A dúvida sobre se um piloto pode dormir durante um voo é comum, principalmente em trajetos longos, onde as fases de decolagem, subida, descida e pouso demandam mais atenção.
Em situações de menor atividade, como durante o voo em cruzeiro (que é quando a aeronave voa em altitude constante e velocidade estável, geralmente após a subida inicial e antes da descida final), os pilotos têm permissão para descansar, utilizando o piloto automático para gerenciar o avião.
As regras de segurança estabelecem que os pilotos podem dormir, mas a prioridade é sempre o gerenciamento do cansaço.
Para fazer esse gerenciamento, os profissionais utilizam algumas estratégias, como conversas entre os colegas de cabine, leitura e pequenos cochilos (com tempo controlado), para evitar que o sono os surpreenda em momentos críticos.
No Brasil, existem quatro tipos de tripulação: mínima, simples, composta e de revezamento, cada uma com suas particularidades em relação ao descanso.
Na tripulação mínima, por exemplo, os pilotos não podem deixar o comando do avião.
Na configuração simples, composta por dois pilotos, não há previsão de descanso formal, resultando em jornadas de até 12 horas sem pausas. Nesses casos, a alimentação é feita na própria cabine.
Já na tripulação composta, com dois comandantes e um copiloto, é permitido que um membro saia para descansar, permitindo jornadas de até 16 horas.
O revezamento, com quatro pilotos (ou dois comandantes e dois copilotos), possibilita que dois possam se afastar da cabine para descanso, alcançando jornadas de até 20 horas.
Os pilotos podem se dedicar a várias atividades durante os momentos de baixa carga de trabalho, como monitorar os sistemas da aeronave e preparar planos de contingência. No entanto, é proibido ouvir música, assistir a filmes ou ler materiais não relacionados ao voo.
Embora o Brasil não permita cochilos na cabine, alguns procedimentos, como o descanso controlado (um cochilo de até 30 minutos), são praticados em outras partes do mundo, sempre com supervisão rigorosa.
No Brasil, a regulamentação exige que os pilotos permaneçam acordados durante todo o tempo em que estão na cabine, devendo adotar estratégias para manter a atenção.
Porém, cochilos breves são reconhecidos por estudos como benéficos para a concentração e capacidade de resposta em situações críticas.
De acordo com o engenheiro de aviação Björn Lundström, ex-capitão da Scandinavian Airlines, que também já foi piloto de testes e que hoje trabalha como palestrante e instrutor de voo, o “relaxamento de cruzeiro é um procedimento aprovado e muito importante para a segurança do voo”.
“É bom ter dois pilotos de alerta para a aterrizagem, quando a carga de trabalho é alta, então porque não deixar um piloto relaxar quando a carga de trabalho está baixa? Melhorar a segurança dos voos não é nada de que se envergonhar, pelo contrário”, ele avalia.
É ele, aliás, que aparece na imagem que ilustra essa matéria, enquanto tira um cochilo na cabine de uma aeronave A350.