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Brasil registra, anualmente, cerca de 20 mil mortes devido à automedicação

Foto: Freepik

Por: Priscila Horvat

26/05/2025 - 11:05 - Atualizada em: 26/05/2025 - 11:44

Dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma) mostram que, anualmente, o Brasil registra cerca de 20 mil mortes devido à automedicação. Quando não leva à morte, o hábito, que é considerado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como um problema de saúde pública, pode trazer consequências irreversíveis para o cérebro e para a saúde do indivíduo.

De acordo com a neurocientista da BrainEstar, Dra. Emily Pires, medicamentos como benzodiazepínicos (ansiolíticos), opioides (analgésicos potentes) ou psicoestimulantes (como metilfenidato e lisdexanfetamina) atuam em sistemas essenciais do cérebro.

“O uso repetido desses remédios pode alterar a neuroplasticidade do cérebro, ou seja, ele começa a depender da substância para manter o equilíbrio, reduzindo sua própria produção natural de neurotransmissores. Essa adaptação causa tolerância (necessidade de doses maiores), abstinência e compulsão, que são marcadores da dependência”, explica a especialista.

Segundo ela, o uso crônico também pode prejudicar a rede executiva central, afetando foco, planejamento e tomada de decisões.

“A dependência afeta principalmente o sistema de recompensa, que leva à busca repetitiva pela substância; o córtex pré-frontal, que é responsável pelo controle inibitório e julgamento — o que explica a perda de controle e impulsividade; e o hipocampo e a amígdala, que são ligados à memória emocional e ao estresse, o que reforça a dependência, especialmente em contextos traumáticos”, pontua Emily Pires.

A neurocientista acrescenta ainda que, neurobiologicamente, não há grandes diferenças entre o vício em medicamentos e em drogas ilícitas. “O circuito cerebral da adição é o mesmo. A diferença está na porta de entrada e na aceitação social. Medicamentos muitas vezes começam com prescrição médica ou automedicação ‘inocente’, o que pode mascarar a dependência. No cérebro, porém, o impacto é tão danoso quanto o de drogas ilícitas, especialmente quando há uso prolongado ou abuso”, comenta.

De acordo com ela, automedicar-se é expor o cérebro a desequilíbrios neuroquímicos sem controle clínico. “Isso pode gerar dependência, mascarar sintomas de doenças graves, provocar efeitos colaterais sérios e interações medicamentosas perigosas. Além disso, o uso inadequado pode reforçar circuitos cerebrais disfuncionais, agravando quadros de ansiedade, depressão ou insônia, em vez de tratá-los”, acrescenta.

Apesar de complicada, há uma chance de recuperar o cérebro após uma exposição desse nível. “A recuperação é possível, mas depende de diversos fatores: idade, tempo de uso, tipo de substância, predisposição genética, suporte psicossocial e presença de comorbidades. A boa notícia é que o cérebro tem alta capacidade de neuroplasticidade, ou seja, pode criar novas conexões e retomar funções perdidas. No entanto, esse processo exige tempo, disciplina e intervenções adequadas, como psicoterapia, nutrição, sono restaurador e ferramentas de neuromodulação”, esclarece a neurocientista.

Uma das formas de ajudar o cérebro a se reequilibrar de forma não invasiva é por meio da técnica do neurofeedback. “O neurofeedback treina o cérebro a reequilibrar sua atividade elétrica sem o uso de substâncias externas, mas sim por meio do monitoramento da atividade cerebral em tempo real. Em pacientes com histórico de dependência, ele ajuda a regular o eixo do estresse (reduzindo ansiedade e irritabilidade), restaurar padrões de sono, foco e autocontrole, reduzir o craving (vontade intensa de consumir a substância), e estimular o cérebro a funcionar bem sem depender de estímulos químicos externos”, conclui a especialista.

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Priscila Horvat

Jornalista especializada em conteúdo de saúde e puericultura.