“Cada suspiro seu”

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Por: Raphael Rocha Lopes

07/08/2019 - 11:08 - Atualizada em: 07/08/2019 - 11:30

Every breath you take/
Every move you make/
Every bond you break/
Every step you take/
I’ll be watching you”
(Every breath you take, The Police).

Quem é da minha geração (e não só da minha) e gosta de rock ou é fã da banda The Police ou gosta de algumas de suas músicas. Em regra, as músicas deles trazem mensagens politizadas, diretas ou indiretas.

A que usei como tema de hoje sempre me pareceu uma inspirada declaração de amor. Mas é um alerta!

A obsessão.

“Cada suspiro que você der, cada movimento que você fizer, cada laço que você quebrar, cada passo que você der, eu estarei te observando”, que é a tradução livre do trecho acima, mostra, na realidade, um cara obcecado e não um apaixonado.

E continua dizendo: “Oh, você não enxerga? Você me pertence. Como o meu pobre coração sofre com cada passo que você dá… cada sorriso que você fingir, eu estarei te observando”.

É tenso.

Esta obsessão tem levado muitos homens a cometer atrocidades contra suas esposas, namoradas e suas “ex”, e, às vezes, até contra seus filhos. O feminicídio, que não é novidade na história humana, parece ter aumentado nos últimos tempos. Talvez por estamos mais atentos ao problema.

A perseguição silenciosa e a internet.

Embora essa prática não seja novidade, modernamente cunhou-se a expressão inglesa stalking para designar a obsessão de alguém por outra pessoa, levando-a a invadir a privacidade da vítima de várias formas, como aparecer nos mesmos locais e insistir com ligações ou mensagens. Ou, o que é mais sinistro, estar sempre presente, à espreita, sem se fazer notar.

Com a internet, o stalking ganhou mais evidência. Os obcecados podem, de uma maneira ainda mais sutil, acompanhar suas vítimas pelas publicações nas redes sociais. A superexposição é um facilitador para os stalkers.

Para quem depende da imagem profissionalmente, como artistas ou celebridades, esta é uma situação mais complexa. O caso dramático de maior repercussão no Brasil foi o da modelo e apresentadora Ana Hickmann.

Em 2016, um stalker fez Ana e mais duas pessoas de reféns em um hotel em Belo Horizonte. Após uma briga, o perseguidor morreu. As investigações apontaram um altíssimo grau de obsessão do rapaz em relação à modelo, com suas redes sociais infestadas de fotos dela e mensagens “apaixonadas” e sexualizadas.

Em 2018, a apresentadora denunciou mais um caso de stalking, desta vez uma mulher.

Cada suspiro.

Obsessão não é amor. Nenhuma relação sobrevive a uma vigilância 24 horas por dia. Não vivemos no mundo do livro 1984. Por outro lado, as pessoas devem se atentar mais ao que expõem ou como se expõem nas redes sociais, assim como aos perfis que aceitam como amizade.

Com alguns cuidados, quem sabe, a música do The Police se torne apenas mais uma canção de amor, e só isso.