Normóticos não mudam o mundo – Nelson Luiz Pereira

Por: Nelson Luiz Pereira

01/04/2023 - 05:04

Nunca precisei fazer terapia, mas, apoio incondicionalmente quem busca ajuda de qualquer natureza para saúde e evolução. Se cuidar e se respeitar é uma atitude nobre e visionária.

A superficialidade e imediatismo de nossa sociedade moderna, tem desencadeado algumas doenças psicossomáticas, dantes nunca ouvido falar. Uma delas é a “normose”. Então, normótico, é uma pessoa acometida de normose.

Como não sou especialista das áreas de psicologia e psiquiatria, mas, um mero curioso da ciência comportamental, vou expressar no ‘populês’, como vejo essa moderna patologia que tem acometido muitas pessoas e, diga-se de passagem, ainda não se descobriu uma vacina.

Ela se prolifera em modelos de sociedades pré-formatadas, regidas e dinamizadas por padrões prescritos como: estética, uniformidade, conformidade, funcionalidade, racionalidade cartesiana, determinismo, perfeccionismo, egocentrismo, moralismo, entre outros.

Em tese, normótico é a pessoa irrevogavelmente normal, presa em grilhões imaginários, ou seja, a mais bem moldada e adapta aos padrões comportamentais impostos pela sociedade. Daí me pergunto: não é um grande paradoxo se submeter a padrões, sendo o ser humano diverso?

Ilustrarei, com algumas próprias experiências vivenciadas, o poder letárgico da normose: tenho substituído o automóvel pelas pernas. Não demorou para circular no meio social, comentários que retratam fielmente a rigidez de padrões: “o Nelson tá passando por dificuldades financeiras, porque é comum vê-lo caminhando por aí, com uma mochila nas costas. Outro dia foi visto parado numa calçada, no maior bate-papo com um gari”; ou então, observações do tipo: “veja só, o cara com seus 60 anos, resolveu tatuar os braços”. Ou ainda: “viram aquela pop star que deixou de depilar as axilas? E aquela cantora que não faz as sobrancelhas… Que ridículas”…

E tantas outras manifestações que bem diagnosticam essa patologia. O único lado bom da normose, ou normopatia, é provocar nos acometidos, o desejo de exclusão e estigmatização dos anormóticos (não normais, ou, emancipados).

Esses, por sua vez, intensificam o movimento de resistência e subversão de padrões arcaicos. Afinal, são os anormóticos que mudam o mundo.