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Greve dos caminhoneiros: o sistema político tradicional foi atropelado

A paralisação dos caminhoneiros começou em função do preço do diesel e dos fretes, mas com apoio popular foi ganhando outras bandeiras revelando a indignação social e pautando manifestações contra o governo e a política tradicional em todo país. Em Jaraguá do Sul, a Praça Angelo Piazera foi o ponto de encontro

Por: Elissandro Sutil

29/05/2018 - 06:05

Os últimos dias foram de incerteza no Brasil. A força do movimento dos caminhoneiros, que contou com razoável apoio popular, surpreendeu e deixou muitas dúvidas no ar.

Além dos questionamentos individuais: – será que vai haver aula na escola do meu filho? será que terei ônibus para trabalhar? será que vai ter combustível?, e do temor do que virá depois, provavelmente diesel e gasolina mais baratos e a inflação atingindo em cheio outros produtos como alimentos porque na vida real benesses e concessões nunca vêm sem custos -, os políticos estão com as barbas de molho.  Observam os acontecimentos sem saber que conclusão tirar.

E não é para menos. A revolta da sociedade é gritante e ninguém tem como prever como isso irá se traduzir nas urnas. Parte do movimento grevista está defendendo, inclusive, intervenção militar já, mesmo com as restrições que poderiam ser impostas a todos por um regime de exceção e até mesmo o fim da liberdade que permitiu a paralisação e todo apoio social.

Entretanto, a descrença e a ausência de uma opção de credibilidade do ponto de vista do eleitor fazem com que a cada dia a procura por uma saída mágica, salvadora e perigosa aumente. Pobre Brasil; está difícil e sempre pode piorar.

As manifestações foram de apoio aos caminhoneiros e contra o preço exorbitante dos combustíveis, mas não só isso. Foram demonstração de revolta contra o governo do PMDB, os políticos do PT, do PSDB e de todo o resto.

Foram um grito de basta para um sistema educacional, de saúde e de segurança falidos, foram contra uma justiça seletiva e em Supremo Tribunal Federal suspeito. E contra até uma parcela da imprensa nacional que se nega a noticiar o contraditório.

A sociedade cansou. Ninguém aguenta mais pagar a conta da corrupção e dos privilégios, auxílio moradia, auxílio terno e etc… As costas de quem sustenta a nação já estão arqueadas. O problema é que a população foi historicamente tão enganada pelos políticos que para parte dela nem a proximidade do pleito de outubro traz esperança da mudança almejada.

O sistema está esfacelado no asfalto. O resultado positivo disso tudo é que eleitor descobriu que tem a força e o político que não entender que o jogo mudou é carta fora do baralho.

Em Foco

Reportagem do jornal O Globo revelou que as pensões pagas às filhas de militares mortos (do Exército, Aeronáutica e Marinha), muitas delas casadas e em idade produtiva, representam um gasto superior a R$ 5 bilhões por ano, mais do que toda a receita previdenciária das três forças em 2017.

Embora o benefício tenha sido extinto no fim de 2000, o Exército estima que, pelo menos até 2060, haverá filhas de militares com direito a pensão. Hoje, elas somam mais de 110 mil. Sabe quem paga a conta?

Em cima do muro

O oportunismo foi uma marca de muitos políticos nos últimos dias. A opinião deles muda conforme a maré. No PMDB há os que decidiram ficar em cima do muro, mas também há aqueles que preocupados com o pleito de outubro fizeram o jogo da oposição.

Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados Eunicio Oliveira e Rodrigo Maia correram para defender a queda dos impostos e criticar o governo, no qual eles têm uma parcela de indicados ajudando a deixar a conta mais cara para os brasileiros.

Em Santa Catarina e em Jaraguá do Sul muitos aproveitaram a onda pró-caminhoneiros e se fizeram ver nas manifestações. Até então, nenhum deles tinha um discurso incisivo contra a taxação dos combustíveis.

Agora muitos políticos com mandato falam da necessidade do Brasil baixar a carga tributária, mas o eleitor deve observar se durante a carreira eles fizeram uso de verbas excessivas de gabinete e de um punhado de assessores para não fazer nada. Ou até para fazer: trabalhar exclusivamente pela manutenção deles no poder.

O próprio deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que na quinta-feira havia afirmado que era contrário ao bloqueio de estradas dizendo: “fechar rodovia é extrapolar. Com isso, não dá para negociar”, no domingo defendeu os caminhoneiros e pediu a redução do preço do óleo diesel.

Todo mundo quer tirar uma lasquinha da greve, bem no estilo política tradicional que ninguém aguenta mais.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP