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Maternidade sem julgamento: os desafios e alegrias das mães jaraguaenses

Por: Elissandro Sutil

12/05/2018 - 05:05 - Atualizada em: 29/05/2024 - 11:43

“Você não precisa estar perfeita o tempo todo, você precisa entender o seu sentimento”. A frase poderia caber para inúmeras situações e, possivelmente, poucas pessoas a encaixariam na figura alvo de homenagens e manifestações de carinho neste domingo (13).

Todo segundo domingo de maio, o ritual se repete e costuma variar pouco entre os lares brasileiros. Ou a família se reúne na casa da mãe, ou todo mundo se reúne para passar o dia em um restaurante ou para um passeio familiar. Mas, a figura central, independente do programa ou local, segue sendo a mesma: a mãe.

O que, talvez, nem todo mundo se dê conta é a maneira como este se torna um dia em meio a outros mais de 360 em que ela, a mãe, pode passar invisível em meio a uma sociedade que a enxerga como a perfeição.

E a cobrança também segue sendo inabalável. Se nos comerciais típicos desta época do ano a família é perfeita, com filhos felizes, bem vestidos, limpinhos e uma mãe afetuosa, paciente e sem qualquer resquício de dor ou arrependimento, a vida real entre as quatro paredes é diferente e pesa sobre os ombros da figura central deste domingo.

Assista aos depoimentos de duas jaraguaenses sobre o assunto:

A jaraguaense Giovana Bongiovani conta que ser mãe é maravilhoso, mas maternar é muito difícil devido a toda pressão social que as mães enfrentam. Leia aqui o depoimento completo!

https://www.youtube.com/watch?v=nT7_6z9Qkz4

“A sociedade não está pronta para receber uma mãe”, é a frase da mãe Carla Corrêa Pongelli Azevedo. Segundo ela, a maternidade promove uma desconstrução diária. Leia aqui o depoimento completo!

https://www.youtube.com/watch?v=QXbxwsw1ZVk

Imagem de ‘mulher perfeita’ é resquício histórico

Para a master coach e psicóloga Kelly Moraes, a ideia de que a mulher tem como objetivo e missão de vida cuidar da família e ser esse poço de perfeição é um resquício histórico de uma sociedade que enxergava o homem como provedor e a mulher como aquela que deveria, simplesmente, cuidar da casa e dos filhos.

Apesar de ainda existir um fio desse pensamento, a psicóloga defende que a sociedade tem, aos poucos, se desconstruído deste conceito, embora a pressão continue sendo intensa para que as mães continuem dispostas a dar tudo de si para os filhos.

Foto: Divulgação

Em meio a esse contexto, a psicóloga entende que as mulheres têm conseguido compreender que os papéis precisam se igualar e que a constituição familiar faz com que todos estejam no mesmo patamar dessa pirâmide.

Mas ela alerta que é necessário romper de uma vez com esse modelo, permitindo-se viver a maternidade a sua maneira. E, como ressalta Kelly, o principal é entender as emoções, e não busca uma perfeição inexistente.

Sem modelos e com escolhas conscientes

A psicóloga enfatiza ainda que a culpa por não obedecer a esse padrão perpetuado de geração em geração se dissolve a partir do momento que a mulher “se permite ser o que é naquele momento que está passando”.

Kelly afirma que trabalhar a mente para lidar com esses pré conceitos e com a ideia de que a mulher precisa abdicar de si para se dedicar ao filho é fundamental para que essa culpa não provoque escolhas baseadas em modelos que não cabem a ela.

“Ela precisa se perguntar quem ela é. Claro, ela ganhou mais um papel, mas o que ela é? A construção de um plano de identidade e entender de onde está vindo esse pensamente de ser ‘só’ mãe.”

E está tudo bem se ela optar por romper com profissão ou outras coisas e ser mãe em tempo integral, mas ela precisa entender de onde está vindo essa escolha e entender que as crenças e os valores influenciam. Compreender isso é fundamental para não se perder”, ressalta.

A psicóloga chama a atenção ainda para os problemas decorrentes dessa imposição social por uma mãe disponível inteiramente ao filho, à maternidade e, especialmente, a uma maternidade formatada no imaginário social.

Uma pesquisa da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) apontou que uma em cada quatro brasileiras apresentam sintomas de depressão pós-parto no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê.

O índice aponta para 25% das mães brasileiras, número superior ao estimado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), para países de baixa renda, onde 19,8% das parturientes apresentaram algum transtorno mental, em sua maioria, a depressão.

Foto: Divulgação

Para Kelly, isso acontece, justamente, por essa pressão de perfeição que acaba chocando com a realidade pós-parto. “Não tem que ser assim, é um momento unicamente seu, viva o seu momento”, diz.

E ela alerta ainda que as experiências, a vivência e os sentimentos são particulares e muito distantes da fantasia montada sobre a maternidade.

“Para conseguir ter essa experiência de forma única é preciso se perguntar que tipo de fantasias se faz a respeito da maternidade? É preciso ter uma maternidade consciente e saber que é um momento em que se passa por uma montanha russa de emoções”, explica.

A psicóloga alerta ainda que a mulher não pode “se esquecer e perder a sua autonomia”. A maternidade é um desafio e, para a psicóloga, manter a consciência durante o caminho é primordial para construir um caminho mais leve durante esse desafio.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP