“Narcisismo”

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Por: Francisco Hertel Maiochi

27/08/2019 - 15:08 - Atualizada em: 27/08/2019 - 15:32

Na semana passada contei a vocês a história de Narciso e Eco, e como apaixonaram um pela imagem e pela voz do outro, sem realmente se conhecerem. Essa história deu nome para um fenômeno que falamos ainda hoje: narcisismo.

Quando pensamos em uma pessoa narcisista, geralmente imaginamos alguém cheio de si, que “se acha”, é vaidoso, pensando ser o ser mais lindo do universo, muito ligado à aparência.

Mas se olharmos para a história, vemos que o Narciso nem sabia que era bonito, afinal, nunca havia se visto. Talvez tenha acreditado em sua mãe (e qual filho não é bonito aos olhos da mãe, não é?).

O que Narciso valorizava era a ilusão que tinha de si mesmo.

Todos nós temos ideias que nos moldam. Alguns de nós somente vemos a nós mesmos como dedicados. Outros como bonitos. Outros como inteligentes. E da mesma forma, uns se consideram feios, outros preguiçosos, outros ignorantes. O que separa o narcisismo da sabedoria é conhecer a si mesmo, e não se apegar às imagens.

Todos nós conhecemos aquela mulher que achamos linda, mas que se acha feia. Aquela pessoa que se acha incapaz, mas demonstra potencial. Narcisismo não é sobre se achar melhor que os outros, mas sobre tentar proteger uma ideia de si mesmo independente do que ocorre no mundo a sua volta.

É aquela pessoa que mente e não vê as próprias mentiras para continuar se achando honesto. E aquela pessoa que se vê como ruim e não consegue perceber os elogios que recebe. As duas gastam energia para continuar a se ver como imaginam que são.

Quando paramos para analisar, nenhuma pessoa é honesta, não é uma característica do ser, imutável, mas do estar. É do agir do dia a dia. Nenhuma pessoa é bonita, simplesmente, eternamente.

Ela é bonita para alguém, em determinados momentos da vida, e não é para outros, em outros momentos.

Narcisista é a pessoa tão envolta em sua própria narrativa de si mesmo que não consegue ver direito o mundo a sua volta e como ele interage com a sua presença, e tenta preservar a imagem que tem de si mesma, seja essa imagem boa ou ruim.

Todos temos um tanto de narcisismo. Nos enchemos de rótulos: o bem-sucedido, a fracassada, a mais linda, o nerd, a indesejável, a profissional, a boa esposa… Os rótulos são infinitos. E nenhum rótulo assegura qualquer coisa.

Se achar qualquer uma dessas coisas não significa nada fixo ou garantido: o que conta são nossas ações, e nossas interações com os demais.

O único rótulo que realmente nos pertence, que realmente não podemos perder, é o nosso nome. Todo o resto é transitório, e quando nos apegamos, com o apego vem a possibilidade da perda, e o sofrimento.

E a forma de curarmos o nosso narcisismo?

É sempre através do outro. Podemos procurar ajuda, e nos conhecermos melhor. E acima de tudo, deixarmos de focar na nossa própria narrativa, e olhar para os mundos que existem para além do nosso próprio.

Podemos parar para refletir: como afeto o mundo ao meu redor? O que trago para as pessoas da minha vida? O que elas dizem sobre mim que não estou ouvindo?

Muitas dessas perguntas são difíceis. Especialmente a última, quando não conseguimos perceber os nossos pontos cegos.

É nesse momento que é preciso humildade para saber que não estamos no mundo sozinhos, que nem tudo é sobre nós, e que não temos como resolver sozinhos todos os nossos problemas. Não há mal algum em procurar ajuda, todos precisamos uns dos outros.[

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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