As polícias Civil e Científica realizaram uma coletiva para dar detalhes sobre um caso que chocou Santa Catarina. O ataque ao Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, ocorreu no último dia 5 e terminou com quatro crianças mortas e outras cinco feridas. A coletiva ocorreu na Acadepol (Academia de Polícia Civil), em Florianópolis, na tarde desta segunda-feira (17).
Segundo o delegado Ronnie Esteves, coordenador da DIC (Divisão de Investigação Criminal) de Blumenau, o autor se apresentou no 10º Batalhão de Polícia Militar após o crime. Depois, ele foi conduzido para a delegacia e autuado em flagrante. O inquérito aponta toda a rotina do criminoso, do momento em que ele acorda até ser preso.
Naquele dia, ele passou por outras duas escolas, mas não tentou invadir porque os muros eram muito altos. Esteves aponta que o autor se manteve frio mesmo após uma semana do atentado.
“Ao ser questionado sobre o sentimento sobre o que tinha feito, ele se mostrou frio. Ele disse como fez, disse também não se arrependia e disse que faria de novo. Foi exatamente isso que ele falou em depoimento. Eu perguntei se ele tinha condições de retornar ao convívio social, e ele respondeu que, se ele quisesse, o faria”, destaca.
“Eu perguntei o porquê ele escolheu crianças, perguntei porque não entrou em um batalhão. Ele disse que não entraria num batalhão sem uma arma longa, um fuzil, e sem colete. Porque, para morrer, ele precisaria levar mais gente com ele. Quando eu perguntei das crianças tão vulneráveis e tão indefesas, ele disse que as crianças eram mais fáceis, porque as crianças correm devagar e ele teria, caso isso acontecesse, condições de alcançá-las”, completa.
No depoimento, ele narra que uma das crianças correu dele e riu achando que era uma brincadeira. Então, ele acabou atingindo essa criança fatalmente. O delegado ressalta que é uma pessoa que não tem condições de conviver em sociedade e que nenhuma punição será suficiente para reparar o crime.
“Não houve motivo nenhum para ele cometer esse crime. Ele era uma pessoa antes da droga e se tornou esse monstro a partir do momento em que começou a usar cocaína.
Uso de cocaína
Esteves conta que o assassino trabalhou como motorista de aplicativo e começou a ter contato com drogas. Após iniciar o uso de cocaína, o comportamento dele começou a mudar. Em um episódio relatado pela mãe, o autor começou teve alucinações com barulhos no forro da casa. Em outra situação, chegou correndo e casa e disse que estava sendo perseguido.
O uso do entorpecente começou a interferir no relacionamento da mãe com o padrasto. O autor chegou para a mãe e falou que o padrasto entrou no quarto, a mãe falou que era impossível por estar chaveado, e implantou um chip no olho dele. Com a constatação da do uso da droga, o padrasto pediu para ele não morar mais com eles.
“Um tio chamou ele para morar e fica 30 dias. Então, ele volta para a residência da mãe e encontra o padrasto na cozinha. Ele dá bom dia. Vai até a sala, fala com a mãe, retorna com um canivete e desfere um golpe no pescoço do padrasto. Quando a vítima caiu, ele ainda desferiu um golpe no rim e outro na axila”, conta o delegado.
Tentativa de incriminar PM
O autor chegou a ir para uma clínica de reabilitação, mas acabou continuando o uso de entorpecentes após sair. Para sustentar o vício, passou a traficar a droga. Na cabeça do assassino, ele era perseguido pelo padrasto, que já havia se separado da mãe, e se sentia incomodado com a polícia.
“Tanto que ele aponta que um policial militar, que existe, seria o mandante do atentado. Amigos relataram essas alucinações e essa cisma que ele tinha com relação à polícia e ao padrasto. Duas semanas antes do fato, e ele teria se reunido com um amigo em uma praça. Ele falou sobre isso, sobre a machadinha, sobre o padrasto, sobre o policial e disse que faria algo grande”, conta.
Esteves destaca que o autor fez academia por um curto período de tempo no mesmo local em que o PM treina. Segundo o delegado, o policial militar foi ouvido e relatou nunca teve contato com o homem que assassinou as crianças.
“Segundo o amigo, ele tinha uma admiração pelo policial militar. Por ele ser competidor [de jiu jitsu]. Então ele pode ter criado na cabeça essa imagem. A partir do momento que começa a usar droga e vender, ele busca afastar pessoas que levassem a frente essa vontade de consumo e de venda. Quando ele começou a usar droga, a gente pensa que ele achou que o policial poderia fazer algo contra ele”, frisa.
O autor foi ouvido com a presença de uma psicóloga policial e, em um momento de estresse, confessou que não foi coagido pelo PM para praticar o ato. Ele teria feito aquilo para mostrar que também era corajoso.
“Na cabeça dele, foi um ato de coragem aquilo que ele fez. Ele, inclusive, diz que poucas pessoas fariam o que fez. Não foi a questão do policial ter ameaçado, ele volta atrás e desmente isso”, destaca o delegado.