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Pó de corretivo: Novo desafio da internet que simula tráfico de cocaína deixa pais em alerta

Por: OCP News Criciúma

13/04/2022 - 19:04 - Atualizada em: 13/04/2022 - 19:26

De tempos em tempos, surgem as chamadas “trends” — modinhas que viralizam nas redes sociais. Algumas são inofensivas e até divertidas, como as dancinhas. Mas outras podem trazer consequências graves e até levar à morte, como é o caso do “desafio do apagão”, “baleia azul”, quebra-crânio, ou das esferas magnéticas. Agora, a “onda” da vez é a “trend do corretivo”, em que os estudantes usam o pó corretivo líquido para simular a produção e venda de drogas.

“Eu fazendo isso todo dia KKKKKK”, escreveu um estudante nos comentários.

“Também faço (risos)”, disse outro.

“Os moleques lá da escola fazem também. Eu sou do 7°”, disse mais um.

São centenas de vídeos no Tik Tok, de diferente estados brasileiros, em que os alunos aparecem mostrando o passo a passo da “produção do pó”, simulando o tráfico de drogas. O maior desafio é não ser flagrado pelos professores em sala de aula.

Mas a brincadeira vai além da produção. Muitos têm, inclusive, cheirado o pó. Em um vídeo, uma estudante faz um relato de uma das experiências em sua sala de aula. Nos comentários, ela explicou o que aconteceu depois.

“Então mano, eu jurava que ia dar ruim, sorte que não deu em nada. A mulher [professora] só pegou meu corretivo e levou o menino ao banheiro porque entrou corretivo no nariz”, disse.

“O pior é que entrou no nariz dele e ele ficou chorando com o olho vermelho”, completou.

Um estudante comenta:

“Eu não entendo esse negócio”.

E a mesma aluna responde:

“É que na série Euphoria isso é considerado uma droga”.

Em seguida, outro comenta:

“Na minha escola todo mundo tá fazendo. A polícia foi parar lá”.

Euphoria é uma série de TV norte-americana transmitida originalmente pela HBO, uma adaptação da série original israelense. A história acompanha um grupo de estudantes do ensino médio que vivem experiências com drogas, sexo, trauma e mídias sociais.

“Na minha escola um monte já foi suspenso”, contou uma.

“Esse negócio do corretivo também tão vendendo lá na aula por 2 conto [reais] o pacote”, disse mais um.

“Eu cheirei na frente do meu professor e ele riu de mim”, revelou um menino.

Não só adolescentes

O problema já chegou até as salas de aulas dos pequenos. A mãe de uma criança de 11 anos da Grande São Paulo, disse, em entrevista à CRESCER, que o trend do corretivo já foi visto na escola do filho.

“A gente teve uma reunião de todos os sextos anos essa semana, e um pai comentou sobre um vídeo dos alunos fazendo o pó de corretivo, imitando aquela cena horrenda de utilização de drogas. Foi assim que fiquei sabendo que já estava na escola. Conversei com meu filho, expliquei que era algo que fazia muito mal, que se tratava de uma brincadeira sem graça e ele não deveria cair na onda de todo mundo”, disse a mãe, que prefere não ter a identidade revelada.

“Segundo a diretora, os alunos estão vidrados no Tik Tok. Ela disse que se os pais querem fazer algo pelos filhos, que proíbam o uso do aplicativo. Alguns acharam um absurdo falar em proibição, outros concordaram. Mas o fato é que as coisas estão caminhando para um lado muito errado. Eu tenho muito medo, sim, justamente dessa curiosidade. É uma idade que temos que estar de olho e, infelizmente, alguns amigos acabam induzindo os outros a entrarem na onda, caso contrário, acaba criando aquela situação de bullying e de exclusão”, refletiu.

“Nós, pais, cobramos e questionamos a escola. Os nomes dos alunos foram apontados e disseram que seria investigado. A partir do momento que o aluno está dentro da escola, a escola também tem que contribuir. Os pais, sozinhos, não conseguem descobrir o que está acontecendo. Por mais que a gente converse e explique, não sabemos o que eles conversam. A pandemia potencializou o uso da internet e agora temos que trabalhar da melhor forma para minimizar essas consequências”, afirmou.

