A pastora presa em uma operação em Jaraguá do Sul estava na casa da filha. O mandado de prisão preventiva foi cumprido nesta quarta-feira (20), no Centro. Segundo o delegado titular da DIC (Divisão de Investigação Criminal), Caléu Henrique Gomes de Melo, a idosa, de 63 anos, era para ter sido presa inicialmente no Distrito Federal, onde as investigações estão em andamento. A Polícia Civil estima que cerca de 50 mil vítimas caíram no golpe.
Com a deflagração da Operação Falso Profeta, a Polícia Civil do DF verificou que a missionária estaria em Jaraguá do Sul. Policiais civis do Distrito Federal pediram apoio para a DIC de Jaraguá do Sul. A pastora foi localizada pelos agentes e, após o cumprimento do mandado, foi encaminhada para o Presídio Regional de Jaraguá do Sul.
A religiosa, que não teve o nome divulgado, é suspeita de ser uma das principais comparsas de um pastor que também foi alvo de mandado de prisão e é considerado foragido. A investigação aponta que os suspeitos formam uma rede criminosa no cometimento de diversos crimes como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionatos por meio de redes sociais.
O golpe consiste na conversa enganosa através de redes sociais (Youtube, Telegram, Instagram, Whatsapp), abusando da fé alheia, da crença religiosa e invocando de uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara”. Eles convenciam as as vítimas, na grande maioria evangélicas, a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.
Foi detectada, por exemplo, a promessa de que somente com um depósito (“aporte”) de R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de um octilhão de reais, ou mesmo “investir” R$ 2 mil para ganhar € 350 bilhões de centilhões. O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da federação.
De acordo com a investigação, iniciada há cerca de um ano, o grupo é composto por cerca de duzentos integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intitulados pastores. Eles induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “benção”, ou seja, as quantias milionárias.
Como instrumento da fraude, os investigados constituem pessoas jurídicas “fantasmas” e de fachada simulando ser instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital social declarado, através das quais as vítimas supostamente irão receber suas fortunas. Para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras.
A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156.000.000 nos últimos cinco anos. Também foram identificadas cerca de quarenta empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de oitocentas contas bancárias suspeitas.
Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu em Brasília um suspeito de envolvimento no esquema. Ele fez uso de documento falso perante uma agência bancária localizada na Asa Sul, simulando possuir um crédito de aproximadamente R$17 bilhões. Porém, mesmo após a prisão em flagrante desse indivíduo, à época o principal digital influencer da organização criminosa, o grupo continuou a aplicar golpes.
Nessa nova etapa da investigação, em que participaram cerca de cem policiais civis, foi realizado o cumprimento de mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e cinco estados – Goiás, Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Santa Catarina.
Também foram cumpridas medidas cautelares de bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e decisão judicial de proibição de utilização de redes sociais e mídias digitais.
Os alvos poderão responder, a depender de sua participação no esquema, pelo cometimento dos delitos de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.