“Pornografia e coronavírus”

Por: Raphael Rocha Lopes

17/03/2020 - 09:03 - Atualizada em: 17/03/2020 - 09:56

♫ “Proibido pela censura/
O decoro e a moral/
Liberado e praticado/
Pelo gosto geral/
Pelado todo mundo gosta/
Todo mundo quer”
(Pelado, Ultraje a Rigor).

A pandemia do coronavírus, indiscutivelmente, criou transtornos de diversas naturezas. As pessoas, em vários países, já não podem sair de suas casas, serviços estão comprometidos, comida e álcool gel faltando nas prateleiras, sistemas de saúde sobrecarregados e muito mais.

Com as ruas vazias, as imagens que chegam do exterior são tristes. Um ou outro alento, como os vizinhos cantando nos prédios italianos belas canções populares, dão um certo conforto no coração.

Espírito de solidariedade.

Algumas empresas, especialmente as de tecnologia, compadecidas com o caos que se instalou por causa da pandemia, estão fornecendo gratuitamente determinados serviços.

Se é efetivamente senso de responsabilidade social ou jogada de marketing, é difícil dizer. O fato é que empresas estão oferecendo gratuitamente produtos ou serviços como sistemas de reuniões online, licenças de programas para teletrabalho, acessos a notícias (antes pagos) e até internet para canais esportivos.

Entretanto a gentileza que mais tem chamado a atenção, até agora, é a do site de conteúdo adulto – ou seja, de pornografia – Pornhub. Eles resolveram oferecer assinaturas premium gratuitas para os italianos, que estão praticamente confinados em suas casas. A informação foi publicada no Twitter oficial da empresa.

A Itália, relembre-se, é o país que mais está sofrendo com o Covid-19 na Europa e a população está em quarentena geral. Quando escrevi este texto eram 28000 infectados e mais de 2000 mortos, com uma letalidade três vezes maior do que na China.

Também por conta deste gigantesco drama que sobrecarregou o sistema de saúde no país, a empresa dona do portal adulto ainda prometeu doar parte do lucro da publicidade que vende em seus canais para os hospitais italianos.

O outro lado.

Todavia, nem todos têm este espírito altruísta. Algumas pessoas pensam em simplesmente se aproveitar das crises para levar algum tipo de vantagem em cima dos mais desesperados.

Foi o que aconteceu nos EUA: dois irmãos, quando perceberam que a epidemia atingiria o país, compraram a maior quantidade de álcool gel, entre outros materiais, que conseguiram. Com o desaparecimento do produto das prateleiras, passaram a vender a preços exorbitantes pela internet.

As empresas gestoras destes sites (market places) logo perceberam a sacanagem e baniram a dupla de seus comércios virtuais. Para piorar a situação (para os irmãos) a Justiça mandou confiscar o gigantesco estoque. Não é desse tipo de gente que “cresce na crise” que a humanidade precisa.