“Você já mentiu hoje?”

Por: Raphael Rocha Lopes

27/05/2020 - 10:05 - Atualizada em: 27/05/2020 - 10:53

♫ “O que você faz quando/
Ninguém te vê fazendo/
Ou o que você queria fazer/
Se ninguém pudesse te ver”
(Quatro vezes você, Capital Inicial).

Quantas vezes você, caro leitor, já mentiu hoje? Há pesquisas neste sentido e o número assusta! Por outro lado, está difícil ler ou ver jornal sem esbarrar em alguma matéria que trate deste assunto, especialmente no mundo político, com o gourmetizado nome de fake news.

Infelizmente os políticos nacionais e internacionais transformaram seus palanques em um show de horrores de mentiras, disputando a atenção do povo na base de argumentos sensacionalistas e, muitas vezes, estapafúrdios.

Temperança e bom senso estão cada vez mais raros tanto nos meios políticos quanto nas mesas de botequins (ainda que, por ora, os botequins estejam fechados ou vazios). Boa parte da culpa desta polarização irracional da população é dos nossos governantes, que destilam ódio e acham bonita ou normal a agressão verbal como meio de manifestação.

Fofocas e fake news.

As fofocas de antigamente tinham, em regra, um impacto muito menor do que hoje. As fofocas eram as conversas de pé de orelha sobre uma informação verdadeira e desconfortável com pitadas de maldade. Independentemente de serem ou não verdadeiras, porém, poderiam também causar um estrago grande.

As fake news, como o próprio nome diz, são mentiras, muitas vezes deslavadas. Com o advento da internet, tornaram-se violentamente perigosas, pois alcançam muita gente em muito pouco tempo. Destroem reputações, negócios e vidas. E, no mundo político, ao que tudo indica, há grupos organizados propagando estas informações falsas, como se viu nas operações da Polícia Federal desta semana.

Mas fake news não são exclusivamente notícias puramente falsas. Neste universo de desinformação, informações fora de contexto também são assim consideradas. Escolher um trecho de uma fala, separando-o do todo, pode ser tão gravoso quanto uma mentira em si, pois o receptor da informação tirará conclusões completamente equivocadas.

Acontece o mesmo quando se pega uma manifestação fora do seu tempo: um discurso que poderia fazer sentido há dez anos, tratado hoje como atual possivelmente fará um estrago na imagem de quem se quer atingir.

Suas mentiras.

Mas nem toda mentira é do mal. Concordar que o jantar da sogra está maravilhoso em um encontro de família, mesmo que não esteja, trará mais benefícios do que problemas. Amenizar informações para filhos pequenos também tem seu fator construtivo. Assim segue a humanidade: sem essas pequenas mentiras sociais, não conseguiríamos conviver no trabalho, com os amigos e nem em família.

Para que se tenha uma ideia, pesquisas apontam que as pessoas mentem em média três vezes a cada dez minutos de conversa. Resta saber se tais mentiras são as socialmente necessárias ou se têm objetivos obscuros.

Quanto às mensagens que o leitor recebe via WhatsApp ou redes sociais, fica a dica: não repasse sem conferir e ter certeza de que se trata da verdade. Do contrário, passará a ser um disseminador do mal e, ao mesmo tempo, estará sujeito às penalizações da lei.