Ele não a matou fisicamente, mas assassinou seu sorriso e sepultou sua dignidade – Nelson Pereira

Gilvana foi agredida com socos e acabou perdendo os dentes | Foto: Fábio Junkes/OCP News

Por: Nelson Luiz Pereira

18/02/2023 - 05:02

A ultrajante imagem da semana, viralizada na mídia regional, e propositalmente estampada no meio dessa coluna, é de uma mulher agredida em seu lar. Ela esconde seu semblante humilhado, tornando pública, tão somente, sua anônima boca desprovida dos dentes frontais superiores.

Ela é mais uma vítima de um elemento “machão” que integra uma legião de agressores de nossa cidade. Reitero: se não bastasse a banalização da mentira, da qual é vítima a sociedade, agora testemunhamos, também, a banalização da violência contra as mulheres.

O número de casos em Jaraguá do Sul é alarmante e crescente. Representamos, localmente, uma amostra fiel do Brasil, um dos países mais violentos do mundo para as mulheres. Portanto, aqui, nos tornamos uma referência negativa.

Os feminicídios, em âmbito nacional, também continuam crescendo. Estudos apontam que no estado de Santa Catarina, os casos dobraram em 2022. Em nossa cidade, o ano de 2023 começou acelerado.

A boca desdentada dessa injustiçada mulher, clama por “basta.” Em seu desespero, ela, inconscientemente, bem ecoa Mário Quintana: “Da vez primeira em que me assassinaram, perdi um jeito de sorrir que tinha. Depois, de cada vez que me mataram, foram levando qualquer coisa minha.”

A mulher dessa boca golpeada, não perdeu só os dentes, ela perdeu o sorriso, a dignidade e a justiça. Ela continua sendo agredida pela impunidade, e essa agressão mata a alma. Digo que a violência se nutre da ignorância. Poucos são os homens que conhecem a natureza feminina.

Pouquíssimos são os homens que sabem que “toda mulher leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração,” como bem nos legou Clarice Lispector. Raros são os homens que puxam uma cadeira ou abrem a porta do carro para a mulher.

Raríssimos são os homens capazes de enxergar que “a curva mais linda de uma mulher é o sorriso,” como bem percebeu o sábio e sensível Bob Marley. Mulher da boca morta, envergonhado de ser homem, te ofereço minha profunda indignação.

Certamente, pela justiça, não serás vingada, então, desejo intensamente que te vingues voltando a sorrir. Revoltado e indignado ouso repetir o que tenho sustentado: é pouco provável que os agressores e violadores dos direitos das mulheres, estejam lendo essas linhas, pois, estes usam o jornal para limpar o orifício que representa sua natureza.