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Os jovens e o monstro chamado Trabalho

Foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

15/04/2025 - 13:04 - Atualizada em: 15/04/2025 - 17:03

♫ “É chato chegar/ A um objetivo num instante/ Eu quero viver/ Nessa metamorfose ambulante/ Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”♫ (Metamorfose ambulante; Raul Seixas)

O Brasil enfrenta um paradoxo inquietante: uma geração conectada 24 horas por dia, mas cada vez mais desconectada das exigências do mundo do trabalho. Apesar de estarem imersos em tecnologia desde a infância, muitos jovens demonstram baixa motivação para ingressar ou se manter no mercado de trabalho, além de apresentarem deficiências em habilidades básicas exigidas pelas empresas.

Dados revelam que, no primeiro trimestre de 2024, a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 29 anos foi de 14,2%, quase o dobro da média nacional. Além disso, 4,6 milhões de jovens entre 14 e 24 anos não estudavam nem trabalhavam, os chamados “nem-nem”.

Um dos fatores que contribuem para esse cenário é a dependência excessiva dos smartphones. Embora 95% dos jovens entre 16 e 24 anos acessem a internet, apenas 49% o fazem por meio de computadores. Essa preferência pelo celular resulta em dificuldades no uso de ferramentas essenciais no ambiente corporativo, como editores de texto e planilhas. Eles não sabem utilizar programas básicos, o que compromete sua empregabilidade.

(In)competências comportamentais

Além das habilidades técnicas, há uma carência de competências comportamentais. A falta de proatividade se torna ainda mais evidente quando pais acompanham os filhos em entrevistas de emprego ou são quem avisa o empregador que o filho não vai mais trabalhar porque “está cansado”, demonstrando uma dependência adolescente, apesar da idade. Essa postura reflete uma ausência de autonomia e responsabilidade, características fundamentais no ambiente profissional. Está-se diante de uma cultura de hiperproteção familiar e de falta de incentivo à autonomia. São muitos os casos de jovens que não sabem resolver conflitos simples ou tomar decisões sem consultar os pais.

A baixa adesão a cursos de formação profissional agrava esse problema. Apenas 6% dos jovens entre 16 e 24 anos estão matriculados em cursos técnicos no Brasil, enquanto a média nos países desenvolvidos é de 35%. Essa lacuna na qualificação limita as oportunidades de inserção no mercado de trabalho e perpetua a informalidade e o desemprego.

Nem todo mundo é um “geniozinho da internet”, embora muitos achem que são, ou muitos pais achem que seus filhos são.

Criatividade também anda em baixa. Hoje, mais do que nunca, quase nada se cria, tudo se copia. Basta alguém fazer sucesso com alguma besteira na internet, que milhões imitarão.

Para reverter esse quadro, é necessário um esforço conjunto entre governo, empresas e sociedade. Investimentos em educação técnica, programas de incentivo à autonomia juvenil e políticas públicas voltadas para a inclusão digital são fundamentais. Além disso, é preciso fomentar uma cultura que valorize o trabalho como meio de realização pessoal e contribuição social, resgatando o sentido e a dignidade do labor entre os jovens.

Espírito rock and roll

Também falta mais sangue rock and roll nessa juventude. Mais contestação, mais senso crítico, mais inconformismo, mais criatividade. Rock and roll é revolução e transformação. Por outro lado, tem sobrado mesmice e concordância rasa. A metamorfose ambulante parece estar sucumbindo na bolha dos marias-vão-com-as-outras.

A transformação digital deve ser acompanhada de uma transformação cultural, onde a tecnologia seja aliada na formação de profissionais competentes e cidadãos conscientes e críticos de seu papel na construção de um futuro mais justo e produtivo. Deveria, pelo menos.

 

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.