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Dupla jornada: como a sobrecarga afeta a saúde mental das mulheres

Foto: Freepik

Por: Priscila Horvat

09/03/2025 - 14:03 - Atualizada em: 09/03/2025 - 14:30

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, as discussões sobre equidade de gênero ganham um espaço ainda maior. Em 2025, um dos temas centrais envolve o desafio enfrentado por inúmeras mulheres: conciliar carreira e vida pessoal. Esse cenário, marcado por uma jornada dupla, ou até tripla, pode impactar diretamente a saúde mental das mulheres que, muitas vezes, se sentem sobrecarregadas ao tentar equilibrar responsabilidades profissionais e familiares.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgados em setembro de 2024, mostram que as mulheres recebiam em média 20,7% a menos que os homens empregados no setor privado do país. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que em 2022, enquanto as mulheres dedicaram, em média, 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas, os homens gastaram 11,7 horas. O órgão federal mostrou ainda que a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho foi de 53,3% enquanto a dos homens foi de 73,2%.

Para a psicanalista e especialista em desenvolvimento profissional Rachel Poubel, esse acúmulo de funções reflete diretamente no bem-estar psicológico. “A dupla jornada, geralmente, é exaustiva. As mulheres dormem tarde, acordam cedo, estão constantemente preocupadas com o bem-estar de todos e da sua casa. Ao longo do tempo essa sobrecarga gera burnout, ansiedade e até depressão, entre outros males emocionais”, alerta a especialista.

A expectativa social imposta às mulheres para que se saiam bem tanto como profissionais quanto como mães e donas de casa, aumenta a pressão. Muitas enfrentam o dilema constante de não se sentirem plenamente eficazes em nenhuma dessas áreas. “A sensação de fracasso é comum, porque existe a ideia de que é preciso dar conta de tudo com perfeição”, frisa Poubel.

A importância da rede de apoio

A empresária Daiane Gambarti Eleutério conta que enfrentou dificuldades, no início do casamento, para conciliar as atividades profissionais com as pessoais. Ela afirma que tanto o auxílio da terapia como a do esposo, foram fundamentais para conseguir organizar a sua agenda e ter uma rotina mais leve.

“Minha rotina se divide entre trabalho, casa, marido e pets, que também precisam de atenção. No início eu me perdia muito, chegava no final do dia com uma lista imensa de coisas pra fazer e vinha a frustração de não ter feito tudo. Antes eu tinha uma lista com mais de 50 tarefas pra fazer no meu dia e só conseguia fazer quatro, e achava que eu não tinha feito nada, apesar de passar o dia correndo pra lá e pra cá. Com a ajuda da terapia eu consegui me organizar melhor, hoje ando com bloquinho de notas no bolso e ali vou anotando as prioridades. Com organização e meu marido como rede de apoio, que me apoia em tudo e que divide as tarefas domésticas, a gente consegue manter a vida organizada, mesmo em meio a tantas tarefas”, disse.

Para a esteticista Rafaela Ferreira, a dupla jornada é ainda mais exaustiva. Além de trabalhar em sua própria estética, ela também é professora, esposa e mãe de uma criança de nove anos e de um adolescente de 15 anos, que exigem demandas distintas.

“A dupla jornada exige da mulher uma força sobrenatural, é muito desafiador. Quando a mulher não tem um marido que apoia, a mãe ou outro parente por perto, é muito difícil exercer essas multitarefas e ter uma saúde mental bacana. Pra eu conseguir realizar tantas funções é graças à minha rede de apoio (esposo e mãe), que me ajuda tanto nas tarefas domésticas, quanto no cuidado com meus filhos. Mas é importante a mulher ter maturidade de entender que as coisas só vão chegar se a gente correr atrás, e como eu sempre tive essa base, eu sempre corri atrás dos meus objetivos. Eu tive que exercer uma resiliência muito grande, muita disciplina, uma força mental muito grande, e isso adquiri através do autoconhecimento, da terapia que faço toda semana, do exercício físico e do cuidado com a minha alimentação. Então, além da rede de apoio, também é preciso ter inteligência emocional para gerenciar tudo isso”, afirma.

Desafios do ambiente de trabalho

Se, por um lado, o mercado de trabalho evoluiu para permitir que mais mulheres ocupem posições de destaque, por outro, ainda há poucas políticas que ofereçam suporte adequado às mães. Embora a legislação brasileira contemple a licença-maternidade e o direito a pausas para amamentação, muitas mulheres relatam dificuldades ao voltar ao trabalho, como a falta de flexibilidade de horários ou até a sensação de estagnação na carreira após a maternidade.

Para Rachel Poubel, as mulheres são frequentemente penalizadas em termos de oportunidades de crescimento porque o mercado ainda enxerga a maternidade como um empecilho.

“As empresas precisam entender mais sobre as mulheres e terem campanhas ao longo do ano, não somente em março. Precisam de conscientização para que entendam que nós precisamos de equidade. Que uma mulher pode ser muito produtiva para a empresa e que não é um gênero que vai fazer com que perca o rendimento, mas que perceba que está ganhando com a precisão, detalhamento e exigência que uma mulher tem quando desenvolve um trabalho”, ressalta.

Saúde mental e autocuidado

Diante desses desafios, é fundamental que as mulheres priorizem o autocuidado. Reservar tempo para atividades que promovam o bem-estar físico e mental, como a prática de exercícios, meditação ou hobbies, pode ajudar a reduzir a tensão do dia a dia.

“A maioria acredita que autocuidado é fazer os cabelos e as unhas e estar com os cílios e sobrancelhas em dia, isso também é importante, mas o fundamental é investir no tripé da saúde física, mental e emocional: alimentação saudável, sono de qualidade e exercícios físicos”, alerta a psicanalista.

A especialista acrescenta que “a maioria das mulheres colocam os afazeres ou as responsabilidades financeiras de todos em primeiro lugar, por isso sobra pouco ou nada para elas. O primeiro passo é ter consciência que os outros só vão respeitar as mulheres quando elas mesmas entenderem que em primeiro lugar precisam estar bem para depois ajudar e serem boas para os outros. Quando eu cuido de mim eu estou forte emocionalmente e fisicamente eu consigo ser boa mãe, boa esposa, boa pessoa na sociedade. Outro ponto importante é colocar limites em todos os que convivem com elas. As mulheres precisam entender que é importante descansar e que não precisam dar conta de tudo sozinhas, por isso, precisam delegar tarefas e dividir os afazeres domésticos”, conclui.

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Priscila Horvat

Jornalista especializada em conteúdo de saúde e puericultura.