Acho que existem poucas situações mais dolorosas para uma mulher do que um aborto. Não digo a dor literal, mas, sim, o trauma emocional que acarreta na grande maioria das pacientes, seja este em menor ou maior grau.
E é natural, quando a perda gestacional acontece, que se procure uma causa ou um culpado, entretanto, nem sempre é possível. E para, então, podermos falar mais sobre esse assunto tão polêmico, resolvi dividir o texto em duas partes.
Antes de mais nada, preciso definir o que é aborto. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o aborto é a interrupção da gravidez antes de 22 semanas de gestação, ou com um feto de até 500 g ou de 16,5 cm, quer dizer, antes de atingir viabilidade (antes de conseguir sobreviver fora do útero).
Infelizmente, o aborto é mais comum do que se imagina. Entre as gestações confirmadas, seja por exame de sangue, exame de urina ou ultrassom, de 15% a 31% não vão evoluir. Entre estes abortos, 80% acontecem no primeiro trimestre (até 12 semanas ou como vocês costumam dizer 3 meses).
Uma média de 66% dos abortos são “silenciosos”, ou seja, sem sintomas; pode inclusive passar despercebido como um atraso menstrual de poucos dias e um sangramento ligeiramente aumentado quando comparado ao normal.
A frequência do aborto aumenta conforme a idade materna e paterna. Por exemplo: uma mãe com menos de 20 anos tem uma chance de abortar de 12%, porém quando ela está acima dos 40 anos, a chance de abortar sobe para 26%. Para o homem isso também é verdade, homens que viram pais com menos de 20 anos, têm chance de abortar de 12%, a qual aumenta para 20% quando estão acima dos 40 anos.
Na maioria dos casos, o embrião morre e depois ocorre o descolamento da placenta, e o sangramento começa.
Em metade dos casos, ocorre uma gestação anembrionária (“ovo cego”, nem chega a formar um embrião) e na outra metade há embrião. Nesses casos em que havia embrião, metade dos embriões tinham quadro cromossomal normal (DNA normal) e a outra metade havia doenças genéticas (DNA alterado).
Fatores maternos associados à perda precoce:
- Infecção vaginal por mycoplasma hominis e ureaplasma urealyticum;
- Diabetes mellitus;
- Doenças da tireóide;
- Doença celíaca;
- Bulimia e anorexia nervosa;
- Radioterapia e quimioterapia;
- Obesidade;
- Tabagismo;
- Consumo de álcool;
- Cafeína em excesso – mais de 5 xícaras ao dia;
- Exposição ao benzeno, arsênico, chumbo, formaldeído, óxido de etileno, dicloro-difenil-tricloroetano (presente em inseticidas), óxido nitroso (3 horas ou mais por dia, utilizado em consultórios odontológicos sem filtragem de gás) e agentes quimioterápicos citotóxicos antineoplásicos;
- Síndrome dos anticorpos antifosfolipídeos – um tipo de trombofilia;
- Mal formações uterinas.
O fator paterno associado a abortos é a idade paterna; mas não porque não existam outros, mas por serem pouco estudados.
Há muito ainda a se falar sobre aborto, e vou trazer na próxima publicação.
Ficou com dúvidas, fale com seu médico. Se eu for sua médica, converse comigo. Mais informações nas nossas mídias sociais: Instagram @drajulianabizatto e Facebook @clinicajulianabizatto.
Dra. Juliana Bizatto
(CRM/SC 16684 | RQE 15232)
Endereço: Edificio Blue Chip: rua João Planincheck, 1990 – sala 501, bairro Jaraguá Esquerdo
Contato: (47) 3307 4853 | 9 9154 7387