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Polícia Civil prende jovem neonazista em Porto Belo

Foto: Polícia Civil/Divulgação

Por: Claudio Costa

17/03/2023 - 13:03

Agentes da Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais) prenderam um jovem neonazista em Porto Belo.

O policiais civis cumpriram o mandado de prisão contra o alvo na manhã desta sexta-feira (17).

O extremista fazia apologia ao nazismo disseminando ódio contra negros e judeus na internet.

As investigações revelaram os crimes raciais e de apologia ao nazismo praticados pelo indiciado.

O inquérito também apontou a inclinação do jovem ao extremismo, visto que a todo momento procurava, consumia e difundia conteúdo de ódio, demonstrando especial interesse por “ataques terroristas de lobo solitário”.

Após a diligência, o preso foi encaminhado ao Presídio Regional de Tijucas.

Segundo a Polícia Civil, o jovem já havia sido alvo de mandado de busca e apreensão no dia 11 de agosto de 2022.

Na ação, o policiais civis apreenderam na residência dele equipamentos computacionais portáteis para análise. Porém, mesmo após isso, voltou a delinquir.

Ele também responde pela prática de crime de “stalking” contra uma adolescente no Estado do Paraná.

Encerradas as investigações, o indiciado já foi denunciado pela 40ª Promotoria de Justiça da Capital.

Entenda o caso

O jovem indiciado é um produto do mais recente modelo de recrutamento de grupos neonazistas.

Segundo a Polícia Civil, ele é, sem qualquer dúvida e pela própria admissão, um neoazista.

Mas o caminho que esse rapaz fez para se tornar quem é deve ser conhecido pelo Brasil, porque é hoje o modelo de recrutamento mais usado por extremistas.

Como muitos adolescentes, o indiciado era viciado em Playstation.

O que muitos pais ignoram ou desprezam é que esses jogos eletrônicos permitem conversas em grupo enquanto acontecem. É aí que entram os nenoazistas.

Eles formam pequenos grupos de hábeis jogadores que, eventualmente, permitem que um outro jogador participe de seus jogos.

São jogadores muito novos, pré-adolescentes ou adolescentes. Sempre meninos.

Quando o grupo neonazista consegue seu potencial novo membro no jogo, os membros começam a destilar piadas racistas, antissemitas, misóginas, homofóbicas nos chats.

Os jogadores riem das piadas e escalam as crueldades nos comentários.

Deixam claro que, para ser parte do grupo de jogadores bacanas, racismo, antissemitismo, misoginia, homofobia é lugar-comum, é o aceitável.

O inimigo é todo aquele que contrapõe a sua ideologia, que não possui características daqueles que consideram guerreiros históricos para a raça ariana, como os viquingues e nazistas.

Quando esse discurso é normalizado, entra a segunda parte do recrutamento, que é transformar o menino num “LARP”, que vem de Live Action Role Playing, termo sequestrado dos jogos RPG.

Em português mal traduzido, seria um “brincar de atuar ao vivo”.

O recruta é convidado a ser um LARP em redes sociais, a brincar de ser nazista. Neonazismo não é brincadeira, quando o recruta aceita, ele já não é mais um recruta, é um neonazista

O papel do LARP é horrorizar a todos, focando o seu ódio contra os grupos vulneráveis. Quanto pior, mais violento, mais nojento for o conteúdo da rede social do LARP, mais bem sucedido ele é.

O objetivo, que o próprio LARP não sabe, é anestesiá-lo ao horror, fazer com que ele aceite, divulgue e, com o tempo, sinta prazer em propagandear todo tipo de imagem ou discurso de extrema violência.

Não é raro descobrir no computadores desses rapazes imagens de pedofilia e zoofilia.

Elas são enviadas pelos mentores “neonazi” para que os LARPS publiquem em redes sociais.

Os recrutadores, também não raramente, são pedófilos. Por isso, a facilidade de conseguir esses vídeos.

Então, além de vídeos de Hitler, imagens de fascistas, discurso de supremacia branca, a rede social do LARP vai também ter outros horrores.

Anestesiado ao horror, ele vai começar a replicar esse horror na vida real.

Histórico de violência

O jovem indiciado possui em seu histórico criminal casos de violência na escola, quando era adolescente.

Ele realizava publicações racistas e antissemitas há vários anos.

Enquanto adolescente, foi registrado um caso em que o investigado agrediu uma professora com um soco na boca dentro da sala de aula.

Outro fato relatado daquela época é que o investigado não aceitava ter aulas com um professor negro.

A primeira conta dele a alcançar “fama” como LARP foi de 2020, quando ele tinha 16 anos. Foi combatido, denunciado e ficou conhecido no Twitter como nazista.

Ele sempre voltava alguns meses depois, sempre escalando em violência.

Ele, como LARP, foi extremamente eficient, fez exatamente o que seus recrutadores esperavam.

Os recrutadores, desde 2020, também “brincavam” de expor o recrutado.

O chamavam de “pardo”, mostravam fotos do recruta e de seus cabelos crespos.

Isso também não é por acaso, pois são os neonazistas lembrando que o rapaz ainda não é bom o suficiente para ser integrado entre os verdadeiros arianos, ainda é um “pardo”.

Com o lembrete, o jovem recruta escalava em violência, ele precisava ser um melhor neonazista para ser aceito. Precisava ser pior.

O jovem indiciado tem ascendência árabe. Nas redes sociais trocou o sobrenome do meio, português, por Carlotto, para ter alguma herança italiana, nem que fosse fictícia.

“A prisão do jovem indiciado tem um efeito colateral pedagógico e preventivo. Hoje ele não é inocente. Nem por um segundo. Foram escolhas que ele fez em nome da vaidade, para ser reconhecido como um diligente neonazista. O pedagogismo advém de conhecer o caminho dele e impedir que outras crianças sigam essa mesma jornada. Os recrutadores do jovem indiciado devem estar extremamente satisfeitos com o sucesso do produto que criaram”, informa a Polícia Civil em nota.

“Devem usar a prisão dele como forma de transformá-lo em herói da causa. O que eles ignoram, é que o caso de sucesso deles, também vai ser a queda da bolha em que eles se encontram. Eles se imaginam ainda anônimos nos chats de Discord, Telegram e no Playstation. Acham, com arrogância, que seus passos não são acompanhados. A repressão às condutas do jovem indiciado é o começo de uma repressão contra toda uma bolha neonazista. É uma lição que não tem nada de agradável em ser aprendida, mas que precisa ser ensinada. Em toda casa. Em toda escola, em todo o Brasil”, completa.

 

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Claudio Costa

Jornalista pós-graduado em investigação criminal e psicologia forense, perícia criminal, marketing digital e pós-graduando em inteligência artificial.