“O que não mata, fortalece” disse Nietzshe(2), talvez o precursor do conceito de ‘resiliência’ da psicologia. Isto lembra a ‘hormese’, processo celular em que o organismo reage a pequenas agressões, ficando mais forte e preparado para lidar com elas.
Ou seja, um pouquinho do mal, faz bem, tal como as vacinas: injeta-se um pouquinho de doença… e desenvolve-se imunidade a ela.
Os exercícios físicos são outro exemplo: destrói-se um pouquinho músculos e ossos, e eles se regeneram, ainda mais fortes, pois o corpo, inteligente, entende que ele está precisando usá-los com mais intensidade e aí vai construindo uma estrutura muscular e esquelética mais reforçada. Ou seja, desta regeneração otimizada, o corpo não só se recupera do trauma como, ainda, fica melhor.
Extramundo biológico, a ‘hormese’ faz sentido, também, em outros aspectos da vida, como os mentais e comportamentais, isto significando, por exemplo, que vale a pena, por exemplo, a exposição a pequenas doses de dor e desconforto, para crescer e ficar mais forte e, também, melhor interpretar os desafios que aparecem.
Assim, partindo do princípio de que formar sucessores – em lugar de meros herdeiros – exige dos pais que os ‘preparem’ para a vida, em vez de os ‘protegerem’ da vida, chega uma hora que os pais têm que ‘empurrar os filhos para fora do ninho’, para que, por conta e risco próprios, comecem a ‘voar’ em várias direções e construam seus novos ‘ninhos’.
Estes novos ‘jeitos de voar’, mera continuidade de etapas anteriores, como o desmame, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, a primeira dormida fora de casa, a primeira viag – todos momentos singelos – trazem ensinamentos sobre o exercício da liberdade.
Enfim, neste momento dos filhos crescidos, há que se incentivá-los à conquista do mundo longe dos pais, com estes aprendendo a abraçar à distância, comemorar vitórias das quais não participaram diretamente e apoiar decisões que fazem seus sucessores, eventualmente, caminhar para longe.
Neste ‘desapego’ em nome do amor, pais não podem sentir que filhos voando livres não os amarão mais. Também, não se achar imprescindíveis e, muito menos, ‘cortando asas de filhos’, confundir amor com segurança gratuita.
Em suma, que pais nunca impeçam sucessores de buscarem respostas próprias e viverem seus sonhos em vez dos seus próprios. Também, que nunca achem que sabem mais que eles, pois, neste caso, o ‘porto seguro’ vira âncora que os impede de navegar nas ondas de seu próprio destino.
Em resumo, que pais, principalmente, se empresários, não confundam amor com apego e nem congelem o tempo, fator este que tudo transforma no fluxo da vida.
Por fim, parafraseando Rubem Alves(3), “os ventos das mudanças pouco cabem nos corpos dos pais e amor paterno nada tem a ver com apego, segurança ou dependência, pois … o amor é alado. Ademais, a criança existente em cada pai/mãe, com filhos crescidos, assusta por não saberem o que fazer e, neste momento, mais vale libertar do que ser imprescindível, isto é, ter coragem não só para continuar voando, como para deixar seus sucessores voarem”.
Há voo mais belo que esse?
(1): https://osegredo.com.br/como-as-aguias-criam-os-seus-filhotes;
(2): FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE, alemão, filósofo, poeta e compositor prussiano do século XIX, com predileção por metáfora, ironia e aforismo;
(3): RUBEM AZEVEDO ALVES, brasileiro, psicanalista, educador, teólogo, escritor, pastor presbiteriano e autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis.
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Emílio da Silva Neto
Dr.Eng. Industrial, Consultor/Conselheiro/Palestrante/Professor (*) Sócio da ‘3S Consultoria Empresarial Familiar’ (especializada em Processo Decisório Colegiado, Governança, Sucessão, Compartilhamento do Conhecimento e Constituição de Conselhos Consultivos e de Família). Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Curriculum Vitae: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4496236H3
Tese de Doutorado: http://btd.egc.ufsc.br/wp-content/uploads/2016/08/Em%C3%ADlio-da-Silva.pdf
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