Existem muitas formas de se contar uma história e uma delas é por meio da arte. E é através da arte do Mosaico, especificamente, que a história de Guaramirim está sendo contada pelo artista plástico jaraguaense Paulo David, mais conhecido como Paulico.
O trabalho – um mural de 240 metros quadrados (120 metros de comprimento e dois metros de altura), formado por 12 grandes painéis – está sendo executado em um muro na Rua Athanásio Rosa, às margens da BR-280 e teve início em setembro de 2022. De acordo com Paulico, a previsão é concluí-lo até o final deste ano.
O Mosaico é uma técnica feita a partir da montagem de pequenos pedaços de azulejos, rochas, conchas ou vidros para criar imagens. É uma arte milenar que remete à época greco-romana (período que durou quase quatro séculos – de 332 a.C. até o ano 30).
Neste trabalho, Paulico está usando fragmentos de azulejos para criar símbolos da cultura, economia e turismo da cidade. “A Prefeitura e a Câmara de Vereadores de Guaramirim abraçaram a ideia e estão me dando toda a estrutura necessária. O secretário municipal de Cultura, Emerson Flores, tem me ajudado bastante com relação a dados e imagens da história do município. Eu também pesquisei muito, conforme ele foi me passando as imagens, sugerindo algumas coisas. Sou muito grato também ao prefeito, professor Luiz Antônio Chiodini, que é um grande apoiador deste projeto artístico”, destaca.
Artista autodidata
Paulico é um artista autodidata que desenvolve trabalhos utilizando a técnica do Mosaico desde 1996. “Comecei há 27 anos e, hoje, com a internet, a gente consegue pesquisar muitas coisas e se inspirar. Basicamente, eu sou especializado na arte do Mosaico com azulejos, mas já fiz Mosaicos com pano, conchas e outros materiais. Também trabalho usando madeira e resina. Gosto muito de catar materiais no lixo – que na verdade são considerados lixo por alguns, mas não por mim. Trago para casa e invento alguma coisa com eles”, conta.
É de sua autoria a obra em Mosaico localizada no muro do Parque Malwee, em Jaraguá do Sul. O painel concluído em 2006 tem 600 metros quadrados e é considerado o maior da América Latina.
Sobre o artista
Paulico nasceu e se criou em Jaraguá do Sul, mas já morou em Blumenau, Florianópolis, Curitiba e até em Londres, na Inglaterra. “Sempre trabalhei na noite. Meu irmão tinha uma casa noturna em Jaraguá nos anos 1990 e descobri o Mosaico vendo uma pessoa fazer. Me interessei pelo trabalho e ela me deixou fazer um pouquinho, me deu alguns materiais. Depois, comprei uma ferramenta chamada torques, uma espécie de alicate, que é a única que se usa no Mosaico, aí comecei a fazer e não parei mais”, relembra.
Música é inspiração
Paulico revela que seu maior hobby é a música. “Eu tive uma banda, chamada ‘Patifaria’, que durou 12 anos e me deu muita satisfação. Inclusive os meus trabalhos têm muito a ver com música. Eu até já fiz um corpo de guitarra com madeira e resina e quero fazer mais ainda, me envolver mais com isso, porque a música realmente está dentro de mim. Eu gosto de compor, tenho algumas composições”, diz empolgado.
“Com a banda gravamos dois CDs, que estão nas plataformas como o YouTube, Spotify. Fora da banda também gravei algumas músicas que tocaram no rádio. A música é algo que está dentro de mim 24 horas por dia, todos os dias. Ela me inspira para fazer o meu trabalho. Este ano completo 60 anos de idade e continuo com a mesma vontade de tocar e de fazer arte. A mesma vontade que eu tinha 27 anos atrás, quando eu comecei. Eu acordo de manhã, levanto e agradeço por ter a vida que eu tenho, a minha família, os meus amigos, a minha arte. Tenho muita gratidão, porque Deus me deu muita coisa”, afirma.
O reconhecimento de sua arte
“É muito legal quando você recebe uma encomenda e vai entregar a peça para um cliente. Eu sempre digo que eu preciso do ‘cheque’, mas não tem nada que pague a sensação de ouvir um elogio. É a coisa mais gratificante do mundo quando alguém gosta e se apaixona por uma coisa onde você colocou amor, paixão e dedicação para fazer”, diz Paulico.
Para ele, a paixão é uma coisa que tem que mover a vida de todo mundo e a arte mais ainda. “Se não tiver paixão, não tem como fazer arte. Todo dia eu desço para o atelier movido pela paixão, porque se não fosse assim eu não estaria até hoje fazendo Mosaicos”, resume.
“O artista é um crítico muito contundente com a sua própria arte. É por isso que quando a pessoa ama o que você fez, eu digo que ‘é melhor que o cheque’. Eu estou sempre me cobrando para fazer melhor. Isso às vezes até atrapalha, mas com certeza faz você crescer. Então, aquilo que você traçou como meta fazer passa a ser comum e aí você vai além, quebrando barreiras”, finaliza.