“Seu filho e a pedofilia na internet”

Foto divulgação/Pexels

Por: Raphael Rocha Lopes

02/12/2020 - 10:12 - Atualizada em: 02/12/2020 - 14:29

“♫ E agora é tarde, acordo tarde/ Do meu lado alguém que eu não conhecia/ Outra criança adulterada/ Pelos anos que a pintura escondia” (A cruz e a espada, RPM).

No início do ano comentei aqui sobre o sharenting, que, em interpretação livre, é a exposição exagerada dos filhos pelos pais na internet, um fenômeno mais identificado nas mães, embora a cautela deva ser do casal (esteja vivendo sob o mesmo teto ou não).

Naquele texto falei do direito de privacidade das crianças e adolescentes de não quererem ser expostos o tempo todo, do quanto pode interferir nos relacionamentos com amigos ou colegas da escola e de alguns casos que ganharam a mídia. Deixei para falar de segurança em outra oportunidade, e ela chegou.

Outros tempos

Matéria jornalística recente do Fantástico (Rede Globo) abordou o lado mais sombrio do shatering, embora o foco principal não tenha sido este tipo de exposição provocada pelos pais. Lá foi tratado das redes nacionais e mundiais de pedofilia.

É importante lembrar, mais uma vez, que pedofilia é considerada doença, um desvio de sexualidade que leva um adulto a sentir atração sexual por crianças e adolescentes de forma compulsiva e obsessiva. Nem todo pedófilo comete crime, assim como há alcoólatras que conseguem se conter. E nem toda pessoa que comete crime sexual contra criança é pedófila, pois pode não ter obsessão por sexo com criança, apenas obsessão por sexo. Mas há, sim, tipificação de crimes sexuais contra crianças no nosso sistema legal e na maioria dos países.

O fato é que o assunto é sério e grave e, em tempos de internet, ganhou proporções assustadoras. Antes pedófilos caminhavam por praças e ruas para encontrarem suas vítimas. Hoje navegam pela internet, pelas mais variadas redes sociais.

Amigos desconhecidos demais

O excesso de exposição a que os pais submetem seus filhos, desde recém-nascidos, é um prato cheio para os pedófilos. E pode ser um atalho aberto pelos pais sem que eles, obviamente, sequer sonhem com isso.

Infelizmente vivemos num mundo diferente de 15, 30 ou 50 anos atrás. Foi-se o tempo da publicidade com crianças nuas da margarina Mila (escrevi sobre o que aconteceria hoje aqui: bacafa.blogspot.com/2011/02/eramos-pedofilos-e-nao-sabiamos.html). Por isso os cuidados devem ser outros. Amigos demais nas redes sociais (muitas sequer conhecidas) são uma porta aberta para problemas de toda ordem.

Se é improvável (mas não impossível) o sequestro da criança exposta em demasia nas redes sociais para fins libidinosos, tanto não o é a foto de seu filho aparecer em site pornográfico em algum país da Europa para atrair a atenção para coisas piores.

Na internet, em matéria de exposição dos filhos, menos é mais. Quanto menos forem expostos, mais a família ganha.