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“Todo mundo gosta de mim”

Foto divulgação | Pexels

Por: Raphael Rocha Lopes

20/11/2019 - 11:11 - Atualizada em: 20/11/2019 - 11:37

Todo mundo gosta de mim/ Todo mundo gosta de mim// Eu sei que eu sou bonito, divertido e inteligente// É tão bom sentir-se amado mas, no fundo, eu mereço” (Todo mundo gosta de mim, Ultraje a Rigor).

As pessoas estão ensimesmadas. Cada vez mais. E as redes sociais estão contribuindo para isso. Seus usuários querem curtidas, compartilhamentos, comentários. Sentem-se o centro do universo.

Espelho negro.

As histórias da série de ficção científica Black Mirror (Netflix) já não são tão ficção assim. Algumas delas estão aí na porta. Outras já entraram. Os monstros, agora, são digitais e amistosos.

O episódio Nosedive (primeiro da terceira temporada) impressiona pela semelhança a pessoas que conhecemos bem de perto. Isso realmente pode ser assustador: perceber que o futuro entrou pela janela e está sentado ao nosso lado.

Nesse episódio, sem spoilers, a protagonista vive num futuro em que a popularidade nas redes sociais conduz suas relações pessoais, profissionais e econômicas. Algo inimaginável hoje em dia, não?

As curtidas que contam.

Desde que o mundo é mundo, as pessoas esperam ser aprovadas de alguma forma, ser aceitas em seus círculos de amizade ou no ambiente de trabalho.

Hoje esta necessidade de aceitação foi transferida para as redes sociais. E cada uma com suas regras não escritas que se consolidaram: no LinkedIn as discussões são profissionais; o Twitter e o Facebook se tornaram praças de guerra com todos os doutores de suas linhas políticas discutindo com soberba sobre o que nunca leram na vida; e no Instagram as pessoas se sentem amadas no paraíso…

Nada contra. Tirando jornalistas fotográficos ninguém tira fotos feias ou de coisas ruins. Sim, eu sei que há exceções: pessoas que gostam de mostrar suas desgraças ou as dos outros, como urubus. Mas normalmente estão no Facebook e vamos tratá-las como exceções no Instagram.

E, em seus céus, estes usuários com suas belas fotos de praia, de seus pratos, de suas roupas, de seus adoráveis bichos de estimação ou suas próprias fazendo biquinhos ou ar blasé, esperam por curtidas. Muitas curtidas.

Alegrias e ansiedades.

Bem ao estilo “todo mundo gosta de mim” as curtidas se transformavam em felicidade. As pessoas medem sua popularidade pelo número de curtidas que recebem, não importa se seus seguidores são comprados ou se são decorrentes de bots (robozinhos que se passam por gente).

Mas, quando a coisa não flui, a música se transforma no roteiro de “Todo mundo odeia o Chris”, sem o bom humor e o aprendizado do Chris. As pessoas ficam ansiosas e deprimidas.

E isso ficou tão evidente que o próprio Instagram começou a estudar a possibilidade de retirar as curtidas do seu aplicativo. Por ora, retirou apenas a visualização por terceiros em alguns países, mas foi o suficiente para diminuir as curtidas e alguns usuários acharem que “ninguém mais gosta de mim”…

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.