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Violência contra a mulher é debatida pela União Brasileira de Mulheres de Jaraguá do Sul

Foto Adilson Amorim/OCP News

Por: Elissandro Sutil

30/07/2020 - 10:07

“Eu passei por várias dificuldades na vida, mas a pior delas foi com o meu relacionamento. Era um príncipe que virou sapo. Convivemos por 23 anos, durante esse tempo tudo o que ele fez foi tirar a minha autoestima, minha dignidade. Na rua eu era forçada a andar de mãos dadas com ele, mas dentro de casa ele era um monstro.”

Esse é o relato da jaraguaense Silvana*, que por 23 anos sofreu violência física, moral, sexual, econômica e psicológica por parte do marido.

Assim como ela, centenas de mulheres já passaram por situações similares em relacionamentos abusivos.

Recentemente, o fundamental isolamento social tem contribuído para enfatizar ainda mais este que ainda é um dos principais problemas de segurança pública em Jaraguá do Sul, cuja metade da população (71.322) é constituída por mulheres, de acordo com dados de 2019 do IBGE.

Entre 19 de março e 31 de maio de 2020, o Juizado Especial Cível da Comarca de Jaraguá do Sul registrou 53 processos e inquéritos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher, 51 pedidos de medidas protetivas e 48 medidas deferidas.

Em Santa Catarina, de março a maio, foram 2.736 processos e inquéritos envolvendo violência doméstica e familiar, 2.134 medidas protetivas deferidas e 7 feminicídios consumados.

Medidas protetivas

As medidas protetivas visam coibir a violência e proteger as vítimas, sendo uma das garantias do combate à violência contra a mulher após a Lei nº 11.340/2006, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha.

Mas, segundo Sandra Maciel, membro do Movimento de Consciência Negra do Vale do Itapocu e da União Brasileira de Mulheres (UBM), é essencial que após ser deferida a medida protetiva, busquem-se mecanismos para proteger a integridade física da vítima.

“Muitas vezes, a mulher é assassinada com a medida protetiva na bolsa. Isso é um dado muito sério. A mulher denuncia, passa pelo tribunal e o juiz dá a medida protetiva. Mas, o agressor se aproxima e mata ela com a medida protetiva dentro da bolsa. “, comenta Sandra.

“Falta, muitas vezes, os braços de proteção para colocar a mulher em um lugar seguro”, completa.

Desigualdade, machismo e educação

Vera Lucia Freitas, membro da União Brasileira de Mulheres de Jaraguá do Sul | Foto: Adilson Amorim/OCP News

A desigualdade de gênero é histórica nas sociedades orientais e ocidentais, onde mulheres eram subalternizadas e vistas como inferiores aos homens. Crenças religiosas legitimavam essa perspectiva.

O machismo, preconceito expresso por opiniões e atitudes e que se opõe à igualdade de gênero, favorece o masculino em oposição ao feminino. Um sentimento que está impregnado na cultura popular, que muitas vezes dificulta que a própria mulher perceba que é vítima de relacionamentos abusivos.

“Nós viemos dessa cultura patriarcal e machista, e a gente não percebe que estamos dentro dela e reproduzindo esse machismo”, reflete Vera Lucia Freitas, membro da UBM de Jaraguá do Sul.

“Até os 14 anos eu achava normal o homem bater na mulher, porque meu pai batia na minha mãe, meu irmão me batia e eu entendia que eu iria ter um marido que iria me bater. Quando eu tive uma experiência de outra realidade trabalhando em casas de famílias, eu percebi que aquilo era o que acontecia na minha casa”, complementa.

Mais de 500 casos de violência por hora

Membro da União Brasileira de Mulheres, Mariana Franco | Adilson Amorim/OCP News

O machismo estrutural é um fator preponderante na violência sofrida pela mulher. A sociedade brasileira foi estabelecida em estereótipos de gênero que dificultam a conquista pela igualdade, um direito fundamental e garantido na Constituição Federal.

É essencial que se discuta a masculinidade tóxica como principal causa da violência doméstica e da desigualdade de gênero.

De acordo com levantamento feito pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), só no Brasil são registrados 536 casos de violência doméstica por hora. 76,4% das mulheres conheciam o autor da violência e a maior parte aconteceu dentro de casa.

Muitas mulheres deixam de denunciar o agressor e, segundo Mariana Franco, também da UBM, isso está relacionado ao núcleo familiar.

“Para mim, é tudo relacionado a fatores intrafamiliares, onde a própria família não deixa esse assunto se expandir na sociedade, apenas por pensamentos do que o outro vai falar da minha família, o que o outro vai pensar de mim”, expõe.

Medo de denunciar

Membro União Brasileira de Mulheres de Jaraguá do Sul, Marisa Behrend | Foto Adilson Amorim/OCP News

A professora Marisa Behrend ressalta o medo como impedimento para muitas mulheres denunciarem violências sofridas. Ela alerta para a importância da escola na discussão da temática.

“A educação é o que vai ajudar. Muitas mulheres têm medo de se expor na sociedade, medo de se expor com a família, medo de não ter para onde ir, ‘quem é que vai me acolher?’. Se tiver filho, o problema é ainda pior”, enfatiza.

Maris diz que se sozinha é difícil, junto com mais um, dois ou três [filhos] é ainda pior. “Temos certeza que os números de violência em Jaraguá do Sul são muito maiores, porque muitas mulheres têm medo de denunciar, e muitas que denunciam depois voltam atrás e não querem ir adiante”, avalia.

A professora acredita que por meio da edução é possível detalhar melhor o assunto.

“Eu sou uma professa que gosta muito de fazer roda de conversa, e as vezes nem os próprios meninos entendem que aquilo que estão fazendo é violência. Então, tem essa coisa de dentro da educação a gente mostrar detalhes. É algo que tem que ser construído desde pequeno, e a escola é importante nesse processo. Um pai machista não vai explicar para o filho ou para a filha o que é machismo.”, acrescenta.

Consciência feminina

Para Sandra Maciel, o aumento no número de denúncias se dá hoje pelo entendimento das mulheres do problema que elas enfrentam na sociedade, e que o nível educacional serve de munição.

Ela ressalta que engana-se quem acredita que só as mulheres pobres que sofrem a violência.

“São todos os níveis sociais que sofrem. Vai muito do nível educacional e de como a gente prepara a mulher hoje para enfrentar o patriarcado que Simone de Beauvoir já falava. E os nossos homens nem sabem o que é patriarcado, mas existe e está muito bem alicerçado”, aponta.

O patriarcado é um sistema constituído por relação de poder, uma autoridade imposta ao homem e que o coloca acima das mulheres no ambiente domiciliar e outras organizações sociais, como política, cultura e produção, ou seja, é uma formação social em que homens detêm o poder.

*O nome foi mudado para preservar a identidade da vítima.

Confira a reportagem ‘Por elas’ da OCP TV:

Part. 1

Part.2

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP