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A casa centenária que resistiu ao tempo e ao crescimento do bairro Amizade, em Jaraguá do Sul

Foto: Fábio Junkes

Por: Elisângela Pezzutti

15/08/2025 - 06:08 - Atualizada em: 15/08/2025 - 09:42

No bairro Amizade, em Jaraguá do Sul, um imóvel centenário com arquitetura enxaimel se destaca em meio à paisagem. Tombada como patrimônio histórico e cultural do município em 2010, a Casa Lili Zickuhr Friedel foi edificada em 1924, pelo descendente de imigrantes alemães de origem pomerana, Albert Friedel, e é um dos últimos exemplares desse tipo de construção na cidade, que tem forte influência germânica.

O empresário jaraguaense do ramo de marcenaria, Darlei Friedel, bisneto de Albert e filho de Lili (que dá nome à casa), morou no imóvel de 1982 até 1988. Relembrando a história familiar, ele conta que o bisavô, Albert, e a bisavó Ida, faleceram com dias de diferença. Ida morreu em Jaraguá do Sul em 18 de outubro de 1974, e, menos de duas semanas depois, em 31 de outubro, Albert também faleceu. Eles se casaram em 1920, em Blumenau, e viveram juntos por mais de meio século.

“Segundo minha mãe conta, os dois ‘brigavam’ bastante, aquelas discussões de casal, mas um não vivia sem o outro. Quando ela faleceu, ele ficou com tanta saudade que acabou falecendo dias depois”, diz Darlei.

Bodas de Ouro de Ida e Albert (sentados à frente), comemoradas em 1970. Casal faleceu em outubro de 1974, com poucos dias de diferença | Foto: Arquivo pessoal

 

Família reunida nas Bodas de Ouro de Albert e Ida | Foto: Arquivo pessoal

Cinco gerações da família residiram no imóvel

Após o falecimento de Bruno Friedel, um dos filhos de Albert, em 1982, Donato, neto de Albert, e sua esposa Lili, com os filhos Iara e Darlei, foram morar no imóvel, onde permaneceram até 1988. Entre 1990 e 2009, Iara voltou a residir na casa junto com sua filha Mirella de Oliveira, trineta de Albert, que continuou morando no local até 2023, sendo então, até o momento, a última descendente a ocupar o imóvel.

“Quanto mais a casa for usada, mais tempo ela irá durar. E eu digo isso porque ela ficou um tempo vazia, praticamente abandonada, e começou a se degradar”, conta. No imóvel agora existe uma confeitaria. “Muito boa, por sinal”, brinca Darlei.

Casa foi batizada com o nome de dona Lili, casada com Donato, neto de Albert | Foto: Arquivo pessoal

Construção em 1924 e restauração em 2011

Darlei relata que seu bisavô Albert construiu a primeira morada mais ou menos onde hoje está a Ponte Desembargador Mário Rau, que liga os bairros Amizade e Rau. “Havia uma estrutura bem boa, até com roda’água, porém, em 1922 uma enchente grande estragou muita coisa e aí, em 1924, ele construiu esta casa”.

A partir de 2011, o imóvel foi totalmente restaurado. “Eu e o meu cunhado, Jean Maurice, retiramos todos os tijolos e os acondicionamos em lotes de acordo com as divisões das madeiras. A parte mais difícil foi onde está o número 1924. Como esta placa é em cimento, precisei tirar todos os tijolos juntos e conseguimos deixá-la intacta”, conta Darlei, explicando que a restauração durou cerca de três anos para ser concluída e foi feita em três grandes etapas: primeiro foram realizados o desmonte e o remonte; em seguida o trabalho se concentrou no assoalho, janelas e parte interna; e por último foram executados a pintura e o acabamento final.

Placa de cimento marca o ano em que a casa foi construída | Foto: Fábio Junkes

 

Detalhe interno da casa após o restauro | Foto: Fábio Junkes

 

Detalhes da entrada | Foto: Fábio Junkes

 

Todas as características originais do imóvel foram mantidas | Foto: Fábio Junkes

“A arquitetura enxaimel foi preservada, mas fizemos algumas alterações nos cômodos internos da casa, trazendo ela para o presente, isto é, antigamente não havia banheiro dentro da casa e no restauro a gente colocou um banheiro e a lavanderia para dentro”, conta Darlei. “Antigamente, a casa tinha dois anexos com uma grande área que era considerada lavanderia, onde também tinha o banheiro, depósito, defumador e forno à lenha. Era muito legal, só que praticamente não temos fotos”.

Imagem mostra um dos anexos que havia na casa antes da restauração. Um segundo anexo já tinha sido demolido | Foto: Arquivo pessoal

Como o imóvel havia sido tombado em 2010, a maior parte dos recursos investidos na restauração veio do Fundo Municipal de Cultura, via edital, e toda a obra foi acompanhada de perto pelo arquiteto Carlos Baratto.

“Algumas coisas a minha mãe pagou do próprio bolso. As telhas eram para ser as mesmas, mas estavam muito velhas e não dariam uma boa cobertura. Internamente só havia uma divisão em alvenaria enxaimel, os quartos eram só tábuas. Nós fizemos estas divisões todas em enxaimel também”, detalha Darlei.

Antes da restauração, iniciada em 2011, as paredes internas eram de madeira | Foto: Arquivo pessoal

 

Com o restauro, as divisões da casa passaram a ser também com a técnica enxaimel | Foto: Arquivo pessoal

Marco da colonização alemã

“A Casa Lili Zickuhr Friedel testemunha a vida e os costumes da família Friedel, que a habitou por gerações, sendo um importante marco da colonização alemã e pomerana em Jaraguá do Sul. O imóvel é um símbolo do legado deixado pelos colonizadores europeus”, afirma Ademir Pfiffer, completando que a sua preservação é essencial para manter viva a memória e a identidade cultural da comunidade jaraguaense.

“Com seus 100 anos de história, a Casa Friedel continua a ser um ponto de referência para quem deseja compreender as raízes da cultura brasileira e nos convida a valorizar nosso patrimônio histórico e cultural”, finaliza o historiador.

Sobre a técnica enxaimel

O trabalho de restauração da Casa Lili Zickuhr Friedel foi orientado pelo empresário Paulo Volles, de Blumenau, que é especialista na técnica enxaimel, também conhecida como Fachwerk em alemão (treliça, na tradução para o português). A técnica utiliza uma estrutura de madeira, onde as peças se encaixam entre si, sem a necessidade de pregos ou parafusos. Era comum na Pomerânia e foi trazida ao Brasil pelos imigrantes alemães de origem eslava.

Foto do imóvel tirada nos anos 1950 | Foto: Arquivo pessoal

 

Construção faz parte do patrimônio histórico e cultural de Jaraguá do Sul | Foto: Arquivo pessoal

 

Registros do processo de restauração | Foto: Arquivo pessoal

 

 

 

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Elisângela Pezzutti

Graduada em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.