O hipotireoidismo é um distúrbio no funcionamento da tireoide e afeta até 12% dos brasileiros, seja criança, adulto ou pessoas mais maduras. A informação é do Ministério da Saúde.
A tireoide é uma glândula em forma de borboleta com dois lobos, que fica na parte anterior do pescoço, logo abaixo da região conhecida como Pomo de Adão, ou gogó.
De acordo com a endocrinologista Angela Beuren, a tireoide é responsável pela produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que atuam em todos os sistemas do organismo.
“A glândula é comandada pela hipófise, com a liberação do TSH, (hormônio tiroestimulante) que favorece a produção do T4 e do T3”, explica.
Segundo a especialista, o hipotireoidismo ocorre pela queda na produção desses hormônios T4 e T3. “Ou nenhuma produção deles”, diz, acrescentando que a doença afeta mais as mulheres.
A tireoide, conforme a Dra., também pode ser afetada por nódulos tireoidianos, dos quais um pequeno percentual é devido ao câncer de tireoide, também tratado pelo endocrinologista.
“O hipotireoidismo é mais comum em mulheres e indivíduos mais idosos, porém, os recém-nascidos também podem ser afetados. Trata-se do hipotireoidismo congênito”, frisa.
Já o diagnóstico, segundo a médica, é feito pela dosagem do hormônio TSH e dos hormônios T3 e T4.
“Níveis elevados de TSH e baixa dos hormônios T3 e T4 caracterizam o hipotireoidismo. Já o contrário, o hipertireoidismo”, informa.
Em recém-nascidos, de acordo com ela, o hipotireoidismo pode ser diagnosticado através da triagem neonatal, pelo tradicional teste do pezinho.
“Em caso de resposta positiva ao hipotireoidismo congênito [em recém-nascidos], o tratamento precisa ser iniciado imediatamente, sob rigoroso controle médico, para evitar consequências, entre elas o retardo mental”, ressalta.
Somente assim o bebê poderá ter uma vida normal. “Cerca de um a cada quatro mil recém-nascidos possuem hipotireoidismo congênito”, diz.

Foto Matheus Wittkowski
Como age
De acordo com a médica, a tireoide age na função de órgãos importantes como o coração, cérebro, fígado e rins.
“Interfere, também, no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, na regulação dos ciclos menstruais, na fertilidade, no peso, na memória, na concentração, no humor, e no controle emocional”, explica
Conforme a especialista, é fundamental estar em perfeito estado de funcionamento para garantir o equilíbrio e a harmonia do organismo.
Ela faz uma analogia: “se a produção de ‘combustível’ é insuficiente, acaba provocando hipotireoidismo.”
E continua: “assim, tudo começa a funcionar mais lentamente no corpo. O coração bate mais devagar, o intestino prende e o crescimento pode ficar comprometido.”
Uma tireoide desregulada provoca ainda diminuição da capacidade de memória, cansaço excessivo, dores musculares e articulares, sonolência, pele seca, ganho de peso, aumento nos níveis de colesterol no sangue, e até depressão.
“Na verdade, o organismo nesta situação tenta ‘parar o indivíduo’, já que não há ‘combustível’ para ser gasto”, ressalta.
O contrário também traz implicações. “Se há produção de ‘combustível’ em excesso, ocorre o hipertireoidismo. Nesse caso, tudo no corpo começa a funcionar rápido demais, o coração dispara, o intestino solta, a pessoa fica agitada, fala demais, gesticula muito, dorme pouco, pois se sente com muita energia e ao mesmo tempo muito cansada.”

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Doença autoimune
Segundo a Dra., em adultos, na maior parte das vezes, o hipotireoidismo é causado por uma doença autoimune, denominada Tireoidite de Hashimoto.
“Ocorre que os anticorpos produzidos pelo organismo acabam atacando as células tireoidianas e as destruindo. Esta doença afeta, principalmente, mulheres, sendo de cinco a oito vezes mais frequentes neste público do que em homens”, explica.
Ela afirma que o hipotireoidismo também pode ser causado pelo tratamento com iodo radioativo ou por cirurgia da tireoide, que são realizados para tratar outros tipos de distúrbios da tireoide. “Problemas com a hipófise são outras causas raras”, diz.
De acordo com a médica, quanto mais envelhecemos, maior é a chance de apresentar Tireoidite de Hashimoto. “Apesar disso, crianças também podem ser afetadas pelo problema.”
Células tireoidianas
Conforme Dra. Beuren, a doença autoimune pode ir destruindo aos poucos as células tireoidianas, e essa degradação pode levar anos.
“Por ano, apenas cerca de 3% a 5% dos indivíduos com anticorpos positivos desenvolve uma lesão na tireoide tão extensa para apresentar hipotireoidismo”, diz.
Isso acontece, explica, porque a glândula tireoide tem muita reserva funcional e, mesmo sendo atacada, supre as necessidades do organismo em termos de produção de hormônios tireoidianos.
“Só na fase avançada da doença é que o paciente apresenta hipotireoidismo manifesto, com sintomas, mas isso pode levar anos”, frisa.
Diagnóstico
Segundo a médica, o diagnóstico de hipotireoidismo é especialmente importante durante a gravidez. “O hipotireoidismo materno não tratado pode afetar o crescimento e o desenvolvimento do cérebro do bebê”, ressalta.
E diz mais: “tanto o hipertireoidismo quanto o hipotireoidismo podem afetar a fertilidade e, se não tratados adequadamente, associar-se a complicações da gestação e a problemas para o feto.”
O hipotireoidismo é tratado com uma medicação que contém o hormônio da tireoide, na forma de comprimido. A levotiroxina é a droga de escolha e é um medicamento sintético (industrializado) de T4 idêntico ao T4 que a tireoide produz.
“Os comprimidos são em microgramas, e não em miligramas como a maioria dos medicamentos. Por isso, a levotiroxina não deve ser manipulada, pois há chance de erro de dosagem e biodisponibilidade, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia”, explica.
De acordo com a Dra., a maioria das pessoas precisa de reposição de hormônio da tireoide por toda a vida. Se a marca ou a dosagem precisarem ser mudados, ela deve refazer os exames do TSH e a dose da medicação será ajustada com base nos seus resultados.
“Ao longo do tempo, doses excessivas de hormônios tireoidianos podem levar à perda de massa óssea, à função cardíaca anormal e a arritmias cardíacas. Por isso que esse ajuste deve ser realizado”, diz.
E acrescenta: “por outro lado, doses muito baixas podem não aliviar os sintomas da doença. Assim, é importante que o paciente seja acompanhado por um especialista na doença.”
Conforme a Dra., se estiver usando a medicação regularmente, e assim mantendo os níveis de TSH dentro dos valores normais, quem tem hipotireoidismo pode levar uma vida saudável, feliz e completamente normal.
Onde atende
A Dra. Ângela Beuren (CRM 22889 e RQE 13603) atende na rua Guilherme Weege, 202, sala 407, edifício Accord Center, em cima do laboratório Fleming. O telefone é (47) 3054-0514 ou 99241-3314. O e-mail é [email protected].