A explosão que ocorreu nesta terça-feira (12) na empresa de explosivos civis Enaex Brasil, em Quatro Barras, no Paraná, trouxe à tona a lembrança de um desastre semelhante que aconteceu em Jaraguá do Sul há mais de 70 anos.
O local da tragédia, conhecido como Tifa da Pólvora, deixou os jaraguaenses em pânico quando a fábrica de pólvora Pernambuco Powder Factory explodiu na manhã de 6 de novembro de 1953. O triste incidente matou dez dos 22 funcionários do estabelecimento, e é até hoje a maior tragédia registrada na história da cidade. Na época o município tinha pouco mais de 30 mil habitantes.
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A terça-feira (12) amanheceu agitada na Região Metropolitana de Curitiba, quando pouco depois das 5h50 um acidente atingiu uma fábrica de explosivos civis. De acordo com a empresa Enaex, nove funcionários estão desaparecidos e outros sete ficaram feridos. Até o final da tarde desta terça, as autoridades não haviam confirmado o total de mortos e nem as identidades das vítimas.
O acidente aconteceu em uma área de 25 metros dentro da empresa onde os explosivos são preparados para transporte, segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Paraná, Coronel Hiller. A empresa trabalha com turnos em escalas 24 horas e haviam pessoas na fábrica no momento da explosão.
A Enaex Britanite é uma companhia paranaense que atua no desmonte de rochas e na produção de explosivos. O barulho foi ouvido em bairros próximos e em cidades vizinhas, como Piraquara e Campina Grande do Sul.
Relembre a tragédia que marcou a história de Jaraguá do Sul

Movimentação no dia em que ocorreu a explosão | Foto: Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul
A instalação da fábrica de pólvora em Jaraguá do Sul aconteceu por iniciativa dos imigrantes alemães Fritz e Henrique Rappe, em 1912, no local conhecido na época como Tifa Rappe. Durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a fábrica foi ocupada pelo 13º Batalhão de Caçadores. Naquele período, ocorreu a primeira explosão, quando parte da estrutura foi destruída, mas ninguém se feriu. O incidente se repetiu em 8 de setembro de 1941, também sem deixar feridos.
Com o fim da guerra, em 1918, os primeiros proprietários mudaram-se para Curitiba e venderam o que restou da fábrica para Augusto Mielke. Em 1926, a empresa foi vendida para Reinoldo Rau, que em 1939 a vendeu para um grande fabricante de pólvora com sede em Pernambuco – a S/A Pernambuco Powder Factory, que produzia pólvora, explosivos de segurança e estopins da marca “Elephante”. A fábrica jaraguaense tornou-se, então, uma filial e produzia diariamente cerca de cem quilos de pólvora.
Localizada na rua Pedro Floriano, no bairro Czerniewicz, a Pernambuco Powder Factory era a terceira maior produtora de pólvora do Brasil e desapareceu com a explosão. A estouro foi ouvido em um raio de 50 quilômetros e tirou a vida de Arlindo Cunha, Reinoldo Jung, Alfredo Franke, Ernani Francisco da Costa, Severino da Luz, Leopoldo e Raul Bruch (pai e filho), Leopoldo Tescher, Arnaldo Pereira e Hercílio Sabino que trabalhavam no local.
A explosão que abalou a estrutura de centenas de casas e estabelecimentos comerciais, movimentou as ruas da cidade e deixou marcas que perduram até hoje. Dois dias depois do acidente, o jornal O Correio do Povo realizou uma matéria especial com a manchete “Jaraguá de luto. A explosão da fábrica de pólvora – 10 mortos e oito feridos”.

Monumento no cemitério do Centro homenageia as dez vítimas que perderam a vida na explosão | Foto: Divulgação
Para homenagear as vítimas da explosão, um dos fundadores da WEG, Werner Voigt, já falecido, instalou uma cruz com mais de sete metros de altura no cemitério do Centro em 2013, onde quatro vítimas da explosão estão enterradas.