As deformidades genéticas e adquiridas do tórax

Foto Piero Ragazzi/OCP News

Por: OCP News Jaraguá do Sul

04/10/2019 - 06:10 - Atualizada em: 08/10/2019 - 12:16

As deformidades da parede torácica podem ser divididas em congênitas e adquiridas. No caso das congênitas, pelo fato delas existirem desde sempre, às vezes são relevadas por muito tempo, algumas vezes pelos pacientes e outras pelos familiares.

No entanto, a melhor atitude a ser tomada, sem dúvidas, é a investigação da deformidade, pois assim poderemos saber qual o grau de risco que a mesma oferece e, então, decidir qual a melhor conduta a ser tomada para evitar complicações futuras.

Deformidades genéticas

As deformidades genéticas mais conhecidas são: o Péctus Excavatum ou coloquialmente, “peito de sapateiro”; Péctus Carinatum também chamado de “peito de pombo”; e Síndrome do desfiladeiro torácico.

Os Péctus se manifestam desde a fase infantil, tornando-se mais visível quando os indivíduos apresentam o crescimento inicial, podendo ter manifestações dentro da esfera social ou orgânica.

Péctus Carinatum

O Péctus Carinatum, dificilmente gerará alterações cardíacas, pois a estrutura se projeta para fora; no entanto, ainda pode fazer uma restrição à eficiência respiratória, e pode também gerar dor torácica, além de alterações psicológicas que passam a atrapalhar o convívio em sociedade.

Neste caso, os exames serão praticamente os mesmos que os relatados abaixo, para o Péctus Excavatum, assim como o tratamento.

Péctus Excavatum

O Péctus Excavatum, por sua vez, pode trazer alterações relacionadas com a diminuição do espaço entre o osso esterno e a coluna, interferindo no funcionamento dos pulmões e do coração; podem também gerar dor crônica e alterações de cunho psicossocial.

No começo da nossa vida até a adolescência, o tórax é mais maleável, após este período, vai ocorrendo uma maior ossificação das estruturas cartilaginosas, com isso os sintomas podem ficar mais evidentes e o tratamento concomitantemente ficará mais difícil de ser realizado.

Quando o osso central afunda, ele passa a tocar no coração e algumas vezes desloca o mesmo para o lado esquerdo, esta diminuição também cria uma restrição à função respiratória.

Existem níveis de afundamento que são muito bem definidos com uma tomografia computadorizada de tórax e um check-up rápido, cardiológico e pulmonar, assim possibilitando melhor classificação da situação e definição do tratamento.

O tratamento pode ser apenas fisioterápico, algumas vezes pode ser indicado o uso de coletes, e em casos mais selecionados o tratamento cirúrgico será a melhor opção. Como sempre o mais importante é o diagnóstico correto, a partir dele que saberemos o que fazer e assim evitaremos problemas maiores no futuro.

Hoje em dia, na maior parte dos Péctus Excavatum, o tratamento cirúrgico pode ser realizado por vídeo cirurgia, o que facilitou bastante o procedimento, transformando uma cirurgia que era demorada em um procedimento que leva, em média, uma hora.

Pré e pós-operatório de uma vídeo correção pela técnica de NUSS. | Foto Divulgação

 

Deformidades Adquiridas

As deformidades podem se relacionar ao trauma acidental, onde encontramos as fraturas das costelas, do osso esterno e das estruturas associadas.

Aquelas que são geradas pelos movimentos repetitivos são as mesmas em que a Síndrome do Desfiladeiro Torácico aparece, podendo gerar dor, mudança de cor e formigamento dos membros superiores.

Os acidentes automobilísticos e quedas, em geral, podem gerar fraturas costais, que por muito tempo foram deixadas sem tratamento à margem de uma cicatrização espontânea, mesmo que isto pudesse aumentar muito o tempo de internação ou retardar e até inviabilizar o retorno as suas atividades normais.

Felizmente nos dias atuais existem serviços de trauma que não deixam mais estes casos sem tratamento, nós em Jaraguá do Sul fomos pioneiros em Santa Catarina, no tratamento cirúrgico de fixação destas fraturas.

Os critérios mais conhecidos para a indicação da fixação são aqueles em que o paciente está com o tórax instável devido a múltiplas fraturas e com necessidade de ventilação mecânica em UTI. Já os critérios mais modernos se baseiam em dor de difícil tratamento em fraturas com três ou mais arcos, fraturas muitos desviadas, presença de algum fragmento ósseo que esteja dentro do espaço pulmonar e não consolidação da fratura após 2 a 3 meses do trauma.

A possibilidade de organizar a estrutura para que a qualidade de vida seja a mais próxima possível daquela antes do trauma é o grande objetivo do tratamento atual.

Existem pacientes que tiveram alta hospitalar, e a dor não melhorou após três meses em casa, nestes casos pode ocorrer uma falsa consolidação. Em todos os casos, a fixação dos arcos costais vai proporcionar a estabilidade imediata após a cirurgia, gerando uma melhora da dor na maioria dos casos e, principalmente, o tórax voltará a ter a sua forma normal.

Isto faz a diferença na reintegração destas vítimas à sua rotina pré acidente. Hoje, as técnicas buscam sempre o uso de materiais minimamente invasivos, usando sempre que possível a vídeo cirurgia como suporte.

Síndrome do desfiladeiro torácico

A Síndrome do desfiladeiro torácico acontece porque os vasos arteriais, os venosos e os nervos, para chegarem até o braço precisam passar no meio de estruturas torácicas, que seriam, os músculos escalenos, a primeira costela e a clavícula. Algumas vezes existem pontos que geram uma obstrução.

Esta obstrução geralmente é piorada com movimentos de elevação do braço envolvido ou a rotação do pescoço. Esta posição pode gerar compressão vascular, nervosa ou ambas.

Os sintomas e sinais mais comuns são: o formigamento do braço, do ante braço e da mão; o adormecimento frequente destas regiões; a dor crescente em determinadas posições; a falta de força e a mudança da coloração do membro superior, geralmente para tons vermelhos ou mais arrochados.

O tratamento pode variar desde medicações e fisioterapia, até a realização de tratamento cirúrgico, que visa ampliar o espaço onde está a compressão.

Normalmente, a liberação ocorre retirando a primeira costela e um segmento dos músculos escalenos. Os principais exames são: o ecodopler de vasos subclávios, angio tomografia e a eletromiografia. A cirurgia é feita geralmente pela técnica aberta, mas uma ótima opção é a realização da mesma cirurgia por vídeo toracoscopia. Particularmente, prefiro usar a vídeo cirurgia.

Por fim, o resultado compressivo será desfeito imediatamente após a cirurgia.

Algumas complicações, como a trombose do vaso, pode ocorrer quando o tratamento não é instituído, e a compressão vascular permanece por mais tempo, exemplo, durante o sono, sendo preocupante. O mais importante como sempre é diagnosticar perfeitamente.

Autor

M.e Giovani W. Mezzalira, colunista do caderno especial Vida Saudável.
Mestre em Cirurgia Torácica
CRM: 8611 SC
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