“Me apaixonei e a pessoa não era quem eu pensava”

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Por: Francisco Hertel Maiochi

13/08/2019 - 09:08 - Atualizada em: 13/08/2019 - 09:14

Você já se surpreendeu, descobrindo que uma pessoa não era como você imaginava? Talvez uma sensação de “quem é essa pessoa que eu achava que conhecia?”. Ou talvez uma decepção no amor, em que saindo da paixão percebeu que a pessoa que parecia ter tanto a ver contigo não tinha tanto a ver assim?

Talvez algumas dessas coisas tenham até se repetido, e você tenha pensado: “por que isso sempre acontece comigo?”

Para explicar um pouco desse sentimento, quero contar uma história que é bem conhecida para quem já estudou um pouco de psicologia ou mitologia. Aviso que é uma história sobre todos nós, e que ela nos alerta mais do que aparenta.

A história de Eco e Narciso começa com uma profecia. Os pais do Narciso o levaram para um profeta, lhe perguntando se Narciso teria uma vida longa. O profeta lhes diz que “sim, desde que ele não conheça a si mesmo”. Narciso cresceu sem conhecer nem sua própria imagem num espelho.

Eco, por outro lado, era uma ninfa falastrona, que adorava responder a todo mundo e sempre ter a última palavra. Foi amaldiçoada por uma deusa a sempre ter a ultima palavra, mas nunca poder iniciar conversa alguma.

Eco vê Narciso na floresta, e o acha tão belo que se apaixona. O persegue, mas não pode iniciar nenhuma conversa. Quando Narciso se dirige à ela, só lhe resta repetir suas últimas palavras.

Narciso se encanta com o mistério da moça, mas assim que ele a vê, a rejeita imediatamente. Eco, de coração partido, se esconde numa caverna e definha, até que reste só a sua voz.

Já Narciso continua a rejeitar a todos que aparecem. As ninfas rejeitadas rogam à deusa da Vingança que puna o jovem que rejeita a todas. A deusa lhe conduz a uma poça, e quando Narciso vê a imagem refletida, se encanta naquele ser que não lhe responde.

Decide esperar, eternamente, por esse amor não correspondido, e também morre, se tornando a flor que conhecemos, o Narciso.

Agora Francisco, o que isso tem a ver com as perguntas que você fez lá em cima?

As chaves para decifrar isto estão na história, e são muitas. Comecemos por Eco. Por quê ela se apaixona pelo Narciso? Só por sua aparência. Ela não sabe absolutamente nada sobre ele. Ela viu em Narciso tudo o que ela queria ver.

Para ela, Narciso era o melhor ser do mundo. Ela queria se apaixonar pelo melhor ser do mundo. Não perceber que se apaixonou por uma projeção dos seus próprios desejos fez com que a rejeição doesse tanto mais.

Não era como se um cara aleatório na floresta a tivesse achado estranha ou não atraente. Era como se a melhor pessoa de todo o universo dissesse isso. Sentiu como se nunca mais pudesse ser amada. Definhou até que restasse só sua voz.

Já o Narciso se encantou por aquela voz, enquanto não via sua dona. Se atraiu pela repetição de si mesmo, tudo o que uma pessoa que pensasse igual a ele poderia ser, mas a vendo, ela perdeu o encanto. Narciso era incapaz de amar uma pessoa que realmente conhecesse, que não fosse só um Eco de si mesmo.

Quando encontra sua imagem no espelho, ele nem sabe que é ele mesmo, mas aquele ser que não responde, que não entrega nada, que é só mistério, o coloca na mesma posição de Eco. Se apaixona justamente por quem será sempre potencial, mas nunca pode ser conhecido.

Ambos são capazes de se apaixonar, mas não de amar. Não porque amam a si mesmos, afinal, nem se conhecem, mas amam se apaixonar. Amam projetar seus desejos em alguém, e se frustram quando a pessoa se revela… uma pessoa.

Paixão é uma sensação ótima, intensa e perigosa, na falta de auto conhecimento. Continuamos essa reflexão na semana que vem!

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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