Ponto de vista de um taxista

Por: OCP News Jaraguá do Sul

03/02/2017 - 14:02 - Atualizada em: 03/02/2017 - 14:10

Dia desses peguei um táxi na cidade. Recém havia chovido a cântaros. Foi uma tempestade de verão. Dessas de encher as ruas de água. Um motoqueiro com um enorme baú no bagageiro de sua moto buzinou insistentemente, ultrapassou o táxi, olhou para trás e xingou de dedo apontado. O taxista não podia fazer nada, porque o motoqueiro queria, porque queria, eles querem tudo, são donos da rua, um caminho e não havia como ir para a esquerda, nem para a direita. O taxista, sujeito bem-humorado, virou-se para mim e disse: – Sabe quantos tipos de motoqueiros existem? – Não! – Apenas dois. – Dois? – Os que já caíram e os que vão cair! Andamos mais um pouco, o motorista volta-se para mim: – Eu não sou daqui.

Mas o que seria de Jaraguá do Sul sem os paranaenses, afirma ele que continua. – Os paranaenses são um povo que gosta de trabalhar! Estão acostumados com a roça do café, do milho, do feijão. Quero ver um desses de pele cor-de-rosa típico dessas bandas trabalhando na roça. Naquele sol do meio dia na terra roxa, em dez minutos ficam com a cara da cor de um suco de goiaba!

O sotaque do taxista não enganava de onde era. Ele tinha sotaque da região sudoeste do Estado do Paraná, lá das bandas de Pato Branco. Aquele sotaque do “leite quente”. Aliás, como Santa Catarina, o Paraná é um Estado de sotaques bem distintos. O povo de Medianeira, Cascavel tem uma entonação bem diferente das cidades próximas ao Estado de São Paulo, que recebem a influência caipira do interior. Os curitibanos e o povo do litoral também têm sua característica peculiar ao falar.

– Semana passada fui fazer uma corrida até o aeroporto de Curitiba. Sabe quem eu vi lá? Aquela mulher da novela, que faz filme também. – Qual delas? Tem tantas! – A fulana de tal. E me disse o nome da personagem. – E daí? – Daí que ela não é nada daquilo que aparece na televisão. Tem pele ruim, chata, não falou com ninguém enquanto esperava por alguém, usava um fortíssimo perfume de jasmim que fez cheirar por tudo lá. Só olhava por cima, parecia que o mundo era mais baixo que ela. Televisão engana.

Ela tem uns coxões que deve ser enchido como alguma coisa. Nos peitos deve ter uma bola dentro, de tão saltado e grande. Nunca mais assisto as novelas dela. Quem eles querem enganar?

Os taxistas são uma espécie de termômetro da realidade, sabem de política, de economia, de artes, de religião, de esportes. Refletindo a vida do taxista não tem como não vir à cabeça o filme Taxi Driver (Motorista de táxi). Robert De Niro interpreta um taxista que roda pelas ruas de Nova Iorque.

O interessante, principalmente para quem conhece e imagina a Nova Iorque de hoje, são as cenas das ruas infestadas por gangues e prostitutas e histórias de taxistas reais da cidade na década de 1970. Taxi Driver é considerada uma obra prima do cinema e um dos mais assombrosos estudos sobre a solidão do ser humano.