Por Adrieli Evarini

Um vídeo de protesto. É assim que Alexandre Lisboa, radialista e tio da criança, define as imagens que estão sendo compartilhadas e divulgadas nas redes sociais. Para ele, o questionamento continua sendo o mesmo indagado no vídeo. “Que valor tem uma vida para essas pessoas? Quem é o responsável?”, pergunta.

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Alexandre é tio de Heloísa Matias Lisboa, uma garotinha de um ano e 20 dias que morreu no fim de semana passado em Joinville. Para ele, a sobrinha foi vítima de negligência. Ela deu entrada no hospital da cidade de Mafra com suspeita de pneumonia. O caso era considerado grave e a transferência para o Hospital Infantil de Joinville deveria ser realizada imediatamente. E foi aí que iniciou o drama da família, na noite de quinta-feira (8).

A ambulância disponível na cidade não poderia realizar a transferência. O motivo? Falta de combustível e, segundo os responsáveis, nem pais, nem familiares, nem médicos poderiam colaborar abastecendo a unidade, como foi cogitado, pois não existe autorização para tal. Uma ambulância de Rio Negrinho se disponibilizou a realizar a transferência, mas o médico plantonista não estava presente e as transferências em casos como este, só podem ser realizadas com a presença de toda a equipe.

Com o tempo passando, uma ambulância de Canoinhas se dispôs a realizar parte do trajeto. A transferência completa seria impossível, pois assim como a ambulância de Mafra, a unidade da cidade vizinha só conseguiria realizar o trajeto até a cidade de Rio Negrinho, pelo mesmo motivo: falta de combustível. “O desespero tomando conta do meu irmão, ele aceitou”, conta.

Mais uma unidade se envolveu no drama da família e, de Jaraguá do Sul, chegou mais uma ambulância para completar o trajeto que, normalmente levaria cerca de duas horas e meia de viagem. O desespero ficou ainda maior. Enquanto a transferência de uma ambulância para a outra acontecia – segundo o tio, esse procedimento levou uma hora para ser concluído – a criança sofreu três paradas cardiorrespiratórias. A garotinha só chegou em Joinville por volta das 2h30 de sexta-feira (9) e morreu no início da tarde de sábado (10).

Ele conta que o irmão já realizou o boletim de ocorrência relatando todos os momentos do fim de semana. Além disso, ele deve solicitar os prontuários dos hospitais de Mafra e Joinville para anexar a uma ação judicial que deve ser movida para apurar o que aconteceu e quem são os responsáveis. “É uma indignação. Não é só porque se trata da minha sobrinha, é pelo descaso do governo estadual, pela falta de repasse de verba, falta de humanidade na hora do atendimento”, lamenta, sem falar na enorme burocracia que não permite que alguém possa abastecer um veículo para salvar uma vida.

Segundo a assessoria do Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, a central de regulação de leito é informada a respeito da disponibilidade de leitos e distribui as vagas conforme a necessidade. Eles esclarecem ainda que a responsabilidade sobre a transferência de pacientes é do hospital de origem. O hospital confirmou ainda que a causa da morte da pequena Heloísa foi as paradas cardiorrespiratórias que ela teria sofrido dentro da unidade hospitalar no período em que esteve internada.

A Secretaria de Estado da Saúde esclarece que a responsável pela gestão do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, é a SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), organização social contratada para gerir o serviço.

Segundo assessoria da secretaria, na tarde desta quarta-feira (13) o secretário Vicente Caropreso, exigiu a instauração de uma comissão para investigar e apurar os fatos ocorridos entre os dias 8 e 9 de junho em Mafra. O prazo legal é de 60 dias, mas a comissão deve concluir a investigação em tempo menor que o estipulado. O secretário não se manifestou sobre a burocracia que supostamente matou Heloísa.

A reportagem do OCP tentou entrar em contato com a SPDM, responsável pela gestão do Samu, mas não obteve sucesso.