“Tesão, paixão, amor”

Por: Francisco Hertel Maiochi

30/07/2019 - 15:07 - Atualizada em: 30/07/2019 - 15:16

Para mim, o começo da adolescência foi quando descobri um sentimento, a invasão de uma pessoa em minha mente. Não importa o que quisesse fazer ou pensar, a pessoa estava lá.

Toda palavra para ela era calculada, toda resposta, por mais banal que fosse, era analisada extensivamente e parecia carregar o peso do mundo, pelo menos do meu mundinho ainda um bocado infantil. Eu achava que aquilo era amor.

Nunca ficamos juntos, nem nunca conversamos muito. Eu não tive coragem de me aproximar, muito menos falar o que sentia, no alto dos meus treze ou quatorze anos. Agora, adulto, consigo fazer algumas reflexões que compartilho com vocês.

A primeira coisa que percebi é que esse sentimento precisava de uma outra pessoa, mas era quase todo sobre mim mesmo. Pensando agora, como que poderia amar uma pessoa que mal conhecia?

Embora eu sentisse pela outra pessoa, eu nunca tive algo com ela que justificasse a intensidade do sentimento, o quão incrível a pessoa parecia, o quanto a pele dela brilhava, como a voz era agradável, como o que ela não falava parecia ser a maior sabedoria do mundo.

Toda essa qualidade, que parece maior que a vida, tudo isso que eu sentia era a vontade de ser amado por alguém incrível. Isso é paixão. Esse desejo quase desesperado de ser amado, colocado em alguém.

Estar apaixonado é ao mesmo tempo maravilhoso e aterrorizante. Um “sim” te joga aos céus, um “não” parece o fim: da vida, do mundo, da alegria (que olhando para trás, obviamente não durou tanto assim).

Quando dá certo, a vida parece ter sentido que nunca teve, por um tempo. Mas como nada dessa intensidade realmente vem do outro, há um grande risco.

Em algum lugar há um ditado que diz que quando se usam óculos cor-de-rosa, toda bandeira vermelha é só uma bandeira qualquer. A lente impede de distinguir as cores umas das outras. O ditado nos conta que quando estamos apaixonados, simplesmente não conseguimos distinguir sinais de alerta que nos precaveriam de perigos no futuro.

Encontramos justificativas para todas as falhas do outro, tal é o nosso desejo que ele seja perfeito. Tudo o que ele faz de bom é perfeito, tudo o que faz de ruim parece não existir, e quando finalmente vermos a pessoa sem essas lentes, talvez algum estrago tenha sido feito.

Toda paixão acaba. Quando está tudo bem, aos poucos vamos percebendo a pessoa por quem ela realmente é. Todo aquele desconhecimento que preenchíamos com as melhores coisas de todo o universo, acabam sendo substituídos pela pessoa de verdade, e talvez nos demos conta que gostamos muito do que encontramos.

A paixão dá lugar a amor, algo sentido pelo outro, não pelo que ganhamos dele. Quando as coisas vão mal, a paixão dura mais.

Precisamos ainda mais daquela intensidade que justifica a vida, desejamos ainda mais aquela perfeição que redime toda a dificuldade: distância, dificuldades, conflitos com outras pessoas, como no trabalho ou na família, tudo aumenta a nossa necessidade de amor, e nos impede de ver as coisas como são.

É bom aprender a separar uma coisa da outra. Com alguma clareza, podemos aproveitar a intensidade da paixão, e ao mesmo tempo saber que estamos fora de si, embriagados de sentimento.

E uma vez embriagados, não devemos “dirigir”; talvez não seja uma boa hora para tomar decisões importantes com consequências duradouras. Aquele mudar juntos ou ter aquele filho, isso pode esperar que a paixão se aquiete, que as lentes cor-de-rosa caiam, e que possamos perceber as reais cores do que sentimos.

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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