“Pornografia é a vilã?”

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Por: Francisco Hertel Maiochi

20/05/2019 - 14:05 - Atualizada em: 20/05/2019 - 14:55

Pornografia, assim como quase tudo que envolve sexualidade, é um daqueles assuntos polêmicos, que divide opiniões em todos os campos. Duas das críticas que mais vejo são quanto a “ensinar coisas erradas” para crianças e adolescentes, e por impactar negativamente relacionamentos.

Uma dessas questões é verdadeira, mas talvez não do jeito que você pensa, e a outra é em grande parte falsa. Que a pornografia ensina coisas erradas, isso é bastante visível. Quando faço palestras com adolescentes e abro espaço para perguntas, é possível ver que para muitos deles a principal referência de sexo é a pornografia.

A média de idade de exposição à pornografia hoje em dia é por volta dos 13 anos. Além disso, é fácil de achar, e difícil de controlar. Mas antes de vilificar a pornografia, quero lembrar que materiais pornográficos são produzidos pela humanidade há milênios, já tendo sido encontrados registros em civilizações antigas pelo mundo todo, como na Grécia, Roma, Japão, Índia, e por aí vai.

É algo que sempre esteve conosco, afinal, sexo é um assunto que nos interessa, provoca nossa curiosidade e imaginação. O problema é quando a pornografia é a única referência. Assim, penso que é importante deixar muito claro alguns pontos para os adolescentes:

1 – Pornografia é entretenimento

É um produto feito para que a pessoa que esteja assistindo goste. A grande maioria feita para homens, embora uma boa parte também feita pensando nos gostos das mulheres. É produzida para retratar fantasias, e fantasias não correspondem à realidade, assim como praticamente todos os produtos de entretenimento.

Quando assistimos outras coisas, como séries policiais sabemos que não representam o dia a dia real de um policial. Sabemos que Grey’s Anatomy não é uma descrição do cotidiano de um profissional da saúde, e entendemos perfeitamente que o mundo dos Vingadores não existe, que o jogo do Super Mario não retrata a vida de um encanador italiano.

Mas para um adolescente com pouca ou nenhuma experiência real com sexo, é muito fácil aprender que aquilo que está vendo é como as coisas são ou deveriam ser. Na pornografia, ainda mais a de sites gratuitos, raramente há conversa, e raramente há contexto.

Não têm muita coisa que o sexo real tem: não tem momentos engraçados, como a dificuldade de tirar uma peça de roupa, não há barulhos, cheiros, fluidos, não há pausa para aplicar um lubrificante, e muito comumente, não há muito que os atores façam para o prazer das atrizes. Muito longe do que o sexo real é, ou pode ser para ser bom para todos os envolvidos.

2 – Ter fantasias e desejos é normal

Também é normal não conseguir viver todas elas. Todas as pessoas têm suas fantasias e desejos, e isso é absolutamente normal. Também é bastante comum que uma ou outra fantasia que temos não bata com a fantasia que nossos parceiros têm. No mundo real, as pessoas não são 100% compatíveis em tudo, e isso faz parte da vida.

Buscar uma satisfação destas fantasias com um produto de entretenimento é o que fazemos com todas as coisas que não podemos fazer na vida, e algumas das quais podemos também. Assistimos filmes de ação para extravasar nossa agressividade, assistimos histórias bonitas para satisfazer nosso desejo de coisas dando certo, jogamos Fifa já que não somos estrelas do futebol, e tudo isso nos dá um certo prazer. Extravasar é normal.

E para os relacionamentos? A pornografia fornece uma satisfação sexual imediata, simples, fácil, bem mais fácil que com um parceiro ou parceira. Em alguns momentos, coisas fáceis são tudo o que queremos para aliviar a tensão.

O problema surge quando usamos desse alívio para evitar ter que encarar problemas mais profundos, a pornografia acaba sendo uma ótima forma de mascarar conflitos. Muitas vezes o consumo de pornografia pode levar a culpa por problemas que já existiam entre casais.

Quando o casal está bem, pode ser uma ótima forma de iniciar uma conversa sobre fantasias e desejos, mas quando já há problemas se tornar uma forma de mascarar e adiar conflitos. Mais importante que apontar um ou outro culpado, é manter sempre o diálogo aberto e encarar as dificuldades.

 

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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