“Morrer para viver”

Foto divulgação | Pexels

Por: Andreia Chiavini

09/04/2021 - 09:04

Faz quatro anos que eu morri. Era final de tarde do mês de maio, típico dia de inverno. A brisa gelada e o sol tímido dava aquela sensação nostálgica. Ele chegou balançando uma pasta de exames, andando levemente, sem nenhuma preocupação. Quando perguntei sobre os exames, ele me entregou sem curiosidade alguma e me disse que não devia ter nada. E eu fui surpreendida pela notícia inesperada, o improvável aconteceu.

Foram aqueles exames que me deixaram sem chão, como se meu corpo flutuasse numa atmosfera que eu não conhecia. Tudo ao redor girava, meus pensamentos desapareceram e por longos segundos eu morri.

Um diagnóstico tirou meu chão, tirou minha esperança, meus sonhos, todos os meus desejos, naquele momento, minha vida toda acabou. Senti-me caindo num precipício que não tinha fim, em queda livre, sem poder me segurar em nada.

Meu marido estava com câncer. Medo e sofrimento. Perdemos a liberdade, tornamo-nos reféns de pessoas, de opiniões, de exames, da ciência, perdemos amigos que já não conseguem mais seguir ao nosso lado.

São muitas perdas, você perde aquela rotina que era confortável viver, você perde as forças, o ego, o orgulho, a esperança, você perde a vida que vivia, mas em algum momento você renasce.

Quatro anos se passaram. Hoje quando olho para trás, não consigo mais encontrar aquela pessoa que sentiu tudo isso. Eu realmente morri naquele dia. E renasci dia após dia, junto com o meu marido que também renasceu.

Não quero romantizar nenhum diagnóstico ruim, longe disso, até porque se deparar com ele é terrível, dói, muito mais que todas as dores já sentidas na minha vida. Dói de rasgar o peito. A vida é assim, completamente imprevisível. Mas parece que teimamos em querer viver como se tivéssemos tudo sobre controle.

O diagnóstico serve para que você viva a vida. Não sei exatamente como, porque cada um segue um caminho e uma forma. Somos tão cheios de conceitos e crenças que tentar direcionar um caminho é inútil. Mas o diagnóstico, e muito mais, o prognóstico vem para te fazer acordar, para você renascer, que você deixe para trás tudo o que não te leva para frente.

E aí, você entende que às vezes um abraço é o suficiente. Que o toque tem um poder de cura e o silêncio fala mais que qualquer palavra. Novos amigos e anjos aparecem na sua vida, que Deus nunca te abandona e ele realmente é bom o tempo todo. Você entende o que é ter Fé, que acreditar não é o suficiente, é preciso ter certeza.

Você renasce para reconstruir sua vida, para ser outro alguém, para entender o perdão. Que amorosidade é o que devíamos ter gravado na nossa essência e que principalmente agora, em tempos onde o medo domina o universo, devíamos ser verdadeiros humanos.

Ter um diagnóstico de câncer é uma luta diária, você vive um dia de cada vez, pois não importa mais o destino, o que importa é a trajetória que você percorre. Prestamos mais atenção no nosso tempo, pois cada um tem a sua própria ampulheta e que é virada no dia que nascemos. Ali, acima, o futuro, em baixo, o passado e o agora é o pequeno, estreito, ínfimo gargalo que permite o escoar ininterrupto da areia. A areia da ampulheta vai caprichosamente se derramando até chegar ao fim. Você pode avançar ou deixar a sua vida escorrer.

Com aquele diagnóstico eu tive tempo para morrer, ter o suspiro entre o passado e o futuro e renascer. Enquanto houver areia, transformar a cada instante presente em vida, em história.

Para finalizar, só resta saber se escrevi isso para mim, para me mostrar que é morrendo que se vive ou para você leitor, no desejo de que esteja igualmente alerta com o que faz com o seu tempo, ou ainda apenas em gratidão a vida.

Andreia Chiavini Movimento e Bem Estar

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