No mês da Consciência Negra, o Instituto Yduqs e o IDOMED estão disponibilizando gratuitamente o curso gratuito de letramento étnico-racial, como parte do programa Mediversidade. A formação é voltada a estudantes, docentes, colaboradores e profissionais da saúde. Online e com 40 horas de carga horária, o conteúdo foi desenvolvido pelo médico Fleury Johnson, especialista em Clínica Médica e fundador do Instituto DIS (Diversidade e Inclusão na Saúde). Os quatro módulos tratam de temas como autoconhecimento, manifestação do racismo na prática clínica, estratégias de enfrentamento e o papel de cada pessoa no processo de transformação institucional.
“A construção de um ambiente formativo mais justo e diverso é um compromisso institucional. O curso de letramento étnico-racial amplia o alcance dessa pauta e contribui diretamente para formar profissionais mais conscientes, empáticos e preparados”, afirma Claudia Romano, presidente do Instituto Yduqs e vice-presidente do grupo educacional Yduqs.
A ação reforça o compromisso do programa Mediversidade com a formação médica mais inclusiva. Dados de pesquisas nacionais e internacionais apontam que mulheres negras sofrem mais violência obstétrica, têm acesso mais restrito a cuidados especializados e maior subestimação da dor — elementos diretamente relacionados à formação e à atuação dos profissionais de saúde.
*Professora de Libras transforma trajetória de estudante surda em Jaraguá do Sul
Programa Mediversidade
O Mediversidade foi lançado em 2024 no Fórum de Diversidade do Instituto Yduqs como um programa pioneiro no Brasil, com o objetivo de tornar o ensino da medicina mais diverso e atento aos impactos dos vieses sociais. A iniciativa surgiu a partir do dado de que apenas 4,5% das ilustrações em literatura médica representam peles negras — o que evidencia lacunas no processo formativo.
“O Mediversidade é mais do que uma iniciativa, é um movimento contínuo de transformação. Temos o dever de garantir que nossos futuros médicos compreendam e respeitem a pluralidade da população brasileira, especialmente no cuidado com as populações mais vulnerabilizadas”, destaca Silvio Pessanha Neto, CEO do Idomed.
Com três pilares principais — Ensinar, Incluir e Mobilizar — o programa reúne metas de curto, médio e longo prazos. Entre elas: a revisão da matriz curricular dos cursos de Medicina (com 70% das unidades prevendo mudanças até 2026), a criação de um fundo para apoiar pesquisas sobre diversidade, a ampliação de vagas afirmativas para docentes e a reserva de 10% das bolsas sociais para estudantes negros, indígenas e pessoas com deficiência.
Joyce da Silva é uma das contempladas com as bolsas ofertadas pelo Mediversidade. De origem humilde, a jovem conta como a medicina e a luta racial a inspiram todos os dias a seguir o sonho de ser médica.
“Eu sempre digo que a Medicina me escolheu. Desde muito nova, o cuidado com o outro, a empatia e o amor pelas pessoas fazem parte de quem eu sou. Escolhi (ou fui escolhida por) uma profissão que me permite transformar esse amor em ação. A Medicina me dá a chance de aliviar dores, acolher histórias e fazer diferença na vida de alguém. Como mulher negra, entendo que minha presença na medicina já é, por si só, uma forma de resistência e representatividade. Pretendo trabalhar a diversidade racial ocupando espaços que, por muito tempo, não foram acessíveis a pessoas como eu e abrindo caminhos para que outras também possam chegar. Quero mostrar que é possível vencer, inspirar e cuidar, respeitando as histórias e realidades de cada pessoa. A medicina precisa refletir a sociedade em toda a sua pluralidade, e acredito que contribuir para isso é uma das minhas maiores missões”, destacou.
Outras ações em andamento incluem a aquisição de manequins de simulação realística com tons de pele diversos, a oferta de serviços assistenciais voltados a populações com marcadores étnico-raciais e o fomento à produção científica com foco em equidade na saúde. Em abril de 2024, por exemplo, o programa passou a apoiar projetos de pesquisa científica sobre diversidade nas 18 unidades de Medicina do Idomed.
Para a professora e médica Amanda Machado, do Idomed, o programa representa um avanço necessário: “O Mediversidade no curso de medicina, que é majoritariamente branco e elitista, se faz necessário e urgente como uma ação antirracista concreta. A formação médica deve se comprometer com a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”, afirma.
O curso de letramento — está disponível para todos os públicos por meio da página oficial: www.idomed.com.br/mediversidade