Neste Dia das Mães, o OCP traz uma matéria que mostra que a empatia e o amor materno incondicional podem ir além dos laços sanguíneos. Um exemplo disso são as mulheres que doam seu leite para alimentar outras crianças. Leia a seguir!
Funcionária do Hospital e Maternidade Jaraguá há quase uma década, Taís Becker, 36 anos, é mãe da pequena Manuela, de pouco mais de 1 ano de idade. Por cerca de 10 meses, Taís doou o seu excedente de leite materno para o Banco de Leite Humano (BLH) da instituição. Ela conta que só parou de doar porque sua produção de leite diminuiu bastante depois que a filha, de forma natural, começou a mamar menos e a se interessar por outros alimentos. “Só de saber que a gente está alimentando mais bocas já é uma sensação maravilhosa. O coração fica quentinho”, afirma.
Na outra ponta está a jovem mãe Beatriz Eduarda Lange, de 26 anos. Professora residente em Schroeder, Beatriz deu à luz as gêmeas Joaquina e Amélia, que nasceram prematuras em 14 de março deste ano. Ela já era mãe do Benjamin, que hoje tem 3 anos, mas as experiências nos dois partos foram bem diferentes. Após o nascimento, o menino pode ir para casa junto com a mãe, mas o mesmo não aconteceu com as duas meninas, que precisaram de internação. Joaquina ainda está na UTI Pediátrica e não tem previsão de alta.

Beatriz com a filhinha Amélia | Foto: Divulgação
“Eu sou muito grata às mães que doam o seu leite porque a gente precisa desse apoio, dessa força, alimentando os nossos filhos, enquanto passamos por momentos tão difíceis. Fiquei muito sensível, desesperada com minhas filhas na UTI”, conta Beatriz, que não estava produzindo leite nos primeiros dias após a cesárea. “O que amenizou a situação foi o banco de leite. Eu recebi todas as orientações que eu precisava e isso me tranquilizou. É muito difícil ter um bebê e não poder ir para casa com ele”, desabafa.

Beatriz com sua pequena Joaquina, que segue internada | Foto: Divulgação
O leite fornecido pelo banco continua ajudando a jovem mamãe e suas pequenas. A Amélia está no quarto Canguru e Beatriz está podendo amamentá-la. Joaquina, que está na UTI, continuou sendo alimentada pelo leite doado por outras mães, até que, por uma intercorrência médica, precisou fazer uso de uma fórmula infantil.

Enquanto estava amamentando a filha Manuela, Taís doava o excedente de seu leite no BLH. “O coração fica quentinho”, diz | Foto: Fábio Junkes
Hospital Amigo da Criança
O Banco de Leite Humano do Hospital e Maternidade Jaraguá foi fundado em setembro de 2007 e atualmente é credenciado na categoria Ouro no Programa Ibero-americano de Bancos de Leite Humano, com premiação de excelência pelos serviços prestados.
O hospital possui o título de “Amigo da Criança”, um programa das Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que visa proteger, promover e apoiar o aleitamento materno em hospitais.
Laudinéia Lessa, que atuou por 12 anos como enfermeira intensivista Neonatal e Pediátrica e há três anos passou a ser enfermeira assistencial do banco de leite, explica que a prioridade é atender os bebês hospitalizados na UTI Neonatal e na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI), para onde eles vão depois de sair da UTI para finalizar o tratamento antes de ir para o quarto.
O BLH é um apoio para os setores de internação, que incluem a UTI Pediátrica, a Pediatria, a Maternidade, a UTI Neonatal, a Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Convencional (Ucinco) e a Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal (Ucinca), especializada para recém-nascidos de baixo peso ou prematuros, que necessitam de cuidados intermediários, e onde é praticado o método canguru, que promove o contato pele a pele entre mãe e bebê.
“Eu faço a intermediação com as mães doadoras para que a gente tenha leite suficiente para os bebês. Nós conseguimos captar cerca de 50 litros de leite por mês e o estoque é quase todo consumido”, informa. “Há casos em que a mãe recebe alta, mas o bebê segue internado. Quanto maior o tempo de internação, maior é o desgaste emocional e físico da mãe e isso afeta a produção de leite, porque ela não está com o bebê o tempo todo. E aí a gente precisa da doação por conta disso”, completa.
Para facilitar para as mães, as enfermeiras Madeline Florvil Leccius e Regina Aparecida Pascucci buscam o leite na casa das doadoras todas as quartas-feiras, em Jaraguá e em outros seis municípios da região – Guaramirim, Schroeder, Corupá, Massaranduba, Barra Velha e São João do Itaperiú, fornecendo os vidros esterilizados, máscara e toca, para garantir a higiene do leite. “Só não dispomos de ordenhadeira por conta do custo e a gente não tem esse orçamento, até porque são 50 a 60 doadoras por mês”, explica Laudinéia. O cuidado com a higiene é fundamental para que quando for feita a avaliação da qualidade do leite, que passa por uma análise rigorosa, ele seja aprovado.
Laudinéia explica que não há banco de leite nos municípios citados e que o Hospital Jaraguá é uma unidade referência, que funciona como porta de entrada para toda a região. Segundo ela, são realizados cerca de 500 partos por mês. Todos ou quase todos os bebês da região nascem na maternidade do Hospital Jaraguá.

“Quando a gente ajuda um bebê a mamar ou consegue uma doadora, a gente está realmente salvando vidas”, diz Laudinéia | Foto: Fábio Junkes
Alimento que salva vidas
O leite humano é composto por nutrientes e fatores imunológicos que protegem bebês de infecções, diarreias e alergias, além de contribuir para o desenvolvimento saudável, reduzindo o tempo de internação.
“Quando a gente tem um banco de leite na instituição é um ganho de qualidade de vida para os prematuros. O leite materno possui mais de 200 tipos de proteção, incluindo a prevenção de inúmeras infecções. Até os 3 anos de vida, o bebê que mama no peito apresenta menos chances de ter problemas gastrointestinais e respiratórios, que são doenças comuns nesta faixa etária e que podem ser fatais. Quando a gente ajuda um bebê a mamar ou consegue uma doadora, a gente está realmente salvando vidas”, reforça Laudinéia.
A doação de leite também traz benefícios para a mulher. Quanto mais se estimula a produção de leite, por meio da amamentação ou da extração, mais leite é produzido, prevenindo o ingurgitamento mamário e garantindo que o leite seja suficiente, não só para o bebê que está sendo amamentado, mas também para outros que precisam.
Toda mãe é uma potencial doadora. As mulheres interessadas em doar parte do seu leite devem entrar em contato com o BLH pelo telefone (47) 3274-3053 ou pelo e-mail [email protected].