Risco de intoxicação

O otorrinolaringologista Manoel de Nóbrega, secretário do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), explica que na composição, o corretivo líquido possui dióxido de titânio, que é o que dá a coloração branca; o etanol, que funciona como solvente e faz a secagem rápida; os polímeros, que dão a consistência; e os dispersantes, para manter a mistura uniforme.

“Então, o ‘branquinho’, quando inalado pelo nariz, causa irritação na mucosa, sensação de incômodo, dor e queimação. Pode causar ainda sangramento e, inclusive, até lesão no bulbo olfatório, que são as células responsáveis pelo olfato, levando a perda temporária ou mesmo permanente do olfato e, consequentemente, do paladar. Ainda há a possibilidade de causar ou exacerbar os quadros de rinite alérgica e, eventualmente, dependendo da quantidade, uma intoxicação. O nariz é muito efetivo em filtrar partículas, mas quando é inalada uma quantidade significativa de uma substância, a mesma pode chegar ao pulmão, causando uma pneumonia”, alertou.

Caso a criança ou adolescente já tenha inalado a substância, o médico orienta a fazer, primeiramente, uma lavagem nasal.

“A lavagem nasal com soro já ajuda na remoção de parte das partículas, mas, posteriormente, deve-se buscar atendimento médico”, disse.

E o especialista ainda faz uma provocação.

“Como pais, devemos sempre nos perguntar: qual será o próximo desafio? Infelizmente, esse não é o primeiro e não será o último. Temos que refletir e, principalmente, estar sempre vigilantes. Nesse caso, crianças e adolescentes estão simulando o consumo de uma droga altamente letal, que é a cocaína. É a banalização de um vício, e um vício que mata. Quando não mata, destrói famílias, relações, cria dependências e eles não têm ideia dos riscos que estão correndo. Muitos, inclusive, podem achar que os efeitos da cocaína são semelhantes aos do ‘branquinho'”, afirmou.

“Precisamos repensar o papel dos aplicativos. Os vídeos só poderiam ser publicados por menores de idade com a autorização expressa dos pais. Se a legislação não mudar, crianças e adolescentes estarão sempre sendo vítimas desse tipo de ocorrência”, completou.

Como conversar com os filhos?

Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, presidente do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina, o pó, isto é, a substância usada nesse novo modismo é secundário nessa questão.

“O que é mais grave é a atitude. O que os adultos devem se questionar é: por que esses jovens e crianças estão precisando fazer coisas que chamem atenção e que despertam a sensação de estar burlando uma regra e provocando uma censura? Sempre existiram modas, até mais graves do que essa, mas o que precisamos tentar entender é a necessidade de serem reconhecidos, serem validados como pessoas”, alertou.

“Isso é parte de um todo que não está sendo identificado”, completou.

A orientação é que os pais dialoguem com os filhos.

“Esse é um sinal, um aviso importante de que algo precisa ser feito para que não se evolua para outras práticas. Mas é importante salientar que dialogar significa, também, escutar o que o outro tem a dizer, com a possibilidade de o adulto mudar de opinião em relação a algo que o adolescente ou a criança fala. Os pais precisam estar abertos. Eles não devem apenas falar, mas também ouvir e, principalmente, pensar sobre o que o filho diz”, orientou.

Caso tenham dificuldade na conversa, os pais, segundo o especialista, não devem desistir.

Fotos: Reprodução Tik Tok

“Busquem aconselhamento de pais, mesmo que sejam na escola, para identificar quais outros fatores estão ocorrendo”, afirmou Wimer.

“O adulto, muitas vezes, já tem respostas prontas e, nesse caso, o filho desiste de dialogar”, alertou.

O que diz o Tik Tok

Por meio da assessoria de imprensa, o aplicativo Tik Tok se pronunciou sobre o assunto.

“O TikTok está comprometido com a segurança da nossa comunidade e removemos conteúdos e contas que violem nossas Diretrizes da Comunidade”, disseram.


Fonte: Revista CRESCER

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