.