A Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é definida pelo Ministério da Saúde como um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes, associadas à competitividade e responsabilidade. O excesso de trabalho é justamente a principal causa da doença, que é mais comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão, como, por exemplo, professores, médicos, enfermeiros, jornalistas e policiais, entre outros.
Essa síndrome pode evoluir para um quadro de depressão profunda e por isso é essencial procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas, tais como alterações no apetite, sentimentos de fracasso e insegurança, mudanças repentinas de humor, alteração nos batimentos cardíacos, insônia, negatividade constante, isolamento, dores musculares, pressão alta, sentimentos de derrota e desesperança, fadiga e problemas gastrointestinais.
Geralmente, esses sintomas começam de forma leve e, por esse motivo, muitas pessoas acham que pode ser algo passageiro. Mas, para evitar problemas mais sérios e complicações da doença, é fundamental buscar apoio profissional assim que notar qualquer sinal. Pode ser algo temporário, como pode ser o início da Síndrome de Burnout.
Vivendo a Síndrome de Burnout
Por um lado, o psicólogo se via altamente desmotivado a ir trabalhar, sentia um sofrimento antecipado, notadamente aos domingos, no final do dia. “Não sem motivo, as crises de pânico vinham nas segundas de manhã, o que me fez ligar o alerta e conversar com meu superior sobre um eventual acordo de desligamento”, conta.
Na época, Ricardo tinha 39 anos, morava em Jaraguá do Sul e ocupava um cargo de responsabilidade e confiança, com relativa estabilidade na empresa em que trabalhava. Ao mesmo tempo, já tinha planos de mudar de carreira, fazia três anos que estudava Psicologia e ele e sua esposa estavam tentando engravidar da primeira filha.
“Ainda não tinha nenhum conhecimento específico sobre o assunto. Só sabia que aquele ambiente me trazia sofrimento, incluso os psicossomáticos, e queria muito me afastar dele”, relembra. “Foi uma época complicada, um pouco antes do início da pandemia e eu estava desempregado. Tinha reservas financeiras, então consegui me dedicar à família nesse período e me distanciei do trabalho remunerado. Hoje estou muito satisfeito com meus trabalhos, estudos e as minhas demandas produtivas”, afirma.

Ricardo afirma que pessoas insatisfeitas com seu trabalho são mais propícias a desenvolver o Burnout | Foto: Arquivo pessoal
Como distinguir o estresse normal do dia a dia de algo mais sério?
Sobre saber diferenciar o estresse cotidiano de uma Síndrome de Burnout, o psicólogo diz que, a grosso modo, isso pode ocorrer pela maneira como você lida/percebe esse estresse. “Se for algo que não seja tão frequente, em que consiga se recuperar, descansar e se sentir motivado a novos desafios no seu ambiente de trabalho, podemos dizer que é um estresse benéfico. É importante salientar que a Síndrome de Burnout não pode ser simplesmente associada à fadiga ou exaustão emocional, pois existem outros eixos estruturantes”, explica.
Segundo Ricardo, os pesquisadores também enfatizam que o Burnout advém especialmente de uma condição de desequilíbrio entre ‘demandas versus recursos’ e ‘expectativa versus realidade’, em que os níveis de demandas e expectativas superam os recursos e a realidade e impedem o indivíduo de se adaptar à situação. Em decorrência, as pessoas desenvolvem uma gradual perda de energia, de comprometimento e de esperança, gerando prejuízos à produtividade e à satisfação laboral. Por essa via seguem explorando dois eixos principais: as condições ambientais e laborais e as características dos indivíduos ali expostos.
O psicólogo explica que, nesse sentido, há condições laborais onde os trabalhadores estão mais propícios a desenvolver Burnout. Isso vai desde a cultura da empresa, modelos de liderança, tipos de função, formas de violência (assédio, agressividade) no ambiente de trabalho, até características pessoais, como personalidade, gênero, classe social, locus de controle (a crença que uma pessoa possui de poder ou não controlar os eventos de sua vida), estratégias de coping (conjunto de esforços cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que surgem em situações de estresse e são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo seus recursos pessoais) e situacionais (tipos de função e escolaridade). “Tudo isso interfere no desenvolvimento da síndrome. Um exemplo: pessoas insatisfeitas com seu trabalho e que possuem a percepção de ter uma condição de saúde ruim são mais propícias a desenvolver o Burnout”, observa.
Ricardo afirma que para evitar chegar a esse ponto, é necessário estar atento aos sinais do seu próprio corpo. Sensação de fadiga constante e desinteresse crescente são alertas importantes. Sintomas psicossomáticos, como ansiedade, pânico e depressão também devem ser considerados. “Do ponto de vista ideal, uma vida equilibrada obviamente ajuda. Isso inclui alimentação balanceada, exercícios físicos regulares, um ambiente de trabalho que ofereça satisfação e equilíbrio com as outras áreas da sua vida (saúde, família, finanças, tecnologia, etc.)”.
O psicólogo ressalta que muitas pessoas ainda consideram o problema como “frescura”, mas que isso ocorre mais por desconhecimento do que por má-fé. “Como se trata de um fenômeno relativamente novo, ele é permeado por estigmas dos mais diversos. Embora as pesquisas científicas nessa área não sejam novas – já são mais de 40 anos de estudo -, ainda são pouco divulgadas e apreendidas pelo grande público”.
Doença ocupacional
Em janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout foi incorporada à lista das doenças ocupacionais reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Com isso, as pessoas diagnosticadas passaram a ter as mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas para as demais doenças do trabalho. Isso significa que se um segurado do INSS ficar incapacitado para o trabalho por mais de 15 dias devido à Síndrome de Burnout, ele tem direito ao auxílio-doença acidentário, que garante a estabilidade provisória, ou seja, ele não poderá ser dispensado sem justa causa nos 12 meses após o seu retorno.
No Brasil, a síndrome tem o código QD85, dentro da CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).
Em 2024, foi aprovada a lei nº 14.831, conhecida como Nova Lei da Saúde Mental, que institui o “Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental” para empresas que implementarem boas práticas de promoção da saúde mental de acordo com a atualização da NR-1, realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que entra em vigor a partir de 26 de maio de 2025 e agora inclui a avaliação e gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho.